Durante mais de 60 anos, a TARDIS foi tanto uma ferramenta narrativa para aventuras imprevisíveis em Doctor Who. Sempre que o Doutor pousava em um lugar errado ou em uma época inconveniente, a culpa era atribuída à falha de direção da nave. Essa limitação técnica fazia parte do charme da série e justificava a aleatoriedade dos roteiros ao longo das décadas.
Episódio apresenta um novo dispositivo que muda uma das premissas clássicas da TARDIS.
Mas a nova fase da produção parece disposta a brincar com as próprias regras. No segundo episódio da 2ª temporada, intitulado “Lux”, o Doutor, interpretado por Ncuti Gatwa, apresenta um artefato chamado Vindicator, que promete pousos programados com precissão. A aparente solução para um dos maiores “erros” de viagem no tempo da franquia se torna parte essencial da narrativa da temporada.
O Vindicator é apresentado como um dispositivo capaz de triangular a posição desejada no tempo e espaço, usando pousos aleatórios para refinar sua localização. Com isso, a TARDIS não apenas encontra destinos específicos, como também pode evitá-los com a mesma eficácia. Para uma série que sempre tratou a nave como uma entidade temperamental, isso muda completamente as regras do jogo.
No episódio, o aparelho é parte do plano do Doutor para descobrir o que ocorreu em uma data misteriosa: 24 de maio de 2025. Até agora, todos os esforços da equipe para acessar esse ponto específico do tempo falharam. O Vindicator surge, então, como uma possível chave para destravar esse segredo.
O contexto do episódio leva o Doutor e Belinda Chandra (Varada Sethu) para a Miami dos anos 1950. Além do choque cultural e da temática racial, a dupla encara a presença de Mister Ring-A-Ding, uma criatura animada com voz de Alan Cumming, que se revela parte de uma ordem de deuses caóticos.
A narrativa, por mais que contenha elementos cômicos e absurdos, utiliza a missão em Miami como pano de fundo para avançar a trama principal da temporada. Mister Ring-A-Ding é apenas mais uma peça do quebra-cabeça que envolve os deuses e a tal data inalcançável.
Apesar da relevância do Vindicator, é difícil acreditar que ele se torne um item permanente na mitologia da série. O charme de Doctor Who sempre esteve no improviso, nos erros de rota, nos acasos que levam o Doutor a encontros inesperados. Um sistema de navegação perfeito acabaria com a espinha dorsal da proposta da série.