Entenda

O Monstro de Florença: Final explicado da série da Netflix

Minissérie da Netflix revisita um dos casos criminais mais perturbadores da Itália, mantendo o mistério insolúvel como parte essencial da narrativa

O Monstro de Florença: Final explicado da série da Netflix

A minissérie O Monstro de Florença, lançada pela Netflix, revive um dos casos criminais mais sombrios e enigmáticos da história da Itália. Baseada em fatos reais, a produção mergulha nos assassinatos que aterrorizaram a região da Toscana entre 1968 e 1985 — crimes brutais cometidos contra casais em momentos de intimidade, e que jamais foram oficialmente resolvidos.

Ao longo de quatro episódios, a série mistura drama policial, investigação jornalística e crítica social, conduzindo o público por uma espiral de dúvidas e teorias que marcaram décadas de pânico e especulação. No episódio final, O Monstro de Florença reafirma uma das verdades mais perturbadoras desse caso: o verdadeiro assassino pode nunca ter sido identificado.

O caso real que inspirou a série

Os crimes do chamado “Monstro de Florença” ocorreram ao longo de 17 anos. Casais eram encontrados mortos em áreas rurais próximas à cidade, sempre com o mesmo padrão de violência — tiros, mutilações e ausência de testemunhas. As investigações envolveram dezenas de suspeitos, teorias conspiratórias e acusações que dividiram o país.

Entre os principais nomes investigados estava Pietro Pacciani, um trabalhador rural que chegou a ser condenado, mas posteriormente absolvido. Outros homens foram apontados como cúmplices, e até figuras da alta sociedade e médicos locais foram ligados ao caso. Nenhuma dessas versões foi confirmada, e o assassino (ou assassinos) nunca foi oficialmente descoberto.

A série se inspira nesses fatos, mas adota um tom de suspense psicológico, alternando entre reconstituições e ficção, para explorar como o medo e o sensacionalismo moldaram a mentalidade coletiva italiana durante os anos de terror.

O que acontece no final

No episódio final, a narrativa se concentra em Pacciani e na pressão da mídia, que o transforma em uma figura pública odiada e temida. A série mostra seu julgamento, a euforia popular com a possibilidade de justiça e, em seguida, a dúvida: as provas são inconsistentes, e a investigação parece contaminada por preconceitos e manipulações.

Enquanto a justiça tenta encerrar o caso, o público é lembrado de que a verdade pode estar além dos tribunais. O último ato mistura cenas reais de arquivos jornalísticos e imagens ficcionais do julgamento, deixando claro que a resposta nunca veio.

Nos minutos finais, a câmera acompanha uma nova investigação sendo aberta, anos depois. Um jovem policial observa os arquivos antigos e pergunta: “E se estivermos procurando no lugar errado o tempo todo?”. Essa frase ecoa o tema central da série — a incerteza.

O significado do final

O desfecho de O Monstro de Florença é propositalmente inconclusivo. A Netflix não oferece um culpado nem um desfecho satisfatório — e isso é o que torna a série tão realista e inquietante. O final reforça a ideia de que o “monstro” talvez não seja uma pessoa específica, mas o próprio medo coletivo, a paranoia e o desejo insaciável por respostas.

Guido Bruni, um dos roteiristas, declarou em entrevistas que a intenção era transformar o público em parte da investigação: “Queríamos que as pessoas sentissem a mesma frustração que os italianos sentiram. O Monstro de Florença não é só um assassino, é uma ferida aberta na alma do país.”

A construção da ambiguidade

Guia por uma trilha de falsas pistas e contradições, O Monstro de Florença utiliza a ambiguidade como sua principal ferramenta narrativa. Cada novo suspeito parece plausível por alguns minutos, até que os fatos se contradizem novamente. No último episódio, a série chega a sugerir que o “monstro” pode ter sido mais de uma pessoa — um grupo, talvez — ou até uma invenção coletiva alimentada pela histeria social.

Visualmente, o episódio final traduz essa confusão com planos longos, cenas noturnas e o uso constante de espelhos e reflexos — como se o mal estivesse sempre diante de nós, apenas distorcido.

Conclusão

O final de O Monstro de Florença não entrega um assassino — entrega algo mais desconfortável: o reflexo da nossa própria necessidade de encontrar um. Ao recusar a solução, a série transforma o crime em metáfora sobre o medo, a culpa e o poder destrutivo da incerteza.

Mais do que uma história policial, é um retrato da alma humana diante do inexplicável. O monstro, como sugere o último plano da série, pode estar solto — ou pode ser o olhar de quem o procura.