Técnica

Wandinha: 2ª temporada apresenta uma tradição icônica de Tim Burton de 43 anos Ahaggss

O detalhe “secreto” de Wandinha 2 que só fãs de Tim Burton sacam na hora

Wandinha: 2ª temporada apresenta uma tradição icônica de Tim Burton de 43 anos Ahaggss

A nova leva de episódios de Wandinha chega com um agrado especial para quem cresceu admirando o estilo sombrio–poético de Tim Burton. Em meio a reencontros, intrigas e mistérios em Nevermore, a série puxa do baú um recurso que acompanha a carreira do cineasta desde o início e, de quebra, dá um charme extra à narrativa.

Sem entregar tudo de cara: é aquele toque artesanal que você reconhece no primeiro olhar, a sensação de estar folheando um conto gótico animado, com textura, imperfeições bonitas e alma. Um retorno que conversa com a memória afetiva dos fãs e fortalece o clima único de Wandinha.

Tim Burton
Tim Burton

o momento em que a série abre a porta para o “Burton mais Burton”

Logo no episódio de estreia, “Here We Woe Again”, Wandinha retorna à Academia Nevermore, e não volta sozinha: Pugsley se junta à irmã, ampliando as possibilidades de história dentro do colégio dos Párias. Enquanto Pugsley conhece lendas locais, Ajax assume a narração de “O Conto da Árvore do Crânio”, e é aí que o visual muda de chave: entra a animação em stop-motion, marca registrada de Burton.

O pequeno filme dentro do episódio apresenta “um garoto brilhante com um coração frágil” que constrói um coração mecânico para sobreviver. Com o tempo, a genialidade vira obsessão, e o preço cobrado por essa fixação é alto. A parábola funciona na trama, mas também como um bilhete visual que diz: “sim, estamos no território de Tim Burton”.

Por que o stop-motion importa tanto para Burton?

A escolha não é um enfeite. Desde 1982, quando o diretor apresentou seu primeiro curta em stop-motion, essa técnica virou sinônimo do seu imaginário: atmosfera gótica, humor mórbido, personagens que parecem de outro mundo e, ainda assim, falam direto com a gente. O efeito é imediato: a sequência em Wandinha evoca esse repertório e coloca a série na mesma prateleira de experiências sensoriais que fizeram a fama do cineasta.

Dentro da narrativa, a técnica também cumpre um papel dramático. O conto animado espelha temas que cercam Wandinha: genialidade, isolamento, a fronteira tênue entre dom e maldição. Ao usar o stop-motion, a produção cria um respiro estilístico que reforça o subtexto da temporada sem quebrar o ritmo, pelo contrário, prende o olhar e turbina a imersão.

Wandinha está disponível na Netflix
Wandinha está disponível na Netflix

Uma tradição que atravessa décadas e volta a respirar na netflix

Chame de assinatura, de DNA ou de teimosia estética: o stop-motion é a tradição que acompanha Burton há 43 anos. Dos curtas dos anos 80 aos longas que conquistaram gerações, sua carreira alternou fases, formatos e parcerias, mas sempre que a técnica volta à cena, ela reorganiza tudo ao redor. É uma bússola criativa.

Ver essa linguagem reaparecer em Wandinha tem um efeito duplo. Reaproxima o público antigo, que reconhece as texturas de cara, e apresenta aos mais jovens a magia do trabalho manual, da “falha” bonita, do quadro a quadro que respira. Em tempos de imagens hiperpolidas, é quase um manifesto: a imperfeição também emociona.

Conheça os novos personagens da 2ª temporada de Wandinha

O que esse “retorno às origens” sinaliza para os próximos passos?

Não é coincidência que, nos projetos recentes, Burton tenha voltado a flertar com pequenas sequências em stop-motion. Quando um criador revisita com gosto sua linguagem de raiz, normalmente é porque há ideias maiores fermentando. Wandinha funciona, então, como laboratório e vitrine: a Netflix oferece escala e público global; o diretor, por sua vez, injeta personalidade e uma forma de contar história que ninguém mais tem.

Para a série, o ganho é imediato: a cena vira conversa, comentário, teoria de fã. Para Burton, é um lembrete de que existe apetite para um novo longa em stop-motion. Se e quando isso acontecer, Wandinha terá sido a ponte perfeita, e a audiência, o termômetro.

Wandinha
Jenna Ortega em Wandinha

Jenna Ortega, elenco afiado e a química que sustenta a ousadia visual

Nada disso funcionaria sem uma protagonista que segura o tom. Jenna Ortega mantém Wandinha entre o sarcasmo e a vulnerabilidade, e essa performance segura abre espaço para experimentações de linguagem sem quebrar o pacto com o público. Ao redor dela, o elenco retorna em boa forma, e os novatos entram no jogo com naturalidade.

Essa base sólida permite que a série estique a corda estética quando precisa. A sequência em stop-motion não parece um “clip” avulso, mas parte orgânica de um mundo que aceita o esquisito, honra o bizarro e transforma lendas em motores de trama.