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Crítica: A Diplomata retorna mais sombria e intensa do que nunca na 3ª temporada

O novo ciclo da série da Netflix expande a escala geopolítica, mas o destino trágico de personagens e a guinada sombria da trama mudam completamente o tom da narrativa

A Diplomata
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A terceira temporada de A Diplomata marca o ponto de virada definitivo da série criada por Debora Cahn. Se antes o foco era o equilíbrio tenso entre diplomacia e emoção, agora a produção mergulha de vez no caos — político, psicológico e moral. O resultado é uma temporada mais ousada, cheia de reviravoltas e consequências irreversíveis, mas também uma que pode dividir o público.

Após os eventos explosivos do final da segunda temporada, A Diplomata abre com o atentado em Notting Hill ainda ecoando nas relações entre Estados Unidos e Reino Unido. Kate Wyler (Keri Russell), gravemente abalada, tenta manter as aparências enquanto a crise se aprofunda. O primeiro grande choque acontece logo nos episódios iniciais, quando é confirmado que um dos diplomatas britânicos mortos na explosão era um informante duplo — revelação que coloca a própria Kate sob suspeita.

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O colapso das alianças

A trama se desenrola em torno de uma possível sabotagem dentro da embaixada, e a tensão entre Londres e Washington chega ao limite. O primeiro-ministro britânico, Austin Dennison (David Gyasi), vê sua lealdade questionada, enquanto os Estados Unidos consideram uma intervenção política direta.

Kate, isolada e emocionalmente desgastada, tenta impedir que a situação escale para um confronto internacional. Em paralelo, seu relacionamento com Hal (Rufus Sewell) atinge o ponto de ruptura: o ex-embaixador passa a cooperar secretamente com uma força de inteligência rival, acreditando que está “protegendo” a esposa, quando na verdade mina sua credibilidade.

A traição de Hal é revelada no episódio 6, quando Kate descobre que ele entregou documentos confidenciais aos franceses em troca de imunidade. A sequência de confronto entre o casal é um dos pontos altos da temporada, com Keri Russell e Sewell entregando atuações intensas e amargas.

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A tragédia e o novo tabuleiro

Nos episódios finais, A Diplomata abandona qualquer vestígio de otimismo diplomático. O assassinato de Margaret Roylin (Celia Imrie), veterana da política britânica, é o estopim para uma crise global. Kate acredita que a morte foi ordenada por um setor radical dentro do governo americano, determinado a desestabilizar a Europa.

O episódio final da 3ª temporada leva a protagonista ao limite: ela confronta seus superiores, é afastada do cargo e acaba presa em uma operação de contraespionagem montada pela própria CIA. Em uma das cenas mais fortes de toda a série, Kate é levada para interrogatório sob o olhar frio de colegas que antes a defendiam.

A temporada termina com um gancho impactante: Hal é encontrado morto em circunstâncias suspeitas, e Kate, devastada, promete “revelar quem realmente está no controle”. A frase final, dita durante um interrogatório silencioso, deixa claro que a personagem cruzou um ponto sem retorno.

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Entre crises globais e dramas domésticos

No entanto, se a série continua afiada no retrato da geopolítica, ela tropeça quando tenta aprofundar demais o drama pessoal dos personagens. A relação conturbada entre Kate e seu marido, Hal (Rufus Sewell), volta a ocupar espaço demais, repetindo discussões e reviravoltas emocionais que já perderam impacto.

Os novos personagens, interpretados por Bradley Whitford e Aidan Turner, trazem um fôlego momentâneo, mas também alimentam tramas secundárias que nem sempre se justificam. Em alguns momentos, o roteiro parece querer ser The West Wing e Scandal ao mesmo tempo, resultando em uma mistura irregular de política de bastidores e drama romântico.

Ainda assim, a série mantém seu ritmo envolvente. As disputas de poder dentro da embaixada, o jogo de espionagem e as negociações de crise são suficientes para manter o público atento — especialmente quando o roteiro foca na ambiguidade moral de Kate, que tenta conciliar idealismo com sobrevivência política.

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Um novo tom para a série

Com o fim da 3ª temporada, A Diplomata abandona o equilíbrio que sustentava suas tramas anteriores. A série se torna mais sombria e cínica, mas também mais emocionante e imprevisível. A ingenuidade política de Kate desaparece completamente, dando lugar a uma figura endurecida, quase paranoica, que entende que o poder exige sacrifícios morais.

A fotografia fria e o ritmo mais claustrofóbico refletem essa mudança. As cenas em ambientes fechados — gabinetes, salas de crise, interrogatórios — substituem os grandes eventos públicos das temporadas anteriores, reforçando o clima de vigilância e desconfiança.

Conclusão

A 3ª temporada de A Diplomata é o capítulo mais ousado e devastador da série até agora. Ao transformar sua protagonista em vítima e cúmplice do sistema, Debora Cahn entrega uma história política de primeira linha, que mistura tragédia pessoal e corrupção institucional.

Nem tudo funciona: alguns arcos paralelos se perdem (como o de Dennison e sua filha, praticamente descartado), e o ritmo por vezes sofre com excessos de diálogo. Ainda assim, o peso emocional e o desfecho amargo consolidam A Diplomata como uma das melhores séries políticas da Netflix.

Nota: 8,5/10