Com um catálogo vasto e em constante crescimento, o Amazon Prime Video tem se consolidado como uma plataforma repleta de opções para todos os gostos. Embora muitos usuários recorram aos títulos mais populares, há uma série de produções menos conhecidas que merecem destaque. Essas verdadeiras joias escondidas oferecem tramas envolventes, atuações sólidas e uma qualidade de produção que surpreende até os espectadores mais exigentes.
Nos últimos anos, os programas de TV originais da Amazon têm evoluído significativamente em termos de roteiro, direção e originalidade. A plataforma vem apostando em histórias ousadas e criativas, que fogem do padrão das produções mais comerciais. Isso tem garantido reconhecimento da crítica e do público, mesmo que algumas dessas séries ainda passem despercebidas entre os lançamentos mais divulgados.
Apesar de ainda não ter alcançado o mesmo patamar da Max ou da Netflix no que diz respeito à produção de originais consagrados, o Prime Video mostra que está no caminho certo. A aposta em diversidade de gêneros e a liberdade criativa concedida aos realizadores são pontos fortes que contribuem para essa evolução. O serviço tem se mostrado cada vez mais competitivo no cenário do streaming.
Para quem busca algo novo e de qualidade, vale a pena explorar além da superfície do catálogo. As produções menos badaladas do Prime Video podem surpreender e oferecer experiências tão intensas quanto as dos grandes sucessos. Ligar esses programas “escondidos” é, sem dúvida, uma boa escolha para quem deseja descobrir o melhor que a plataforma tem a oferecer.
As Flores Perdidas de Alice Hart
Ambientada na Austrália, As Flores Perdidas de Alice Hart acompanha a jovem Alice, interpretada por Alyla Browne na infância e por Alycia Debnam-Carey na fase adulta. Sigourney Weaver divide o protagonismo como June Hart, avó de Alice, que acolhe a neta após a trágica morte dos pais em um incêndio. A situação é ainda mais complexa, pois o pai de Alice era abusivo, o que adiciona camadas de dor e confusão à sua perda.
June, no entanto, já está familiarizada com a missão de oferecer refúgio: não é a primeira vez que estende a mão a uma jovem em situação de vulnerabilidade. As “flores” do título remetem ao viveiro que ela administra, um espaço que serve de abrigo seguro para mulheres e meninas vítimas de violência doméstica, um jardim de cura para almas feridas.
A série é visualmente deslumbrante e emocionalmente intensa. Ainda que flerte com o melodrama em alguns momentos, o peso e a urgência do enredo mantêm a narrativa ancorada na realidade. As cenas mais dolorosas não soam exageradas, mas sim necessárias, traduzindo a profundidade do trauma vivido pelas personagens.
Sigourney Weaver brilha em uma de suas atuações mais marcantes dos últimos anos. Sua interpretação de uma matriarca forte, porém marcada por espinhos e cicatrizes, confere complexidade e humanidade à história, um papel à altura de seu talento e legado.
O Patriota
O Patriota é uma série de comédia dramática lançada em 2015, estrelada por Michael Dorman no papel de John Tavner, um agente de inteligência e músico folk que assume a identidade de um funcionário de nível médio em uma fábrica de tubulação em Milwaukee. Sua missão: se infiltrar em um esquema intrincado para evitar que o Irã desenvolva armamento nuclear. Com um tom peculiar, inteligente e fora do convencional, a série se destaca por sua originalidade.
Com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, O Patriota conquistou a crítica, e a segunda temporada conseguiu elevar ainda mais o nível da já aclamada estreia. O elenco conta com rostos familiares da televisão, como Terry O’Quinn — eterno John Locke de Lost — e Kurtwood Smith, lembrado por seu papel como Red em That ’70s Show e no revival That ’90s Show.
A série é um raro exemplo de equilíbrio entre humor ácido e suspense genuíno, com diálogos afiados, narrativa envolvente e performances memoráveis. A direção aposta no absurdo com sofisticação, entregando uma experiência única para o espectador.
Infelizmente, O Patriota foi cancelado após sua segunda temporada, deixando algumas pontas soltas. Ainda assim, vale a pena assistir pelas duas temporadas disponíveis, que, apesar do desfecho inconclusivo, formam uma obra criativa, surpreendente e extremamente bem executada.
Upload
Muitas vezes esquecida no universo criativo de Greg Daniels, Upload acabou ofuscada por Space Force, seu outro projeto lançado no mesmo ano pela Apple TV+. No entanto, ironicamente, Upload é a série mais sólida e interessante. Ambientada em 2033, a trama parte de uma premissa original: os seres humanos podem transferir sua consciência para uma vida após a morte virtual, escolhida de acordo com seus recursos financeiros e preferências.
Robbie Amell protagoniza como Nathan Brown, um jovem programador de 27 anos que morre prematuramente e é carregado para Lakeview, uma espécie de paraíso digital luxuoso. No entanto, a nova “vida” de Nathan está longe de ser perfeita. Enquanto lida com as limitações e dilemas éticos do mundo virtual, ele também começa a suspeitar que sua morte pode não ter sido um simples acidente.
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Com 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, Upload conquistou público e crítica por seu equilíbrio entre humor, romance e ficção científica. A série é espirituosa e charmosa como se espera do criador de The Office e Parks and Recreation, mas vai além: propõe uma reflexão provocativa sobre nossa crescente dependência da tecnologia e as consequências de uma sociedade movida por algoritmos e controle digital.
Atualmente, a Amazon já encomendou a quarta, e última, temporada da série, embora ainda não tenha divulgado uma data oficial de lançamento. Mesmo assim, Upload já se consagra como uma obra relevante, divertida e surpreendentemente filosófica dentro do catálogo do Prime Video.
ZeroZeroZero
O drama policial italiano ZeroZeroZero estreou no Prime Video em 2020 e é inspirado no livro de não ficção homônimo do jornalista investigativo Roberto Saviano. A série acompanha a complexa e arriscada jornada de um carregamento de cocaína, desde sua produção no México até a distribuição na Itália, traçando um retrato global e implacável do narcotráfico contemporâneo. Com uma abordagem ousada, a narrativa se divide em três núcleos interligados, revelando as tensões e os perigos enfrentados por quem fabrica, transporta, compra e vende drogas ilícitas.
Mais do que um drama criminal, ZeroZeroZero é também uma espécie de série de viagem e até um “como é feito” do tráfico internacional. Ao mostrar diferentes perspectivas, dos cartéis mexicanos aos mafiosos italianos, passando por intermediários americanos, a produção revela os bastidores de um mercado dominado por violência, corrupção e ambição desmedida.
O ponto central da série é incisivo: a demanda por cocaína é tão intensa, e o lucro gerado tão absurdo, que nenhum obstáculo, seja ele logístico, político ou humano, parece capaz de interromper permanentemente esse sistema. O vício não está apenas na substância, mas também no poder e no dinheiro que ela movimenta.
ZeroZeroZero impressiona não só pela intensidade de sua trama, mas também por sua cinematografia sofisticada e filmagens em locações reais. É uma série visualmente impactante e narrativamente densa, que mergulha fundo na psique de seus personagens. São essas interpretações humanas e complexas que mantêm o espectador envolvido até o fim.
A Hora do Diabo
Peter Capaldi estrela A Hora do Diabo, um thriller dramático de ficção científica altamente subestimado, que se destaca por sua construção narrativa densa e atmosfera inquietante. A série se desenrola lentamente, revelando aos poucos os elementos surreais que permeiam sua trama, até mergulhar de vez em um mistério profundo com toques de horror psicológico.
Na história, Capaldi interpreta Gideon Shepherd, um serial killer enigmático que afirma ter vivido várias vidas, assim como todos os demais seres humanos na Terra. No universo da série, as pessoas estão presas a ciclos de reencarnação, mas apenas Gideon mantém as memórias de suas existências anteriores. Seus crimes, longe de serem motivados por ódio, seriam tentativas de impedir tragédias ainda maiores, antecipando eventos catastróficos com base no que já testemunhou em vidas passadas.
Com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes, A Hora do Diabo conquistou a crítica por sua ousadia e complexidade temática. Ao longo de suas duas temporadas, a produção entrega um suspense crescente, que mistura elementos de ficção científica, terror e drama existencial. Uma terceira temporada já está confirmada, prometendo expandir ainda mais esse universo intrigante.
Embora a série exija paciência em seus primeiros episódios, a recompensa é um enredo assombroso, reflexivo e surpreendente. Em vez de seguir os caminhos tradicionais das tramas sobre viagens no tempo, A Hora do Diabo cria sua própria lógica e oferece uma experiência única, sombria, filosófica e memorável.
Sneaky Pete
Giovanni Ribisi brilha como o protagonista de Sneaky Pete, série do Prime Video que mistura suspense, drama e um toque de humor ácido. Apesar de seu nome no título, o personagem de Ribisi se chama, na verdade, Marius Josipović, um vigarista profissional que, ao sair da prisão, tenta escapar das ameaças de um perigoso gângster assumindo a identidade de seu ex-companheiro de cela: o verdadeiro Pete Murphy.
Durante o tempo em que dividiram a cela, Marius ouviu o suficiente sobre a vida e a família de Pete para assumir seu lugar com uma naturalidade inquietante. Como o verdadeiro Pete estava há anos afastado, seus parentes mal se lembram dele, o que torna o disfarce ainda mais crível. A premissa pode parecer cômica à primeira vista, mas Sneaky Pete não demora a revelar um lado sombrio e imprevisível, mergulhando o protagonista em dilemas morais, perigos reais e jogos de manipulação.
A série é uma verdadeira joia escondida do catálogo da Amazon, que equilibra momentos de tensão com reviravoltas divertidas e inteligentes. É um thriller leve na medida certa, mas com profundidade emocional e ótimas doses de ironia. O roteiro ágil é sustentado por um elenco de peso: além de Ribisi, nomes como Bryan Cranston, Margo Martindale e Marin Ireland entregam atuações marcantes, cada um tendo espaço para brilhar.
Sneaky Pete é uma produção subestimada que merecia ter recebido mais atenção. Com personagens cativantes, uma narrativa cheia de surpresas e uma crítica sutil à identidade e à confiança, a série é perfeita para quem busca algo instigante e diferente das tramas policiais convencionais.