Lançado nesta sexta-feira (7) na Netflix, Frankenstein, dirigido e escrito por Guillermo del Toro, já é considerada uma das adaptações literárias mais comentadas dos últimos anos. O cineasta mexicano, vencedor do Oscar por A Forma da Água, aborda o romance de Mary Shelley não como um filme de monstros, mas como uma tragédia gótica de caráter humano, marcada por temas de trauma, solidão e obsessão.
O longa é protagonizado por Oscar Isaac (Victor Frankenstein), Jacob Elordi (a Criatura) e Mia Goth (Elizabeth Harlander) e chegou a entrar em competição no Festival de Veneza antes de ser lançado na Netflix.

Uma história de dor, ciência e humanidade
Na nova versão, Del Toro mantém o espírito do romance de 1818, mas aprofunda o passado e as motivações psicológicas de seus personagens. O filme se inicia no Ártico, onde Victor é encontrado por uma expedição dinamarquesa. Enquanto a Criatura o confronta, exigindo redenção, Victor narra os eventos que os levaram àquele desfecho trágico – estrutura que espelha a narrativa em cartas do livro original.
A infância de Victor ganha destaque: ele é criado por um pai frio e arrogante, o Barão Leopold Frankenstein, e traumatizado pela morte da mãe durante o parto do irmão caçula, William. Esse trauma se torna o centro de sua obsessão por derrotar a morte.
Expulso do Colégio Real de Cirurgiões após um experimento desastroso, ele recebe o apoio de um comerciante de armas, Henrich Harlander, para continuar suas experiências em uma torre isolada. Lá, conhece Elizabeth, sobrinha de Harlander e noiva de William, a mulher que se tornará o último elo de Victor com a humanidade.

A morte de Elizabeth e o novo significado da tragédia
A sequência da morte de Elizabeth, presente em quase todas as versões de Frankenstein, é reinterpretada por Del Toro de forma inédita. No livro, ela é assassinada pela Criatura na noite de núpcias, como vingança contra Victor. Já no filme, Elizabeth morre por acidente, atingida por um disparo feito pelo próprio Victor durante um confronto com a Criatura.
No longa, o monstro não busca vingança: ele procura apenas uma companheira. Elizabeth tenta impedir a tragédia e se coloca entre os dois, sendo alvejada por Victor num momento de desespero. A cena é menos violenta que no texto original, mas infinitamente mais dolorosa. Elizabeth deixa de ser uma vítima passiva e passa a ter voz e compaixão, representando o último vestígio de empatia entre criador e criação.
Sua morte revela que o verdadeiro vilão não é a Criatura, mas a incapacidade humana de lidar com a própria dor e culpa. Victor se torna o arquiteto da tragédia, e a Criatura, um reflexo da devastação emocional de seu criador.
Com fotografia sombria, design de produção detalhado e a sensibilidade característica de Del Toro, Frankenstein transforma o mito em uma reflexão sobre os limites da ciência e o preço da obsessão. O filme mostra que, no fim, o horror mais profundo não vem da criatura criada, mas do homem que a concebeu.
Frankenstein está disponível na Netflix.

