A nova temporada de Star Trek: Strange New Worlds finalmente estreou com dois episódios inéditos — mas, por enquanto, apenas no Paramount+ dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.
Apesar do hiato de quase dois anos entre temporadas, a série retorna fiel à sua proposta de contar histórias envolventes com foco nos personagens, sem abrir mão de dialogar com o legado de Star Trek.
Desta vez, no entanto, Strange New Worlds resolve de forma direta uma das críticas mais frequentes de parte do fandom: a maneira como os Gorn vinham sendo retratados e o impacto disso na coerência com a série original.
A ameaça dos Gorn chega ao fim
O primeiro episódio da temporada, “Hegemony – Parte II”, conclui a narrativa que havia deixado a Enterprise em situação crítica. A ameaça dos Gorn, desenvolvida desde a primeira temporada, ganha um desfecho funcional, com os inimigos entrando em estado de hibernação.
A solução resolve grande parte da preocupação dos fãs, justificando a ausência da raça até os eventos da clássica “Arena”, da série original de Star Trek. Ao mesmo tempo, o episódio também é emocionalmente intenso.
A capitã Batel, companheira de Pike, sobrevive por pouco após ser infectada por ovos Gorn, e a situação chega a um ponto em que Pike recorre à fé como último recurso, algo raro dentro da lógica da Frota Estelar.
Já o segundo episódio da temporada, “Wedding Bell Blues”, muda completamente o tom. Após um salto temporal de três meses e uma parada em Starbase One, a Enterprise passa por reparos e reencontros.
Chapel retorna acompanhada de Roger Korby, agora apresentado como seu noivo, encerrando qualquer possibilidade de retomada do romance com Spock. É também nesse episódio que a série confirma uma teoria antiga dos fãs.
Conexões com a série original ganham forma
Em tom mais leve e cômico, o episódio introduz Trelane, aqui interpretado por Rhys Darby. A revelação vem de forma indireta, mas clara para quem conhece o universo da franquia.
Trelane, agora tratado como um ser do Q Continuum, encerra sua participação da mesma maneira que em “The Squire of Gothos”, transformando-se em luz enquanto seu pai, com voz de John de Lancie, o repreende — conectando o personagem à linhagem dos Q com coerência.
Ao mesmo tempo em que encerra uma linha narrativa sobre os Gorn, Strange New Worlds reafirma seu compromisso com o legado da franquia, ainda que siga criando em seus próprios termos.
A série não evita referências, mas também não se prende a elas. O equilíbrio entre liberdade criativa e respeito ao passado parece ser uma das marcas centrais da nova temporada.
O formato episódico da série contribui para essa liberdade. Assim como a série clássica, Strange New Worlds permite variações de gênero e tom a cada episódio e a estreia da terceira temporada ilustra bem esse conceito.
Humor e drama seguem lado a lado
A mistura de episódios mais densos com outros completamente irreverentes já virou assinatura da série (e também alvo de críticas). Parte do público gostaria de ver uma abordagem mais séria e linear, como em Discovery ou Picard, mas Strange New Worlds parece confortável nessa diversidade, mesmo com uma temporada mais curta.
Essa decisão criativa, porém, reforça um dos pontos mais fortes da produção: o foco nos personagens e na forma como eles reagem aos eventos, mais do que os eventos em si. Pike, Spock, Chapel, Ortegas e companhia continuam sendo o eixo emocional da série, e é por meio deles que a conexão com os fãs se mantém firme.
O público mais atento também percebe que a série vem, aos poucos, construindo a transição para o elenco da série original. Roger Korby já está presente, Chapel se encaminha para seu destino conhecido, e o jovem Kirk continua participando pontualmente.
Com a confirmação de que Strange New Worlds vai terminar na quinta temporada, os episódios atuais ganham um novo peso. A produção sabe que tem um número limitado de capítulos para amarrar os principais arcos e a fazer a ponte para a série original.
Para quem acompanha há anos ou está apenas começando, essa temporada deve reforçar o que muitos já perceberam: Strange New Worlds é, ao mesmo tempo, uma carta de amor ao cânone e uma demonstração de como reinventar sem perder o espírito original.