Tem histórias que a gente acha que já conhece, até que uma série da Netflix reabre a ferida. Foi o que aconteceu com Monstro: A História de Ed Gein, que estreou no dia 3 de outubro e deixou o público obcecado por uma figura quase esquecida: Adeline Watkins.
Quem era essa mulher? Namorada, cúmplice, ou apenas uma alma perdida que cruzou o caminho do homem que inspirou Psicose, O Massacre da Serra Elétrica e O Silêncio dos Inocentes?
A mulher por trás do mito
Quando Ed Gein foi preso em 1957, o mundo descobriu o “açougueiro de Plainfield” e ficou em choque com o que ele havia feito. No meio de toda essa loucura, surgiu Adeline Watkins, uma mulher simples, de Wisconsin, dizendo ter vivido um romance de mais de vinte anos com ele.
Numa entrevista ao Minneapolis Tribune, ela contou que Ed era “doce e gentil”, que os dois gostavam de ler e assistir filmes juntos. Segundo ela, ele até chegou a pedi-la em casamento. É quase impossível acreditar que o mesmo homem que inspirou tantos vilões icônicos tenha sido descrito assim.
Mas, pouco tempo depois, Adeline desmentiu tudo. Disse que haviam distorcido suas palavras e que, na verdade, os dois eram apenas amigos. Mesmo assim, a história já tinha se espalhado. E o mito da mulher que “amou o monstro” nunca mais saiu da cabeça das pessoas.
O amor que nunca existiu
Talvez o mais perturbador não seja o que aconteceu entre eles, mas o que poderia ter acontecido. Muitos psicólogos dizem que Ed via em Adeline uma tentativa de preencher o vazio deixado pela mãe, Augusta.
Enquanto a mãe o sufocava com culpa e religiosidade, Adeline representava o oposto: carinho, leveza, liberdade. É estranho pensar que, na mente de um assassino, o amor podia ser confundido com obediência ou controle.
Mas é isso que a série mostra tão bem: a relação dos dois como um reflexo distorcido da necessidade humana de ser aceito. Na história real, não há provas de que Ed e Adeline tenham sido um casal. Afinal, o que é mais assustador: o crime em si, ou a ideia de que o mal também pode desejar amor?
Entre a ficção e a verdade
Suzanna Son, que interpreta Adeline em Monstro: A História de Ed Gein, falou que tentou dar à personagem “um olhar de compaixão”. E dá pra sentir isso em cada cena. Adeline é quase uma sombra no caminho de Gein, uma lembrança do que ele nunca poderia ser.
Historicamente, nada prova que ela tenha sido sua namorada de fato. Não há fotos, cartas, registros. Só um punhado de depoimentos confusos que a mídia da época explorou até o limite. Mesmo assim, ela continuou voltando, em livros, filmes e agora na Netflix.
E talvez o motivo seja simples: a gente precisa acreditar que até os monstros têm um lado humano. É um jeito de nos confortar, de pensar que o mal não é completamente incompreensível. Mas será que é mesmo? Ou é só uma forma de disfarçar o medo?
O que a série da Netflix revela
No episódio final de Monstro: A História de Ed Gein, há uma cena que diz tudo. Ed, já doente, reencontra Adeline em uma espécie de delírio. Ela promete continuar o que ele começou, mas ele pede que não faça isso.
É a primeira vez que o personagem demonstra arrependimento, e é justamente Adeline quem desperta esse último resquício de humanidade. Esse detalhe não está nos registros reais. É ficção. Mas é uma escolha poderosa.
A série transforma Adeline no espelho moral de Ed Gein, o “e se” da sua vida. E quando o roteiro decide substituí-la no lugar da mãe no final, é como se dissesse: o verdadeiro fantasma de Gein nunca foi Augusta, foi o amor que ele nunca conseguiu viver.
Monstro: A História de Ed Gein está disponível na Netflix.