A disputa entre plataformas de streaming está cada vez mais acirrada, e quando se trata de séries policiais, a Prime Video tem uma carta forte na manga: Reacher, baseada na obra de Lee Child. A série se tornou um dos maiores sucessos do catálogo e vai até ganhar um derivado com a personagem Frances Neagley. Mas a Netflix parece pronta para contra-atacar com uma adaptação que promete ser ainda mais sombria e complexa.
Embora O Agente Noturno tenha sido considerada, por muitos, a resposta da Netflix ao sucesso de Reacher, a gigante do streaming está preparando uma produção com potencial ainda maior: Detective Hole, uma nova série baseada nos romances do escritor norueguês Jo Nesbø, protagonizados pelo detetive Harry Hole. Essa produção pode ser a arma que faltava para a Netflix conquistar o público fã de ação e mistério com um toque de moralidade duvidosa.
Harry Hole é o protagonista imperfeito que pode fisgar os fãs de Reacher
Jack Reacher conquistou o público por ser um herói solitário, implacável, inteligente e, ao mesmo tempo, emocionalmente contido. Características semelhantes podem ser encontradas em Harry Hole, o detetive criado por Jo Nesbø. Ao contrário de agentes perfeitinhos ou detetives metódicos, Harry é um personagem falho, e isso o torna ainda mais interessante. Ele bebe demais, ignora regras e, muitas vezes, ultrapassa limites éticos para resolver seus casos.
Esses traços de personalidade o aproximam do que os fãs de Reacher adoram: um protagonista que não depende do sistema para fazer justiça. Mas, diferente de Peter Sutherland, de O Agente Noturno, que é mais idealista e guiado por uma bússola moral clara, Harry Hole mergulha em zonas cinzentas. E esse tipo de protagonista costuma atrair quem procura histórias mais densas, sombrias e realistas.
Cada temporada poderá adaptar um livro
Um dos principais desafios de O Agente Noturno foi sua fonte limitada: apenas um livro. Após a primeira temporada, a série teve que seguir com enredos originais. Já Detective Hole parte de uma vantagem considerável. A série está sendo desenvolvida com base em The Devil’s Star, o quinto livro da série, mas existem outros 12 volumes já publicados. Isso dá margem para diversas temporadas sólidas, com roteiros bem estruturados, seguindo o formato de uma história por temporada, exatamente como ocorre com Reacher.
Se o público abraçar a série como abraçou a de Jack Reacher, a Netflix terá em mãos uma mina de ouro narrativa. Cada temporada poderá explorar não apenas um novo caso, mas também aprofundar a complexa personalidade de Harry, apresentando um arco evolutivo muito mais denso e intrigante.
Netflix pode aprender com os erros do passado e acertar dessa vez
É impossível falar da adaptação de Harry Hole sem lembrar do fracasso de Boneco de Neve (The Snowman, 2017), longa-metragem estrelado por Michael Fassbender. O filme, baseado no sétimo livro da saga, tinha elenco de peso, incluindo Rebecca Ferguson, Val Kilmer e JK Simmons, mas foi um desastre de crítica e público. A produção foi criticada por ser confusa, sem ritmo e por não captar o espírito sombrio dos livros.
Esse fracasso, no entanto, pode ser a chave para o sucesso da nova série. A Netflix tem a chance de fazer diferente: valorizar o material original, construir episódios com ritmo envolvente e explorar a atmosfera densa e perturbadora dos livros. É como a Amazon fez com Reacher, após os filmes estrelados por Tom Cruise decepcionarem os fãs.
A fórmula sombria e adulta pode cair como uma luva para o público certo
Detective Hole tem tudo para fisgar uma audiência que procura algo além do tradicional. O protagonista não é carismático à primeira vista, não tem frases de efeito nem músculos exagerados. Mas é exatamente isso que o torna humano. Ele investiga crimes brutais, lida com seus próprios demônios e vive num universo onde a linha entre o certo e o errado está sempre embaçada.
Essa proposta mais sombria pode ser o diferencial que fará a série se destacar no catálogo da Netflix. Em tempos em que o público busca histórias que fogem da mesmice, uma produção como essa pode se tornar um verdadeiro fenômeno, especialmente se abraçar o clima noir e melancólico dos livros.