Liam Hemsworth não é o problema de The Witcher, por mais que parte dos fãs mais reativos da série tentem convencer o contrário. O ator surge como um sucessor natural de Henry Cavill e, já no primeiro episódio da quarta temporada, prova que pode sustentar o papel de Geralt de Rívia com carisma, intensidade e presença física.
As sequências de ação e flashbacks que tentam reafirmar a identidade do personagem acabam até parecendo redundantes diante da boa adaptação de Hemsworth ao papel. Mas o episódio inaugural da 4ª temporada traz uma polêmica que ofusca a estreia de Hemsworth na atração.

Uma estreia forte até certo ponto
Intitulado “What Doesn’t Kill You Makes You Stronger” (“O que não te mata te fortalece”, em tradução literal), o episódio tinha tudo para ser o mais marcante desde o início da série. Inspirado no terceiro livro da saga de Andrzej Sapkowski, Batismo de Fogo, o capítulo mostra Geralt, Yennefer (Anya Chalotra) e Ciri (Freya Allan) seguindo caminhos separados após os eventos turbulentos da temporada anterior.
Enquanto Geralt se recupera e retoma sua jornada, Ciri embarca em uma trama mais sombria ao se juntar aos Ratos, um grupo de ladrões e foras da lei. Mas o que deveria ser um arco de amadurecimento rapidamente se transforma em um dos momentos mais desconfortáveis de toda a franquia.
A cena que dividiu fãs e críticos
Durante uma festa após a primeira missão de Ciri com o grupo, um dos integrantes, Kayleigh (Fabian McCallum), tenta agredi-la sexualmente. Mistle (Christelle Elwin) interrompe a cena, mas em seguida faz uma investida ambígua e igualmente problemática sobre a personagem, que termina abalada e em prantos.
Fãs dos livros já esperavam uma adaptação dessa passagem, mas a decisão de incluí-la logo no primeiro episódio causou controvérsia. Para muitos, o momento ofuscou o que deveria ser o foco da estreia: a introdução de Hemsworth e a reconstrução do vínculo emocional entre os personagens principais.
Mesmo suavizada em relação ao texto original, a sequência continua sendo de difícil digestão. Em entrevista à revista Elle em 2024, Freya Allan já havia alertado o público:
“Ela tem sua primeira experiência com o que se poderia chamar de romance, se é que dá para chamar assim, porque não é uma boa relação. Ciri entra em uma parte muito escura de si mesma, que será assustadora de assistir.”

Quando a polêmica fala mais alto que a narrativa
A intenção da produção pode ter sido mostrar o ponto mais baixo da trajetória de Ciri logo no início, preparando terreno para sua evolução. No entanto, o resultado acaba prejudicando a força do episódio e reduzindo a personagem a um artifício narrativo semelhante ao de dramas como Game of Thrones, em que traumas femininos são usados apenas como gatilho para outras tramas.
O contraste é claro. Enquanto Hemsworth conquista rapidamente o público com sua versão de Geralt, a série desperdiça a oportunidade de equilibrar o novo fôlego com uma escrita mais sensível para sua protagonista.
Assim, “What Doesn’t Kill You Makes You Stronger” cumpre a missão de apresentar o novo rosto de The Witcher, mas tropeça ao priorizar choque em vez de empatia e deixa um gosto agridoce na estreia da temporada mais aguardada da série da Netflix.

