O terceiro episódio de The Last of Us, intitulado “O Caminho”, é um ponto fora da curva, no melhor sentido possível. Em meio ao caos, aos infectados e à brutalidade de um mundo devastado, a série da HBO encontra tempo para algo raro em narrativas pós-apocalípticas: contar uma história de amor genuína, complexa e profundamente trágica.
Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) surgem como personagens secundários no jogo original. No entanto, a série decide expandir essa relação, transformando-a em um capítulo isolado, quase teatral, onde a sobrevivência deixa de ser o foco principal.
A desconstrução do “sobrevivente durão”
Quando Bill aparece pela primeira vez, ele é a personificação do clichê do “lobo solitário”: paranoico, armado até os dentes, preparado para o pior. Mas The Last of Us desconstrói essa imagem gradualmente, revelando um homem solitário, carente e profundamente humano.
Frank entra em cena como uma quebra desse isolamento, não apenas invadindo seu território, mas também desarmando suas barreiras emocionais. A atuação de Nick Offerman é uma surpresa à parte.
Conhecido por papéis cômicos, ele entrega aqui uma performance contida e comovente, marcada por silêncios cheios de significados. Murray Bartlett, por sua vez, dá vida a um Frank sensível e caloroso, que nunca permite que a tragédia ao redor apague sua humanidade.
O amor como resistência silenciosa
Em meio a tantas produções que tratam o amor como fraqueza, The Last of Us escolhe o caminho oposto. Bill e Frank constroem uma vida juntos: cultivam a terra, preparam jantares, discutem sobre decorações e músicas. É uma existência pequena, mas cheia de sentido, justamente porque está cercada por um mundo onde o sentido foi perdido.
A decisão final do casal, escolher morrer juntos em vez de seguir sozinhos, não é um gesto de derrota, mas de plenitude. Eles viveram como quiseram, amaram sem pedir permissão e morreram nos próprios termos. Poucas narrativas tiveram coragem de mostrar o amor como algo tão poderoso quanto qualquer arma.
O legado de Bill e Frank na jornada de Joel e Ellie
Apesar de parecer isolado, o episódio tem impacto direto na narrativa principal. A casa de Bill se torna refúgio para Joel e Ellie. A carta deixada por ele, dirigida a Joel, se torna um ponto de virada emocional. “Proteja quem você ama”, diz Bill, e é isso que move Joel dali em diante.
Ou seja: o amor de Bill e Frank não morre com eles. Ele ecoa, transforma, inspira. E no mundo de The Last of Us, onde tudo parece estar condenado, isso é mais valioso do que qualquer arma ou suprimento.
Bill e Frank viveram e morreram juntos. E nós, espectadores, ficamos com o coração apertado, lembrando que mesmo em mundos quebrados, o amor ainda é possível, e necessário.
The Last of Us está disponível na Max. A 2ª temporada é transmitida semanalmente, aos domingos, a partir das 22h