
A Pixar começou 2025 apostando alto em sua primeira série animada original, Ganhar ou Perder, lançada no Disney+. Depois do sucesso avassalador de Divertida Mente 2, que se tornou a maior bilheteria de 2024 e o filme mais lucrativo da história da Pixar, a expectativa para os novos projetos do estúdio era alta. No entanto, a série animada já chega cercada de controvérsia devido às mudanças feitas pela Disney em um de seus personagens centrais.
A produção, que foi anunciada ainda em 2020, demorou mais de quatro anos para ser lançada. Inicialmente programada para 2024, ela acabou trocando de lugar no calendário com Produção de Sonhos, um derivado de Divertida Mente, e estreou somente esse mês.
Como um projeto independente dentro da Pixar, Ganhar ou Perder não tem ligação com nenhuma franquia do estúdio, o que era um ponto positivo para aqueles que esperavam ver a empresa investindo em narrativas originais após anos de spin-offs.
A trama acompanha o time de softball juvenil Pickles em sua preparação para um grande campeonato. A diferença está no formato narrativo: cada episódio é contado do ponto de vista de um personagem diferente, explorando suas motivações e desafios ao longo de uma semana intensa.
A polêmica por trás do lançamento
Mesmo com uma recepção positiva no Rotten Tomatoes, onde acumula 89% de aprovação, Ganhar ou Perder gerou um debate intenso antes mesmo de sua estreia. O motivo é a decisão da Disney de remover qualquer referência à identidade de gênero de Kai, um dos protagonistas da série.
O personagem em questão, que é o melhor jogador do time Pickles, originalmente seria abertamente transgênero. Essa decisão colocaria a Pixar em um novo patamar frente à questões de identidade de gênero, mas essa parte da história foi cortada do produto final.
A mudança foi percebida quando Chanel Stewart, atriz trans que dubla Kai, revelou sua decepção com a edição feita pelo estúdio. Segundo Stewart, a exclusão do contexto transgênero do personagem representa um retrocesso na inclusão de narrativas LGBTQIAP+ em conteúdos infantis.
Em entrevista, a atriz de declarou que “as histórias trans importam e merecem ser contadas“, enfatizando que sua participação na produção agora carrega um peso diferente do esperado.
A decisão da Disney gerou reações dentro da própria Pixar. Ex-funcionários do estúdio lamentaram a remoção dessa história, alegando que o episódio dedicado a Kai, intitulado “I Got It”, tinha um impacto significativo para jovens trans. Um deles afirmou que o episódio “poderia literalmente salvar vidas” ao abordar a experiência de uma criança transgênero no esporte juvenil.
O impacto da decisão da Disney
A Disney justificou a remoção da história como uma tentativa de deixar a discussão sobre questões de identidade de gênero a critério dos pais. Segundo fontes internas, a empresa optou por cortar linhas de diálogo que deixavam explícita a identidade de gênero, sem alterar visualmente o personagem. Dessa forma, Kai continua existindo dentro da narrativa, mas qualquer referência à sua identidade foi removida da edição final.
Críticos da decisão apontam que essa escolha reflete a pressão do atual clima político nos Estados Unidos, onde a simples existência de pessoas queer tem sido amplamente debatida, e até repreendida. No cenário atual, a epresentação LGBTQIAP+ em uma mídia infantil certamente seria alvo de debates acalorados e a Pixar deixou claro não querer comprar essa briga.
Anteriormente, em Divertida Mente 2, decisões relacionadas a sexualidade da Riley já haviam gerado grande repercussão. O filme deu alguns indicíos sobre a personagem ser bissexual, mas polêmicas na pré produção indicaram que a Disney estava tentando deixar a personagem “menos gay” para o lançamento.
Em um cenário politico-social onde a mera existência dessas pessoas se torna um grande ato de resistência, as escolhas polêmicas da Pixar podem colocá-los em uma posição aversa a essas pautas tão necessárias. O estúdio, que poderia emergir como um forte aliado a causa, acabou por tomar a decisão mais fácil ao se abster de qualquer posicionamento favorável à comunidade.
Aparentemente, a onda de representatividade que quase atingiu o estúdio nos últimos anos, foi completamente descartada e o retrocesso fica cada vez mais claro no lançamento das atuais produções.
Ganhar ou Perder está disponível no Disney+.