Desde sua estreia, Sereias tem gerado curiosidade com sua trama envolvente, e também pela dúvida que ronda muitas produções inspiradas em relações humanas: afinal, a série da Netflix é baseada em uma história real?
Com uma narrativa que explora temas como privilégio, poder e as relações de irmandade em um ambiente marcado pela ostentação e pela desigualdade, a série levanta questões sobre até que ponto os personagens e situações retratados têm origem em fatos concretos.
Embora a trama seja ficcional, suas raízes estão em experiências reais de sua criadora Molly Smith Metzler.
A origem teatral da trama
Sereias é uma adaptação da peça “Elemeno Pea”, escrita por Metzler em 2011, quando ainda era estudante em Juilliard. A obra já tratava das diferenças de classe social através da história de duas irmãs com realidades opostas, ambientada em uma casa luxuosa na região de Martha’s Vineyard, em Massachusetts.
Na série, essa estrutura foi mantida, mas expandida para incluir novos personagens e conflitos. O enredo acompanha Devon, que visita a irmã Simone na casa onde ela trabalha, e acaba se envolvendo nos dramas e segredos da patroa Michaela Kell, interpretada por Julianne Moore.
Apesar de algumas situações serem levadas ao extremo, o cerne emocional segue fiel ao texto original. No verão de 2000, antes de escrever a peça, Metzler passou uma temporada trabalhando em Martha’s Vineyard. Durante esse período, ela cuidava de crianças em casas luxuosas e atuava como garçonete em clubes exclusivos.
Foi nesse contexto que teve contato com os bastidores da elite norte-americana e vivenciou, como espectadora, os contrastes sociais que depois iriam inspirar sua escrita. A autora relatou que conviveu com diferentes “tipos” de riqueza: do prestígio hereditário à ostentação recente, observando como os códigos de conduta mudavam conforme a origem da fortuna.
Realismo disfarçado de ficção
Embora os personagens da série não sejam reais, eles foram moldados a partir de comportamentos e situações observados por Metzler. A criadora destacou que queria explorar como a classe social funciona como uma “performance” e como os papéis atribuídos a cada um, especialmente às mulheres, podem ser restritivos e, ao mesmo tempo, negociáveis.
Para isso, ela usou elementos simbólicos, como o nome “Sereias” e a figura de Michaela, que é rica, sedutora e cercada de mistérios. A proposta era justamente subverter a ideia de que a mulher poderosa deve ser temida ou desmascarada, propondo uma visão mais complexa.
O relacionamento entre a anfitriã e Peter, por exemplo, carrega resquícios da estrutura original da peça. Na versão teatral, o marido nem aparece em cena, mas seu poder simbólico está presente. Na série, o personagem ganha corpo e é vivido por Kevin Bacon, acrescentando uma parte importante das discussões sobre gênero e poder.
Em resumo, Sereias não é baseada em uma história real, mas tem origem em experiências pessoais que deram suporte a uma narrativa inventada.
Sereias está disponível no catálogo da Netflix.