
Nem tudo é o que parece ser em The Third Day, série de suspense psicológico disponível na Max. A trama, que mistura drama, simbolismo e um clima constante de inquietação, se desenrola em uma pequena ilha britânica aparentemente isolada do mundo moderno. A produção mergulha fundo em temas como fé, luto, tradição e identidade, mantendo o espectador constantemente em dúvida sobre o que é real.
Logo de início, somos apresentados a Sam, interpretado por Jude Law. O personagem é um homem emocionalmente fragilizado que, por acaso — ou não —, chega a essa ilha peculiar. Conforme os dias passam, Sam se vê cada vez mais envolvido com os costumes e os mistérios do local, que parece ter vida própria.
Os moradores da ilha são figuras enigmáticas, apegadas a rituais ancestrais que beiram o fanatismo. Sua relação com Sam oscila entre hospitalidade e hostilidade, criando uma atmosfera tensa e imprevisível. O apego inabalável à tradição transforma a ilha em um microcosmo inquietante, onde a razão parece se dobrar à crença.
Enquanto Sam tenta encontrar sentido em sua própria dor, ele se depara com revelações perturbadoras sobre o lugar — e sobre si mesmo. A linha entre a realidade e o delírio começa a se desfazer, e o espectador é levado junto nessa jornada de imersão psicológica.
Uma nova presença abala o equilíbrio
Na segunda parte da série, a narrativa muda de perspectiva e apresenta Helen, vivida por Naomie Harris. Ela chega à ilha com objetivos claros e uma energia completamente diferente da de Sam. Sua presença, no entanto, causa um alvoroço entre os habitantes, que a enxergam como uma ameaça ao frágil equilíbrio local.
Helen está em busca de respostas ligadas ao seu passado, mas logo descobre que a ilha resiste a forasteiros e aos seus questionamentos. A comunidade, antes apenas estranha, se revela cada vez mais hostil, como se estivesse escondendo algo muito maior do que aparenta. O clima de tensão se intensifica a cada novo contato que Helen estabelece.
Diferente de Sam, que parece ser tragado pela ilha, Helen tenta resistir às forças que a rodeiam. Seu olhar de quem está de fora permite ao espectador perceber nuances que antes passavam despercebidas. A série passa, então, a explorar questões sobre maternidade, verdade e o poder da negação coletiva.
Com uma abordagem narrativa fragmentada e simbólica, The Third Day brinca com a percepção do público. O tempo, os acontecimentos e até mesmo as intenções dos personagens se tornam ambíguos. Tudo contribui para uma experiência imersiva e desconcertante, como um quebra-cabeça que nunca se completa.
Entre o real e o sobrenatural
A ilha em si é quase um personagem. Seus cenários naturais belíssimos contrastam com o sentimento de aprisionamento que ela impõe. A ambientação sombria, melancólica e por vezes sufocante, amplifica a sensação de estranheza. A trilha sonora e a fotografia também desempenham papel essencial na construção desse clima.
The Third Day é dividida em três partes: “Verão”, “Outono” e “Inverno”, cada uma com estilo e foco narrativo distintos. A segunda parte, “Outono”, foi transmitida ao vivo em formato teatral, o que demonstra a ousadia e a proposta artística da produção. Essa escolha reforça a ideia de experiência — mais do que simples entretenimento, a série convida à contemplação e ao desconforto.
A presença de elementos sobrenaturais é sugerida, mas nunca confirmada com clareza. Isso permite múltiplas interpretações e garante que o espectador permaneça envolvido, buscando pistas para montar o grande enigma que é a ilha. O real e o simbólico se entrelaçam o tempo todo, tornando a obra instigante e cheia de camadas.
Jude Law entrega uma atuação visceral, transmitindo a fragilidade e a angústia de um homem quebrado. Naomie Harris, por sua vez, imprime força e determinação à sua personagem, sendo o contraponto perfeito a Sam. O elenco de apoio também brilha, contribuindo para o clima de estranheza e tensão.
Tradição, isolamento e psicologia
A série levanta reflexões profundas sobre até onde se pode ir para manter tradições vivas. A resistência ao novo, ao desconhecido, e o peso da herança cultural são colocados sob um olhar crítico. A ilha representa, nesse sentido, o isolamento não apenas físico, mas também mental e emocional.
Por meio de Sam e Helen, The Third Day explora dois tipos de reação diante da dor e do desconhecido: a rendição e o enfrentamento. Ambos os caminhos têm consequências — e a série não se furta em mostrar o quão desafiadoras essas jornadas podem ser. Nada é entregue facilmente ao público, e as respostas são tão incertas quanto o terreno lamacento da ilha.
Com apenas seis episódios principais e um especial ao vivo, a série consegue fazer muito com pouco. Sua estrutura enxuta é um de seus pontos fortes, pois concentra a tensão e evita desvios desnecessários. Cada cena carrega significado, e o ritmo lento é proposital, exigindo atenção e paciência.
The Third Day é uma série para quem aprecia o desconforto como elemento narrativo. Longe de oferecer conclusões fáceis, ela permanece com o espectador mesmo após o fim dos episódios. Uma experiência audiovisual ousada, que transforma um vilarejo fictício em um verdadeiro labirinto psicológico.
Confira o trailer: