Sereias se despediu do público com apenas cinco episódios, mas isso não impediu que a trama se tornasse relevante. Desde que chegou à Netflix, a minissérie com Julianne Moore, Milly Alcock e Meghann Fahy gerou discussão e especulações sobre uma possível segunda temporada, mas, para quem observa o final com atenção, a resposta pode já estar ali: a história acabou onde devia.
Mesmo com espaço para expansões, a narrativa se fecha com consistência. Todos os personagens chegam a um ponto de virada que define seus caminhos dali em diante. As perguntas em aberto são mais sobre possibilidades do que necessidades narrativas, e isso é justamente o que torna o desfecho eficiente.
Simone e Peter formam um ciclo fadado a repetir erros
Ao final da série, Simone ocupa o lugar que foi de Michaela como nova Sra. Kell. O problema é que Peter segue um padrão claro ao trocar de parceira em busca de juventude e controle quando sua crise de meia-idade se instala. Foi assim com Jocelyn, depois com Michaela, e agora com Simone.
A diferença é que Simone começa essa nova fase sendo vista como traidora, inclusive pelos funcionários da casa. Ela não é apenas a nova esposa, mas também a ex-assistente e melhor amiga da antiga dona da casa. A desconfiança à sua volta não vem apenas do status de “outra mulher”, mas da traição pessoal.
Isso aponta para um ciclo previsível. Simone tende a repetir a própria história de fuga. Assim como recusou o pedido de casamento de Ethan e como abandonou diferentes versões de si, ela provavelmente também vai escapar de Peter. O relacionamento dos dois carrega uma promessa de fracasso que já está implícita na forma como se inicia.
Devon já tem um novo recomeço traçado
Devon também chega ao fim da temporada com um novo norte. Depois de anos vivendo em função da irmã e do pai, ela decide estabelecer seus limites. Ainda vai cuidar de Bruce, mas dessa vez com ajuda profissional e sem abrir mão de reconstruir sua própria vida.
Ela aceita o dinheiro oferecido por Michaela e planeja ter um espaço só seu, longe da função de cuidadora em tempo integral. A possibilidade de voltar a estudar também aparece como uma nova porta. Mesmo com pendências legais por causa de suas infrações, ela demonstra estar pronta para encarar as consequências e seguir adiante.
Com isso, Devon deixa para trás o papel de salvadora e encontra, pela primeira vez, um caminho que é só dela. Sua jornada chega a uma conclusão que não depende de grandes revelações, mas sim de escolhas conscientes.
Michaela volta ao ponto de partida
A personagem de Julianne Moore encerra a série como uma interrogação aberta. Sem casa, sem marido e sem estabilidade financeira. No entanto, sua história já provou que ela é capaz de recomeçar. Antes de Peter, Michaela havia construído uma carreira como advogada e superado uma origem marcada pela pobreza.
Mesmo sem saber exatamente o que vai fazer, ela afirma que vai se reerguer. Uma segunda temporada poderia mostrar esse processo, mas a mensagem foi passada, mostrando que Michaela não é uma vítima indefesa nem uma vilã controladora, mas uma mulher que, como tantas outras, vai precisar recomeçar.
Seus erros foram expostos, suas perdas são reais, mas sua força também. O fim da série respeita essa ambiguidade ao não entregar soluções prontas. Em vez disso, deixa o espectador refletindo sobre o que virá a seguir, sem precisar mostrar.
A série entrega respostas suficientes, mas preserva espaço para interpretação. Essa é uma forma inteligente de fechar uma trama sem amarrá-la demais, respeitando o ritmo e a complexidade dos personagens.
Sereias está disponível na Netflix.