
Ao longo dos seis primeiros episódios da nova temporada de Sandman, vemos Morpheus se aproximar de questões mais pessoais e dolorosas do que em qualquer outro momento da série.
Sua busca pelo paradeiro do Irmão Destruição o obriga a reabrir feridas antigas, culminando em um gesto que desafia as leis da sua própria existência. O desfecho da Parte 1 se revela como um dos momentos mais marcantes da série até aqui.
O reencontro entre Morpheus e seu filho Orfeu, depois de séculos de distanciamento, é o ponto central desse encerramento. A história dos dois remonta à mitologia clássica, mas também carrega camadas complexas que tornam essa parte tão impactante quanto essencial para o futuro da trama.
O preço de um reencontro
Orfeu, filho de Morpheus com a musa Calíope, vive isolado em uma ilha desde que teve o corpo despedaçado por um culto devoto a Dionísio. Reduzido a uma cabeça viva e consciente, ele nunca superou a perda de Eurídice e, num ato desesperado, rompeu com o pai ao pedir pela própria morte.
Morpheus, incapaz de matá-lo e proibido pelas leis dos Perpétuos de derramar sangue familiar, o deixou aos cuidados de um grupo de sacerdotes e nunca mais retornou. Até agora.
Para encontrar Destruição, Morpheus precisa da ajuda de Orfeu. Em troca, o filho exige que seu desejo antigo finalmente seja atendido. Dessa vez, o pedido não é recusado e, em uma cena silenciosa e devastadora, Morpheus concede a morte ao filho, num ato que carrega peso simbólico, emocional e mitológico.
Uma escolha sem volta
O ato de matar o próprio filho é mostrado como uma ruptura irreversível. Morpheus, que sempre preservou a rigidez diante dos sentimentos, é visto chorando pela primeira vez. Para o protagonista, a escolha representa tanto um gesto de amor quanto uma violação do que lhe é mais essencial enquanto entidade eterna.
Ainda que o gesto traga paz a Orfeu, também desencadeia consequências imediatas. Ao derramar sangue de um membro da família, mesmo com consentimento, Morpheus atrai a atenção das Fúrias, deusas da vingança conhecidas nos quadrinhos como as Benévolas.
Destruição fora do mapa
A busca pelo irmão ausente revela que Destruição vive ao lado do templo de Orfeu, em uma ilha próxima e ensolarada onde leva uma vida tranquila. A ironia do esconderijo está justamente no fato de que Morpheus, por própria escolha, nunca se aproximaria daquele lugar.
Destruição compartilha um último conselho com o irmão antes de partir definitivamente. Ele afirma que sua renúncia foi motivada por amor à humanidade e aos mundos que existem, e que, apesar da dor que causou, abandonar o cargo foi a escolha certa.
Ele parte levando consigo um cão falante chamado Barnabás, deixando Morpheus sozinho com as implicações do que acaba de fazer.
O que esperar da Parte 2
O final da Parte 1 estabelece o próximo grande conflito da série. Agora que Morpheus desafiou a maior das proibições dos Perpétuos, o cerco das Benévolas deve se intensificar.
A série se encaminha para adaptar o arco “Entes Queridos”, uma das fases mais densas e violentas dos quadrinhos, marcada pela perseguição implacável contra o Senhor dos Sonhos.
Com uma atmosfera cada vez mais sombria, Sandman prepara o terreno para uma parte final repleta de perdas, confrontos internos e transformações profundas.