
Filmes de terror são, por natureza, uma experiência coletiva. Poucas coisas se comparam a ir ao cinema com um grupo de amigos para assistir ao mais recente lançamento do gênero ou reunir todo mundo em casa para uma noite de sustos compartilhados. Os gritos, as risadas nervosas e os comentários durante as cenas mais tensas criam um vínculo único entre os espectadores, uma espécie de catarse em grupo que só o terror proporciona.
Por outro lado, assistir a uma série de terror na TV costuma ser uma atividade mais solitária. Nem sempre é fácil reunir companhia para maratonar episódios assustadores, especialmente quando se trata de uma produção mais longa. No entanto, há programas tão intensos, perturbadores ou emocionalmente devastadores que vale a pena fazer um esforço para não enfrentá-los sozinho. Às vezes, ter alguém por perto é o que torna a experiência suportável ou ainda mais divertida.
De zumbis a cultos demoníacos, de fantasmas vingativos a canibais sinistros, algumas séries conseguem levar o terror a um nível tão profundo que podem deixar marcas duradouras no espectador. E o horror não é o único motivo para querer companhia: algumas dessas histórias são tão tristes e angustiantes que assistir sozinho pode deixar qualquer um abalado. O sofrimento dos personagens, os temas pesados e os desfechos inesperados muitas vezes exigem uma dose extra de apoio emocional.
Portanto, se você está pensando em começar uma dessas séries, talvez seja uma boa ideia chamar alguém para assistir junto. Compartilhar o medo, ou a tristeza, pode transformar a experiência, tornando-a menos assustadora e mais memorável. Afinal, certas histórias não foram feitas para serem vividas a sós.

American Horror Story
Pode parecer surpreendente que Ryan Murphy, o criador da vibrante comédia musical adolescente Glee, também esteja por trás de American Horror Story, uma das séries mais aterrorizantes da televisão. No entanto, essa dualidade criativa não é inédita em sua carreira, afinal, ele também foi responsável por Nip/Tuck, um drama que já flertava com o horror por meio de suas cirurgias plásticas sangrentas e perturbadoras.
A estrutura de antologia de American Horror Story permite que cada temporada explore um novo cenário e temática. Algumas são mais apavorantes do que outras, mas todas compartilham uma atmosfera inquietante e perturbadora. Afinal, o que realmente assusta varia de pessoa para pessoa. Seja com bruxas, palhaços sinistros ou casas mal-assombradas, é quase certo que alguma temporada da série toque exatamente nos seus maiores medos.
Um dos grandes trunfos da produção é seu elenco rotativo de alto nível. Atores como Sarah Paulson, Denis O’Hare, Kathy Bates, Chloë Sevigny, Wes Bentley e Jessica Lange assumem papéis diferentes a cada temporada, demonstrando sua versatilidade e mergulhando de cabeça em performances intensas e memoráveis, muitas vezes, assustadoramente cativantes. Onde ver: Disney+.

Arquivo X
Arquivo X ainda mantém, sem dúvida, aquele “fator X” quando o assunto é causar medo, especialmente nas primeiras temporadas. David Duchovny e Gillian Anderson interpretam os agentes do FBI Fox Mulder e Dana Scully, encarregados de investigar os casos mais inexplicáveis do departamento. Suas missões os levam por uma longa e intrigante narrativa envolvendo abduções e planos de colonização alienígena. No entanto, os sustos mais memoráveis costumam vir dos famosos episódios no formato “monstro da semana”.
Basta lembrar de episódios como Squeeze e Tooms, da primeira temporada. Neles, conhecemos um homem capaz de esticar o próprio corpo para se espremer por espaços minúsculos. Ele constrói um ninho com sua própria bile e hiberna por décadas antes de voltar a matar. É grotesco, perturbador e inesquecível.
E depois vem Home, considerado por muitos o episódio mais assustador de toda a série. Tão chocante que foi banido das reprises na Fox após sua exibição original. Quanto menos você souber sobre ele, melhor, mas acredite: ele vai te deixar boquiaberto. Onde ver: Disney+.

The Walking Dead
Essa escolha pode ser mais perturbadora do que assustadora, mas em The Walking Dead, os maiores horrores nem sempre vêm dos gemidos dos “caminhantes” em decomposição, e sim das ações dos próprios humanos. Baseada na aclamada série de quadrinhos de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard, a produção da AMC acompanha um grupo de sobreviventes em um mundo devastado por um apocalipse zumbi, onde os mortos dominam a Terra.
Embora muitos dos sustos venham, de fato, dos zumbis com seus rostos desfigurados, grunhidos inquietantes e ataques repentinos que podem fazer você derrubar a pipoca, o verdadeiro terror está nas atitudes dos vivos. A série mostra, com crueza, como a luta pela sobrevivência pode corroer a moralidade e transformar pessoas comuns em verdadeiros monstros.
Enquanto os caminhantes atacam por puro instinto, alguns humanos agem com crueldade fria e calculada. E é justamente essa perversão da humanidade que torna The Walking Dead tão alarmante. No fim das contas, a série não apenas nos faz temer os mortos, mas também nos obriga a refletir sobre o que, de fato, significa estar vivo. Onde ver: Netflix e Disney+.

A Maldição da Residência Hill
A Maldição da Residência Hill, produção original da Netflix, é uma adaptação moderna e profundamente emocional do romance homônimo de 1959, escrito pela mestre do terror psicológico Shirley Jackson. Alternando entre diferentes períodos de tempo, a série acompanha um grupo de irmãos marcados por experiências traumáticas vividas durante a infância na enigmática Residência Hill, uma mansão cujos segredos sombrios continuam a assombrá-los na vida adulta.
O elenco é liderado por Michiel Huisman, Elizabeth Reaser, Oliver Jackson-Cohen, Kate Siegel e Victoria Pedretti, que interpretam as versões adultas dos irmãos Crain. Já Carla Gugino e Henry Thomas dão vida aos pais da família, Olivia e Hugh Crain, em atuações igualmente marcantes.
A força da série está tanto no terror visual quanto no emocional uma combinação rara. Um bom exemplo disso é o aclamado episódio “The Bent-Neck Lady”, eleito pela TV Line como o Melhor Episódio Único de Televisão (Drama) de 2018. A trama mergulha no fenômeno da paralisia do sono, e o faz de forma tão intensa que deixa uma marca duradoura nos espectadores. Se você tiver coragem de pesquisar sobre o assunto depois de assistir, prepare-se para noites mal dormidas.
Mais do que uma história de fantasmas, A Maldição da Residência Hill é um retrato angustiante sobre luto, trauma e os laços que nos unem, mesmo quando tentamos fugir deles. Onde ver: Netflix.

The Leftovers
Não há sensação mais devastadora do que assistir a um episódio verdadeiramente comovente de televisão e, ao final, perceber que você está sozinho na sala.
The Leftovers, da Max, é baseado no romance homônimo de Tom Perrotta e foi adaptado para a televisão por Damon Lindelof, criador de Lost. A série parte de uma premissa instigante: 2% da população mundial desaparece repentinamente, sem qualquer explicação um evento misterioso que lembra um arrebatamento, mas que ninguém consegue compreender.
Embora a base de ficção científica e o histórico de Lindelof tragam alguns mistérios complexos, o verdadeiro coração da série está no exame profundo do luto, da fé e da dor. A primeira temporada é especialmente angustiante, explorando como diferentes pessoas lidam com o trauma de uma perda inexplicável. Já as duas temporadas seguintes abraçam uma abordagem mais ousada e, por vezes, surreal, revelando o potencial mais estranho e fascinante da série.
Apesar de conter momentos sombrios e até perturbadores, The Leftovers não é uma história de terror convencional. O verdadeiro incômodo vem da solidão, do vazio existencial e das perguntas sem resposta elementos que podem ser ainda mais assustadores do que qualquer susto visual. Por isso, talvez seja melhor não encarar essa jornada emocional sozinho. Onde ver: Max.

Objetos Cortantes
Objetos Cortantes, da Max, é estrelada por Amy Adams em uma das performances mais intensas de sua carreira como Camille Preaker, uma repórter criminal marcada por um passado doloroso. Após anos lutando contra o alcoolismo e a automutilação e depois de um período internada em uma instituição psiquiátrica Camille retorna à sua cidade natal para cobrir o assassinato de duas meninas. Lá, além de enfrentar os horrores do caso, ela precisa encarar o convívio com sua mãe fria e controladora, vivida com perfeição inquietante por Patricia Clarkson.
Mais do que um simples thriller policial, Objetos Cortantes é um retrato sombrio e delicado da depressão, do trauma e da autodestruição. Os flashbacks fragmentados e desordenados revelam uma mente profundamente marcada, e a automutilação de Camille é retratada com uma honestidade dolorosa. Seu trabalho como repórter, longe de oferecer estabilidade, a empurra ainda mais para dentro de sua própria espiral de dor e confusão.
O que torna Objetos Cortantes tão perturbador e, ao mesmo tempo, tão poderoso é o fato de que sua história não depende de elementos sobrenaturais para assustar. O terror aqui é emocional e psicológico, e reflete com precisão a realidade de muitas pessoas que vivem presas em suas próprias feridas. O isolamento de Camille e sua relação fraturada com a família tornam esta série um desafio emocional para quem já passou por algo semelhante.
Camille pode estar sozinha em sua jornada, mas você não precisa estar. Ao assistir Objetos Cortantes, é recomendável ter companhia não apenas por conforto, mas para ajudar a carregar o peso dessa narrativa tão cruel quanto real. Onde ver: Max.

Hannibal
Hannibal Lecter, o icônico vilão criado pelo romancista Thomas Harris e eternizado por Anthony Hopkins em O Silêncio dos Inocentes, já foi interpretado por diversos atores ao longo dos anos. Brian Cox deu vida ao personagem em Caçador de Assassinos (1986), enquanto Gaspard Ulliel assumiu o papel em Hannibal, A Origem do Mal. No entanto, foi na série televisiva Hannibal que Mads Mikkelsen entregou talvez a versão mais elegante, perturbadora e assustadora do canibal sofisticado.
Ao lado de Mikkelsen, Hugh Dancy interpreta Will Graham, um investigador do FBI com a habilidade, e maldição, de se conectar profundamente à mente de assassinos em série para compreendê-los. À medida que Will mergulha nesses horrores, ele se aproxima perigosamente de Hannibal, seu psiquiatra e, eventualmente, adversário.
Com três temporadas, Hannibal impressiona não apenas pela qualidade da atuação e da direção de arte, mas também pelo fato de ter sido exibida na rede aberta NBC, um feito notável, considerando seu conteúdo gráfico e atmosfera sombria. A série levou o horror a novos patamares na televisão tradicional, tanto que chegou a ser censurada por alguns afiliados da emissora.
O crítico Scott Pierce, do The Salt Lake Tribune, ilustrou bem esse incômodo ao questionar: “Você já deu uma olhada na série da NBC Hannibal? Aqui estão algumas coisas que talvez tenha perdido: o corpo nu de uma mulher empalado em chifres; corpos esculpidos de forma que as costas se abrem como asas de anjo grotescas; personagens jantando partes do corpo humano; vítimas enterradas vivas e alimentadas com água adoçada para cultivarem fungos; olhos arrancados; gargantas cortadas com sangue jorrando em câmera lenta.”
Sim, isso é Hannibal, visceral, estilizado, chocante. Uma experiência visual tão bela quanto perturbadora, que redefine os limites do terror psicológico na TV aberta. Onde ver: Prime Video.