
Nem sempre a narrativa de um crime gira apenas em torno da descoberta do autor. Muitas vezes, a dúvida recai sobre quem presenciou a cena e como relata os acontecimentos, e é nessa perspectiva que surge Você Faria o Mesmo, produção espanhola recém-chegada ao catálogo do Apple TV+.
A série se diferencia por apresentar um enredo marcado por diversas versões de um mesmo acontecimento, revelando como a memória e a percepção de cada pessoa podem distorcer a realidade. Em oito episódios, cada um com pouco mais de meia hora de duração, a narrativa se desenrola de forma compacta, sem perder a densidade de um bom suspense investigativo.

Um assalto que muda tudo
O ponto de partida é um assalto a mão armada em um ônibus nos arredores de Barcelona. O crime resulta na morte de três ladrões e deixa seis passageiros como testemunhas. Esses sobreviventes são convocados a depor, mas o que deveria ser uma narrativa linear logo se transforma em um mosaico de contradições.
Os relatos não se encaixam e deixam lacunas que levantam dúvidas sobre o que realmente ocorreu naquele dia. Cada depoimento revela falhas de memória, versões conflitantes ou até interesses ocultos, o que faz da investigação um quebra-cabeça em constante mutação.
É nesse cenário que entram em ação os detetives Fran Garza e Rebeca Quirós. Além da relação profissional, eles compartilham um passado pessoal, o que influencia na maneira como conduzem o caso. A dupla precisa conciliar a investigação e, ao mesmo tempo, enfrentar os dilemas trazidos pela convivência entrelaçada pelo trabalho e pela vida íntima.

Estrutura narrativa envolvente
O recurso de alternar versões de um mesmo evento dá ritmo à trama e mantém o espectador em alerta a cada novo episódio. As contradições se acumulam e exigem atenção redobrada para entender quais pontos podem se aproximar da verdade.
Cada capítulo é construído em torno de um ponto de vista, permitindo que a história avance mesmo quando parece retroceder. Essa dinâmica instiga o público a questionar até que ponto a lembrança de uma testemunha é confiável ou se a omissão de detalhes pode esconder responsabilidades maiores.
Essa caracteristica coloca o telespectador em uma posição de júri e investigador, onde cada detalhe importa e conduz quem assiste a tentar desvendar o mistério junto aos detetives.
Com episódios curtos, a série se encaixa tanto em uma maratona quanto em sessões mais espaçadas. A concisão de cada parte reforça a sensação de estar diante de um quebra-cabeça, em que peças importantes surgem em momentos inesperados.

Elenco e produção
No elenco, Pablo Molinero interpreta o detetive Fran, enquanto Ana Polvorosa dá vida à investigadora Rebeca. A química entre os dois sustenta boa parte da série, já que os personagens precisam equilibrar profissionalismo e lembranças pessoais enquanto seguem com o caso.
Outros nomes importantes do audiovisual espanhol, como Michelle Jenner e José Manuel Poga, também participam, reforçando o peso do projeto. A criação é de David Victori e Jordi Vallejo, dupla que já explorou narrativas intensas em outras produções.
A produção executiva é assinada por Anxo Rodriguez, garantindo o tom consistente da série. É um trabalho que reforça a presença da Espanha dentro do catálogo internacional do Apple TV+.