O mundo do gênero true crime ganhou mais um capítulo sombrio com a estreia de Crime de uma Dinastia: O Caso Murdaugh no Hulu (disponível no Brasil via Disney+). Essa minissérie de oito episódios, criada por Michael D. Fuller e Erin Lee Carr, mergulha no escândalo da família Murdaugh – uma dinastia de advogados sul-carolinianos que controlava a justiça local por gerações, até desabar em meio a mortes violentas, fraudes financeiras e vícios.
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Inspirada no podcast Murdaugh Murders, da jornalista Mandy Matney (interpretada por Brittany Snow na série), a produção dramatiza eventos reais que chocaram os EUA entre 2019 e 2023. Jason Clarke vive o patriarca Alex Murdaugh, Patricia Arquette é sua esposa Maggie, e o elenco inclui J. Smith-Cameron e Johnny Berchtold. Mas por trás do glamour televisivo, há uma saga de poder corrupto e tragédias que ecoam o sul gótico americano. Vamos aos fatos reais que inspiraram a trama.
O Legado dos Murdaugh: “Murdaugh Country” e o Poder Absoluto
A família Murdaugh era sinônimo de influência na Lowcountry da Carolina do Sul, uma região rural de pântanos e plantações antigas. Randolph Murdaugh Sr. fundou o escritório de advocacia em 1920 e serviu como xerife do 14º Circuito Judicial por 33 anos – um cargo vitalício que passou para seu filho, Randolph “Randy” Murdaugh Jr., e depois para o neto, Randolph Murdaugh III (pai de Alex). Locais chamavam a área de “Murdaugh Country”: eles manipulavam júris, cobravam indenizações milionárias em acidentes e viviam em luxo ostensivo na ilha de Moselle, uma propriedade de 2 mil acres com celeiros e cachoeiras artificiais.
Alex, nascido em 1966, cresceu nesse império: formou-se em direito na Universidade da Carolina do Sul, casou com Maggie (herdeira de uma família de plantadores) em 1996 e teve dois filhos, Buster (1991) e Paul (1999). De fora, pareciam intocáveis – até 2019.
O Acidente de Barco de Paul: A Faísca que Acendeu o Fogo
Tudo começou em 24 de fevereiro de 2019, quando Paul, então com 19 anos, dirigia um barco da família alcoolizado e colidiu com a ponte Archers Creek, em Beaufort. A bordo estavam cinco amigos adolescentes; o barco afundou, e Mallory Beach, 19 anos, morreu afogada. Paul, bêbado e sem licença de pilotagem, fugiu da cena – um vídeo de segurança o mostrou discutindo com a namorada horas antes. Ele foi indiciado por três crimes graves: navegação sob influência, causando morte e lesões graves.
A família de Mallory processou os Murdaugh por morte por negligência, expondo o vício em álcool de Paul e a leniência dos pais. Alex tentou encobrir: ofereceu US$ 500 mil em um acordo secreto, mas o caso arrastou-se, pressionando as finanças da família. Paul aguardava julgamento, mas nunca chegaria lá.
Os Assassinatos de Paul e Maggie: O Duplo Homicídio que Abalou o Império
Em 7 de junho de 2021, Alex ligou para o 911 aos prantos: encontrou Paul, 22, e Maggie, 52, mortos a tiros na varanda da casa em Islandton. Paul levou dois tiros de escopeta na cabeça e peito; Maggie, quatro de fuzil no torso e cabeça. A cena era brutal: sangue por toda parte, moscas zumbindo. Alex alegou estar visitando sua mãe idosa com Alzheimer, a 15 minutos dali, mas câmeras de segurança e álibis desmentiram. Dias antes, Alex pediu demissão do escritório familiar após ser pego roubando US$ 792 mil de clientes em um esquema de fraude de seguros (ele desviou mais de US$ 4,2 milhões ao longo de anos, financiando um vício em opioides via pilhagem de vítimas de acidentes). A promotoria argumentou: Alex matou a família para desviar atenção das fraudes e ganhar pena por um suposto atentado contra si mesmo (ele encenou um tiro na cabeça em uma estrada, fingindo roubo).
Em março de 2023, após um julgamento de seis semanas transmitido ao vivo, Alex foi condenado por duplo homicídio e sentenciado a duas prisões perpétuas consecutivas – sem liberdade condicional. Ele cumpre pena na prisão de Kirkland, apelando da decisão.
Outros Escândalos: A Morte da Empregada e Fraudes Milionárias
O caso revelou mais podridão. Em 2018, Gloria Satterfield, empregada leal dos Murdaugh há 20 anos, “caiu” na escada de Moselle e morreu – Alex chamou o irmão de um amigo para cremar o corpo sem autópsia, alegando acidente. Anos depois, descobriu-se que ele forjou um acordo de US$ 4 milhões com a família dela, roubando o dinheiro via cúmplices. Alex se declarou culpado de 22 acusações financeiras em novembro de 2023, pegando mais 40 anos. O irmão Randy Murdaugh III morreu de pneumonia em fevereiro de 2021, semanas após os assassinatos.
Buster, o filho sobrevivente, testemunhou contra o pai e foi absolvido de envolvimento, mas processado por agressão em 2018 (ele atirou em um amigo durante uma briga). A família pagou US$ 8,8 milhões à família de Mallory em 2023.
Como a Série Dramatiza Isso? Do Podcast à Tela
Crime de uma Dinastia: O Caso Murdaugh usa o podcast de Mandy Matney – que quebrou exclusivas desde o acidente de barco, com mais de 90 episódios co-hospedados por Liz Farrell – como base. A jornalista, que virou alvo de ameaças dos Murdaugh, é personagem central na série, destacando o papel da mídia na queda da família.
Críticos como o USA Today chamam a produção de “exploratória”, focando na decadência interna: vício de Alex, tensões conjugais e o peso do legado. Episódios iniciais (os três primeiros saem de cara) recriam o acidente, os assassinatos e o julgamento, com toques ficcionais para intimidade emocional – como diálogos imaginados entre Paul e Maggie.
A showrunner Erin Lee Carr, de documentários como Mommy Dead and Dearest, dirigiu o Episódio 5, explorando casos ligados, como a morte não resolvida de Stephen Smith em 2015 (rumores apontavam envolvimento de Paul). É uma visão “de dentro da casa”, mas sem romantizar: Alex é retratado como um “monstro criado pelo poder”, segundo Matney.
Essa história real expõe como privilégio pode corromper: os Murdaugh usaram influência para encobrir crimes por décadas, até o colapso total. No Brasil, onde escândalos de elite ecoam, é um lembrete perturbador.
Os três primeiros episódios de Crime de uma Dinastia: O Caso Murdaugh estão disponíveis no Hulu/Disney+. Novos episódios serão exibidos às quartas-feiras.
