Desde o início dos anos 2000, a saga Harry Potter se consolidou como um dos maiores fenômenos da literatura e do cinema. Apesar do sucesso incontestável, a adaptação cinematográfica pecou bastante na hora de passar algumas histórias e elementos para as telas, algo que até hoje incomoda alguns fãs.
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Em busca de condensar a trama em longas-metragens, muitos personagens tiveram seus papéis diminuídos ou modificados de forma significativa. Entre os mais prejudicados por essas escolhas estão Dobby, o elfo doméstico, e Neville Longbottom, o aluno da Grifinória que cresceu diante dos leitores ao longo da saga.
Os dois se tornaram personagens muito queridos do público, e quem não leu os sete livros, mal pode imaginar as grandes alterações que ambos sofreram em suas histórias. Agora, com a série da Max que está em desenvolvimento, podemos esperar uma adaptação mais fiel da jornada de Dobby e Neville, que podem finalmente receber seu espaço merecido.
O apagamento de Dobby nos filmes
Dobby surgiu em A Câmara Secreta e rapidamente se tornou um dos personagens mais queridos, tanto na literatura quanto no cinema. Nos livros, ele volta a aparecer em vários momentos importantes, principalmente em O Cálice de Fogo, quando desempenha um papel central na saga.
Durante o quarto livro, é Dobby quem providencia a gillyweed para que Harry possa respirar debaixo d’água durante a segunda tarefa do Torneio (e não Neville). Além disso, ele tem forte ligação com o movimento de Hermione pela libertação dos elfos (F.A.L.E.), ajudando a preparar roupas para libertar os colegas elfos.
Dobby, inclusive, só não aparece em O Prisioneiro de Azkaban, mas marca presença em todos os outros livros após sua primeira aparição. Em A Ordem da Fênix, ele surge como aliado dentro de Hogwarts na luta contra Umbridge, e é o responsável por encontrar a Sala Precisa. Já em O Enigma do Príncipe, ele volta a auxiliar os protagonistas em tarefas discretas; e em Relíquias da Morte tem sua despedida heroica.
No cinema, porém, todas essas participações foram cortadas, deixando de lado seu crescimento e quase todo o impacto que tinha sobre os protagonistas. Até mesmo ações cruciais, como fornecer a erva gillyweed para Harry, foram transferidas para outros personagens.
Neville prejudicado
Parte da importância de Dobby foi entregue a Neville Longbottom nas adaptações. Mas, apesar de ter ganhado algumas dessas funções extras, ele também foi prejudicado pelos cortes. Sua história pessoal quase não apareceu nos filmes, e esse passado era essencial para explicar a real força de seu amadurecimento.
Seus pais, Frank e Alice Longbottom, eram integrantes da Ordem da Fênix e foram torturados por Comensais da Morte até perderem a sanidade. Eles permaneceram internados no St. Mungo, o que marcou profundamente a infância de Neville. Durante os livros, existem várias passagens que acontecem no hospital, além de todas as camadas emocionais que isso acrescenta ao personagem.
Além disso, fato pouco conhecido por aqueles que só assistiram os filmes, é que a profecia feita por Sybila Trelawney em Enigma do Príncipe poderia se aplicar tanto a Harry quanto a Neville, já que os dois nasceram no final de julho e tinham caracteristicas que se encaixavam, colocando-o no centro de uma dúvida que permeia toda a saga.
Nos livros, o personagem representa uma superação gradativa muito mais evidente. Sempre atrapalhado e inseguro, ele cresce a cada volume até se tornar um dos heróis da Batalha de Hogwarts. Sua coragem ao se levantar diante de Voldemort e destruir a última Horcrux com a espada de Gryffindor é um dos pontos altos da série literária e resultado de tudo que viveu anteriormente.
No cinema, apesar de ter esse momento, sua trajetória de amadurecimento recebeu pouco tempo de tela e não teve a mesma atenção. Faltou mostrar o contraste entre o menino tímido do início e o líder corajoso do fim. Sem essa construção, o impacto de seu ato final perde parte da força que tem nos livros.
A chance da série em corrigir os rumos
Com uma temporada dedicada a cada livro, a série da Max terá tempo para explorar detalhes que os filmes deixaram de lado, incluindo recuperar as diversas aparições de Dobby e mostrar sua luta pela liberdade dos elfos de forma mais completa, sem depender apenas de uma cena dramática no final da saga.
Para Neville, a série poderá dar mais espaço ao seu passado familiar, às visitas a St. Mungo e ao peso que carrega por conta da profecia. Mostrar esse contexto é essencial para que o público compreenda sua evolução de aluno desajeitado para herói.
Ao devolver a Dobby e Neville o protagonismo que sempre tiveram nos livros, a nova adaptação pode corrigir uma das maiores falhas dos filmes. Mais do que simplesmente recontar a mesma história, a série tem a oportunidade de valorizar personagens e narrativas que foram deixadas de lado ao longo da adaptação cinematrográfica.
