Embora os grandes sucessos muitas vezes dominem os holofotes das plataformas de streaming, o catálogo do Max guarda algumas joias escondidas que merecem ser descobertas. Entre elas, I May Destroy You, criação da talentosa Michaela Coel, se destaca por sua abordagem corajosa e inovadora sobre consentimento, trauma e reconstrução pessoal. A série britânica mistura drama e humor ácido ao contar a história de Arabella, uma jovem escritora que tenta reconstruir sua vida após um abuso sexual, com uma narrativa não linear e impactante.
Outro destaque é Years and Years, minissérie criada por Russell T Davies, que mistura drama familiar e ficção especulativa. A trama acompanha uma família britânica ao longo de 15 anos, em um futuro próximo onde crises políticas, tecnológicas e sociais se desenrolam de forma alarmantemente plausível. Com atuações poderosas e uma crítica afiada à sociedade contemporânea, a produção oferece um olhar sombrio, mas necessário, sobre os caminhos que o mundo pode tomar.
Já Watchmen, baseada nos quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons, vai além da simples adaptação. Criada por Damon Lindelof, a série reinventa o universo original com uma narrativa centrada em temas como racismo sistêmico, identidade e justiça. Ambientada em uma realidade alternativa, a trama acompanha a detetive Angela Abar, que assume a identidade de Sister Night enquanto investiga uma conspiração que remonta a eventos históricos reais, como o Massacre de Tulsa em 1921.
Essas três produções não apenas apresentam roteiros inteligentes e atuações marcantes, mas também abordam questões urgentes com sensibilidade e originalidade. São séries que, apesar de não estarem sempre em evidência, merecem ser redescobertas por quem busca conteúdo de qualidade e provocativo no Max.
Estação 11 (Station Eleven)
Inspirada na obra de Emily St. John Mandel, Estação 11 (Station Eleven) retrata um mundo transformado por uma pandemia que dizima a maior parte da população global. Vinte anos após uma epidemia de gripe suína ter colapsado a civilização como a conhecemos, os sobreviventes buscam reconstruir os laços da vida em sociedade, preservando fragmentos do que foi perdido — arte, cultura, memória e humanidade.
Nesse cenário de desolação e esperança, surge Kirsten (vivida por Mackenzie Davis e Matilda Lawler em fases diferentes da vida), uma jovem atriz que perde os pais pouco antes do surto se espalhar. Amparada por Jeevan (Himesh Patel), um homem comum que se vê forçado a agir como protetor, os dois enfrentam juntos os primeiros dias do apocalipse, marcados pelo medo e pela incerteza.
Já adulta, Kirsten encontra refúgio e propósito em uma trupe nômade de artistas chamada Travelling Symphony, que percorre comunidades devastadas encenando peças de Shakespeare como forma de manter viva a chama da arte e da civilização. No entanto, sua jornada é ameaçada pelo surgimento de um culto religioso que se aproveita do caos para impor sua visão distorcida de salvação.
Enquanto enfrenta os perigos do presente, Kirsten também é forçada a confrontar fantasmas do passado, memórias, perdas e conexões que resistem ao tempo e à tragédia. Estação 11 (Station Eleven) é uma reflexão poderosa sobre resiliência, legado e a importância da arte como elo de humanidade mesmo nos momentos mais sombrios.
I May Destroy You
Arabella (Michaela Coel) é uma jovem escritora em ascensão, vibrante e confiante, vivendo o auge da vida em Londres. Com uma carreira promissora, amigos leais e um romance à distância com um namorado italiano, tudo parece estar no lugar, até que uma noite muda tudo. Após ter sua bebida adulterada com Boa Noite, Cinderela, Arabella acorda sem memória do que aconteceu e se vê forçada a encarar as duras consequências de um trauma profundo.
A partir desse ponto, ela embarca em um doloroso e poderoso processo de reconstrução pessoal. Enquanto tenta juntar os fragmentos do que ocorreu, Arabella também precisa redescobrir quem ela é, como mulher, como artista e como sobrevivente. Com honestidade brutal, humor afiado e sensibilidade rara, I May Destroy You é um retrato impactante sobre consentimento, identidade e os limites entre responsabilidade e liberdade em tempos modernos.
Objetos Cortantes (Sharp Objects)
Em Objetos Cortantes (Sharp Objects), Amy Adams dá vida a Camille Preaker, uma repórter marcada por traumas profundos que retorna à sua cidade natal para investigar uma série de assassinatos brutais. Duas adolescentes foram mortas em Wind Gap, e a jornalista é enviada para cobrir o caso, mas o retorno ao lugar onde cresceu desperta lembranças dolorosas e feridas mal cicatrizadas.
Enquanto tenta desvendar os crimes, Camille é confrontada pelos fantasmas de sua própria infância, incluindo a relação tensa e sufocante com sua mãe, Adora Crellin (Patricia Clarkson), uma mulher hipocondríaca e controladora. Também reencontra a meia-irmã Amma (Eliza Scanlen), uma jovem enigmática que transita entre a inocência e a manipulação, além do padastro Alan (Henry Czerny), figura passiva em meio à disfuncionalidade da família.
Recém-saída de uma internação psiquiátrica, Camille precisa lidar com seus distúrbios emocionais enquanto tenta manter a sanidade e a objetividade jornalística. À medida que as investigações avançam, ela se vê cada vez mais envolvida por segredos sombrios e um ciclo familiar de dor e silêncio.
Objetos Cortantes (Sharp Objects) é um thriller psicológico denso e inquietante, que explora temas como abuso, repressão e autodestruição com sensibilidade e tensão crescent, uma obra que mexe com as camadas mais profundas do trauma e da identidade.
Years and Years
A vida da família Lyon já é caótica por natureza, mas tudo muda drasticamente em uma noite decisiva de 2019. De repente, a narrativa dá um salto inesperado de quinze anos no futuro, lançando os personagens em um mundo radicalmente transformado: mais quente, mais barulhento, mais Desigual, e muito mais instável.
Neste cenário distópico, repleto de crises políticas, colapsos ambientais e avanços tecnológicos fora de controle, os Lyons precisam lidar não apenas com os próprios dramas pessoais, mas também com as consequências de viver em uma sociedade à beira do abismo. Entre perdas, revelações e escolhas difíceis, cada membro da família é forçado a encarar seu papel em um planeta em ruínas.
Será que uma família disfuncional, cheia de rachaduras e cicatrizes emocionais, pode encontrar força para se manter unida, e até mesmo tentar salvar o mundo? Years and Years é uma crônica eletrizante e assustadoramente plausível sobre o futuro próximo, onde o íntimo e o global colidem de forma arrebatadora.
Watchmen
Em Watchmen, Regina King interpreta Angela Abar, uma detetive implacável que assume a identidade mascarada de Sister Night para enfrentar uma ameaça que ressurge das sombras do passado. Em um mundo onde os heróis usam máscaras e a verdade é frequentemente distorcida, Angela mergulha na investigação de um grupo extremista conhecido como Sétima Kavalaria, uma seita violenta, inspirada nos escritos do controverso vigilante Rorschach, que promove ataques racistas e declara guerra contra a polícia e as minorias.
À medida que a tensão cresce, Angela é forçada a ocultar sua identidade não apenas por proteção, mas também como forma de resistir a um sistema corroído pelo medo, ódio e segredos históricos enterrados. Em sua jornada, ela descobre conexões perturbadoras entre seu passado familiar e a origem dos conflitos raciais que assolam o país.
Watchmen reinventa o clássico das HQs com uma abordagem ousada e politicamente afiada, misturando ficção distópica, crítica social e drama pessoal. Em um universo onde justiça e vingança caminham lado a lado, a série levanta uma pergunta urgente: quem vigia os vigilantes?
The Third Day
Sam (Jude Law) decide recomeçar a vida em uma remota e enigmática ilha na costa britânica, onde os habitantes vivem sob regras rígidas e um forte senso de tradição. Aparentemente acolhedores, os moradores escondem segredos sombrios e fazem de tudo para proteger os costumes locais, mesmo que isso signifique excluir, silenciar ou ameaçar quem ousa questioná-los.
É nesse cenário inquietante que surge Helen (Naomie Harris), uma forasteira determinada a encontrar respostas sobre o passado do lugar, e, possivelmente, sobre si mesma. No entanto, sua chegada provoca um desequilíbrio inesperado na rotina do vilarejo, despertando desconfiança, resistência e um clima crescente de tensão.
Conforme Sam e Helen se envolvem mais profundamente com os mistérios da ilha, ambos se veem em meio a rituais obscuros, alianças perigosas e revelações perturbadoras. Em um território onde tradição se confunde com fanatismo, a pergunta que ecoa é: até onde se pode ir para preservar uma identidade coletiva?