
Os Vingadores não são o único supergrupo da Marvel, e agora outra equipe ganha destaque nos cinemas. Thunderbolts* reúne um conjunto inusitado de antagonistas e anti-heróis do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) para enfrentar uma ameaça mortal. A formação inclui Yelena Belova (Florence Pugh), Bucky Barnes (Sebastian Stan), Guardião Vermelho (David Harbour), Ghost (Hannah John-Kamen), U.S. Agente (Wyatt Russell) e Treinadora (Olga Kurylenko). É uma equipe sólida, sem dúvida, mas os cineastas tiveram uma vasta galeria de personagens interessantes para escolher ao montar essa versão dos Thunderbolts*.
Desde sua estreia em O Incrível Hulk, em 1996, dezenas de heróis e vilões já passaram pela equipe nos quadrinhos. Criados para preencher o vazio deixado pelos Vingadores após os eventos de Onslaught, os Thunderbolts* rapidamente se tornaram parte essencial de arcos importantes, como Guerra Civil e Reinado das Trevas. Uma das marcas registradas da equipe é justamente sua formação fluida, com membros entrando, saindo ou morrendo em serviço.
No filme, vemos apenas seis integrantes principais — sete, se contarmos a Condessa Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), que orquestra os bastidores. Naturalmente, a Marvel Studios precisou fazer cortes na seleção de personagens. Alguns nomes ficaram de fora por ainda não terem sido introduzidos no MCU, o que é compreensível do ponto de vista narrativo.
No entanto, certos personagens com trajetória consolidada nos quadrinhos e no universo cinematográfico poderiam ter sido incluídos. Suas presenças enriqueceriam o grupo e agregariam ainda mais complexidade à dinâmica da equipe. Fica a expectativa para futuras produções, que talvez tragam esses rostos conhecidos para a ação — afinal, como a própria história dos Thunderbolts* mostra, nada permanece igual por muito tempo.
Barão Zemo
Talvez a ausência mais controversa em Thunderbolts* seja a do Barão Helmut Zemo (Daniel Brühl). Pouco se fala sobre o fato de que, nos quadrinhos, Zemo foi o líder da formação original dos Thunderbolts*. Na ocasião, ele assumiu a identidade do heróico Cidadão V e reuniu uma equipe de vilões disfarçados de heróis, com o plano maquiavélico de conquistar a confiança do mundo — e, eventualmente, dominá-lo. No entanto, o plano fracassou quando seus companheiros passaram a gostar da sensação de fazer o bem e se voltaram contra ele.
Dentro do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), Zemo se consolidou como um dos vilões mais eficazes. Em Capitão América: Guerra Civil, ele desmantela os Vingadores ao expor segredos enterrados, causando uma ruptura profunda entre os heróis. Posteriormente, reaparece em Falcão e o Soldado Invernal, colaborando temporariamente com Sam Wilson (Anthony Mackie) e Bucky Barnes para deter os Flag Smashers. A série termina com Zemo encarcerado na Balsa, mas considerando a influência de Valentina, agora diretora da CIA, não seria absurdo imaginar que ela pudesse libertá-lo para integrar sua própria versão dos Thunderbolts.
Entretanto, o diretor do filme, Jake Schreier, revelou ao site Dexerto que Zemo nunca chegou a ser considerado para a trama. “É curioso, porque sei que há muitos fãs que esperavam algo mais próximo da primeira formação dos Thunderbolts*, com vilões fingindo ser heróis. Nosso filme pretende, de certa forma, prestar homenagem a essa ideia, mas sob uma perspectiva diferente”, explicou ele. No atual contexto do MCU, Bucky é claramente um herói, enquanto figuras como Ghost e Taskmaster são vilões em processo de redenção. Zemo, por outro lado, ainda se encaixa no papel de antagonista — o que talvez explicaria sua ausência no grupo. Afinal, é difícil imaginar que ele se entrosasse com essa nova equipe. Capitão América: Guerra Civil está na Disney+.
Gavião Arqueiro
Existe uma ideia recorrente — embora um tanto equivocada — de que os Thunderbolts* seriam a resposta da Marvel ao Esquadrão Suicida da DC. Embora ambos os grupos compartilhem a premissa de reunir personagens moralmente ambíguos, suas motivações e dinâmicas são bastante distintas. O Esquadrão Suicida é composto por vilões enviados em missões secretas sob controle governamental, muitas vezes com bombas implantadas como garantia de obediência. Já os Thunderbolts* têm uma proposta bem mais flexível: sua missão varia significativamente entre diferentes formações, e heróis também já integraram a equipe — como é o caso de Gavião Arqueiro em diversas versões.
Nos quadrinhos, Clint Barton, o Gavião Arqueiro, teve seus próprios atritos com a lei. Em Thunderbolts*, de Kurt Busiek e Mark Bagley, ele vê nos Thunderbolts* uma oportunidade de redenção — tanto para eles quanto para si mesmo. Após o fracasso do plano de Zemo, Barton decide se juntar à equipe, com o objetivo de monitorá-los e, eventualmente, fazer uma recomendação ao governo sobre o valor de mantê-los ativos.
No MCU, o Gavião Arqueiro interpretado por Jeremy Renner parece ter se aposentado. O desfecho da série Hawkeye, do Disney+, sugere que ele está focado na vida familiar, enquanto Kate Bishop (Hailee Steinfeld) assume o legado do nome. Ainda assim, Clint Barton conhece bem o peso de decisões questionáveis — vide sua fase sombria como Ronin em Vingadores: Ultimato. Isso poderia fazer dele alguém capaz de compreender e até mesmo simpatizar com anti-heróis em busca de redenção, o que o tornaria um candidato natural para liderar ou aconselhar uma equipe como os Thunderbolts*, caso ele decidisse retornar à ação. Gavião Arqueiro está na Disney+.
Norman Osborn
Tecnicamente, o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) ainda não apresentou sua própria versão do Duende Verde. Norman Osborn, interpretado por Willem Dafoe, apareceu em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, mas sua presença veio de outro universo — e ele foi devolvido ao seu mundo de origem ao final do filme. A mesma produção também deixa claro que a Oscorp sequer existe nesse universo, o que significa que o Norman Osborn do MCU, até agora, não é uma figura notável. Com isso, sua inclusão em um futuro projeto como Thunderbolts* se torna improvável — ao menos por ora — apesar de ele ter liderado a equipe nos quadrinhos em um de seus arcos mais icônicos.
Durante o evento Guerra Civil nas HQs, Norman se torna o líder nomeado pelo governo dos Thunderbolts* e começa a tomar medicação para manter sob controle sua instável persona como Duende Verde. Nessa fase, a equipe atua como força oficial encarregada de capturar qualquer super-humano que se recuse a se registrar sob a Lei de Registro Sobre-Humano. Os integrantes dos Thunderbolts* são monitorados por meio de nanoimplantes capazes de emitir descargas elétricas se desobedecerem ordens — o que, convenhamos, aproxima perigosamente o conceito da dinâmica do Esquadrão Suicida da DC.
Com Norman no comando, os Thunderbolts* adotam uma abordagem brutal: eliminam qualquer um que desafie o sistema e manipulam as filmagens dessas execuções para manter a aparência pública de heroísmo. Caso o MCU venha a introduzir sua própria versão de Norman Osborn em um futuro próximo — talvez em um eventual Homem-Aranha: Brand New Day —, seria interessante vê-lo desempenhar esse papel mais sombrio e manipulador. Ele poderia facilmente conduzir os Thunderbolts* por um caminho ainda mais sinistro em uma possível sequência, explorando de forma mais incisiva a linha tênue entre vigilância e tirania sob o disfarce do heroísmo. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa está na Netflix.
Luke Cage
Nos quadrinhos, Luke Cage liderou uma das formações mais distintas dos Thunderbolts* — e talvez uma das mais heroicas. Durante esse período, o grupo incluía ninguém menos que o Homem-Coisa, cuja ligação com o Nexus de Todas as Realidades permitia que a equipe se teletransportasse instantaneamente para qualquer lugar. A liderança de Cage marcou um rompimento claro com a versão mais sombria da equipe vista no arco de Guerra Civil. Seu objetivo era guiar esses indivíduos em direção a um caminho de redenção genuína, transformando a imagem pública dos Thunderbolts e afastando-os da sombra de seu passado como vilões a serviço do governo. Nesse sentido, a proposta de Thunderbolts* no MCU — focando em heróis caídos e vilões reformados — reflete fielmente esse espírito presente nas HQs.
Na tela, Luke Cage foi apresentado nos elogiados programas da Marvel na Netflix, sendo interpretado com carisma e intensidade por Mike Colter. Embora o personagem tenha sido deixado de lado desde então, rumores recentes indicam que seu retorno pode estar próximo, seja em Demolidor: Born Again ou até mesmo em Homem-Aranha: Brand New Day.
Curiosamente, nos quadrinhos, Cage chega a se tornar prefeito da cidade de Nova York. Caso o Wilson Fisk do MCU — atualmente nessa posição — venha a ser deposto em futuras temporadas de Demolidor: Born Again, seria plausível imaginar Cage assumindo o cargo como contraponto moral. Isso abriria caminho para que ele, assim como nas HQs, reassumisse o controle dos Thunderbolts — uma equipe que antes servia a Fisk, mas que, sob Cage, ganharia um novo propósito.
Mike Colter já expressou publicamente interesse em retornar ao papel, e com o MCU recuperando lentamente personagens das séries da Netflix, o momento parece propício. O palco pode estar sendo montado para uma reintrodução triunfal de Luke Cage — e com ela, uma nova direção para os Thunderbolts*. Luke Cage está na Disney+.
Deadpool
Deadpool & Wolverine superou todas as expectativas nas bilheterias, ultrapassando a impressionante marca de US$ 1 bilhão. Diante de um sucesso tão estrondoso, é natural que a Marvel queira trazer o Mercenário Tagarela de volta às telonas. A grande questão, porém, é: onde exatamente se encaixa um anti-herói que quebra a quarta parede em um universo cinematográfico conhecido por sua seriedade crescente? A resposta pode estar em inseri-lo em uma equipe — mais especificamente, nos Thunderbolts*.
Como o próprio Happy Hogan comenta em Deadpool & Wolverine, Wade Wilson talvez não seja a melhor escolha para os Vingadores, mas pode se encaixar perfeitamente nos Thunderbolts* — um grupo formado por personagens moralmente ambíguos e heróis problemáticos. Nos quadrinhos, Deadpool tanto enfrentou quanto integrou os Thunderbolts*. Durante o período em que Norman Osborn comandava a equipe, ele chegou a ordenar a execução de Deadpool, conseguindo inclusive decapitá-lo. Mas, como os fãs bem sabem, Deadpool nunca permanece morto por muito tempo.
Mais tarde, Wade acabou se juntando a uma nova formação dos Thunderbolts* sob a liderança do Hulk Vermelho, ao lado de nomes como Elektra, Justiceiro e Venom (Flash Thompson). Esse tipo de equipe, formada por personalidades explosivas e habilidades extremas, se mostra o terreno ideal para as loucuras de Deadpool.
Atualmente, o Deadpool vivido por Ryan Reynolds ainda pertence a um universo separado, onde também residem o Wolverine de Hugh Jackman e a X-23 de Dafne Keen. No entanto, com os eventos futuros de Vingadores: Dinastia Kang, Vingadores: Guerras Secretas e os desdobramentos do multiverso, múltiplas realidades podem colidir. Esse cenário abre a porta perfeita para que Deadpool seja incorporado ao Universo Cinematográfico Marvel principal — e sua entrada oficial nos Thunderbolts* poderia ser tão caótica quanto divertida. Deadpool & Wolverine está na Disney+.
Doutor Octopus
Assim como o Duende Verde, o Universo Cinematográfico Marvel ainda não apresentou sua própria versão do Doutor Octopus. A única aparição do personagem veio em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, com Alfred Molina reprisando o papel do multiverso — um aceno nostálgico para os fãs, mas ainda longe de estabelecer Otto Octavius como uma presença contínua no MCU. Considerando sua importância como um dos maiores vilões do Homem-Aranha, é apenas uma questão de tempo até que o verdadeiro Doc Ock da linha do tempo principal dê as caras — e, quando isso acontecer, os Thunderbolts* podem ser o palco ideal.
Nos quadrinhos, Otto se uniu aos Thunderbolts* em algumas ocasiões, mas sempre em seus próprios termos, com segundas intenções bem claras. Durante a saga Guerra Civil, por exemplo, ele auxilia a equipe a rastrear super-humanos não registrados — mas abandona a missão assim que a considera ineficaz para seus propósitos. Mais tarde, em Devil’s Reign, quando Wilson Fisk é prefeito de Nova York e decide caçar todos os vigilantes, Doc Ock se junta novamente à equipe, chegando a capturar ninguém menos que Reed Richards e Sue Storm, do Quarteto Fantástico.
Com seu intelecto brilhante e ego inflado, Octavius quase sempre acredita que sabe mais do que qualquer outra pessoa na sala. Essa postura naturalmente gera atritos em qualquer equipe da qual ele faça parte — sejam os Thunderbolts*, os Seis Sinistros ou os Mestres do Mal. Mas é exatamente essa tensão que torna sua presença tão interessante: com Doc Ock, o caos é garantido, e isso só torna a narrativa mais envolvente para o público.
Lady Letal
Thunderbolts* oferece um leque enorme de personagens com potencial para integrar suas fileiras — muitos já foram introduzidos no MCU, mas outros ainda aguardam sua estreia oficial. Um desses nomes é Yuriko Oyama, a implacável Lady Letal (Lady Deathstrike), uma samurai ciborgue com garras de adamantium. Interpretada por Kelly Hu em X-Men 2, ela faz uma breve participação especial em Deadpool & Wolverine, no Vazio, interpretada por Jade Lye. Ainda assim, o MCU não apresentou sua própria versão definitiva da personagem — o que deixa uma porta aberta para uma futura e mais proeminente aparição.
Nos quadrinhos, Lady Deathstrike é tão letal quanto icônica, e já fez parte dos Thunderbolts* em mais de uma ocasião. Durante os eventos de Guerra Civil, ela ficou do lado do Homem de Ferro contra o Capitão América — uma escolha que diz muito sobre a brutalidade da equipe montada por Tony Stark. Afinal, quando você alinha figuras como Bullseye e Deathstrike do seu lado, talvez seja hora de se perguntar se você ainda está realmente do lado dos “mocinhos”. Na batalha final, ela enfrentou tanto o Capitão quanto o Homem-Aranha, mas foi derrotada pelas forças de Namor.
Lady Deathstrike representa bem a dualidade dos Thunderbolts*: a equipe pode tanto abrigar heróis buscando redenção quanto indivíduos absolutamente implacáveis, movidos por seus próprios códigos de conduta. Ela é o retrato desse segundo grupo — fria, letal e disposta a fazer o que for preciso. Um reforço desses em futuras formações no MCU só tornaria os Thunderbolts* ainda mais perigosos — e fascinantes.
Hulk Vermelho
Para os não iniciados, pode parecer estranho que Hulk Vermelho (Thaddeus “Thunderbolt” Ross) — agora interpretado por Harrison Ford no MCU — não esteja envolvido diretamente com o grupo de anti-heróis Thunderbolts no filme Thunderbolts*. Afinal, o nome é praticamente o mesmo. Mas essa coincidência é exatamente isso: uma coincidência.
Na verdade, a primeira versão dos Thunderbolts nos quadrinhos foi formada por Helmut Zemo, e o nome da equipe nada tem a ver com o general Ross. Zemo o baseou em uma citação atribuída a Thomas Randolph: “A justiça, como um raio, deve sempre aparecer para a ruína de alguns homens, mas para o medo de todos os homens.” Curiosamente, não há evidência concreta de que Randolph tenha realmente dito isso, mas a citação se tornou uma espécie de justificativa poética para o nome da equipe — que remete ao impacto e imprevisibilidade de um relâmpago, não ao trovão ou a qualquer ligação direta com Ross.
Mais tarde, porém, o próprio Thaddeus Ross viria a liderar uma nova formação dos Thunderbolts* nos quadrinhos, já transformado no Hulk Vermelho. Essa versão da equipe era ainda mais implacável, reunindo figuras como Deadpool, Elektra, Justiceiro e Venom. Em Thunderbolts Vol. 2, Ross oferece sua própria explicação para o nome: “Atacaremos sem piedade, sem medo de retaliação, sem consideração por lealdade ou influência política. Iremos atingir como um raio atinge a terra.” Como Zemo, ele também usa a imagem do raio — o que, ironicamente, talvez fizesse de Lightning Bolts um nome mais adequado. Mas nesse ponto, já era tarde demais para mudar o branding.
O que isso mostra é que o nome Thunderbolts* carrega menos uma referência direta a personagens e mais uma ideia de força repentina, imparável e, muitas vezes, moralmente ambígua. Uma definição perfeita para uma equipe onde lealdade, redenção e brutalidade convivem lado a lado.
Eric O’Grady
Eric O’Grady seria uma adição ousada e refrescante ao MCU, especialmente se a Marvel quiser explorar um lado mais sombrio, sarcástico e politicamente questionável dos super-heróis. Nos quadrinhos, O’Grady é muito diferente de Scott Lang — enquanto Lang é um ladrão com bom coração tentando ser um pai melhor, O’Grady é egocêntrico, impulsivo e frequentemente motivado por desejos egoístas. Essa diferença o torna perfeito para os Thunderbolts*, um time conhecido por reunir indivíduos com moralidade ambígua.
A aparição de O’Grady em histórias envolvendo conspirações políticas e ações secretas, como na edição com Barack Obama e Norman Osborn, revela seu potencial para histórias cheias de tensão e espionagem. E considerando que o MCU já estabeleceu Yelena Belova e pode eventualmente introduzir Osborn, há espaço para essa trama acontecer. Se Scott Lang tiver um fim trágico em Vingadores: Doomsday, o caminho estaria aberto para alguém com um perfil mais ácido — e talvez cômico ao extremo — assumir o manto.
O título da HQ “The Irredeemable Ant-Man” já entrega tudo: esse não é um herói tradicional. E justamente por isso, ele pode ser a peça perfeita para uma equipe como os Thunderbolts*, onde nem todos os membros são, de fato, redimíveis.