A ficção costuma flertar com dilemas morais extremos, mas poucas produções modernas colocam o público diante de decisões tão controversas quanto Ginny e Georgia.
Desde a estreia, a série convida o espectador a torcer por uma mulher que trafega livremente entre amor maternal e crimes hediondos.
A trajetória de Georgia Miller chega ao limite na segunda temporada, quando um gesto aparentemente compassivo termina em crime. É nesse ponto que surge a pergunta incômoda: por que ela decidiu enerrar a vida de Tom Fuller?
O contexto de Tom Fuller
Tom é apresentado já em estágio terminal, preso a aparelhos na casa que divide com Cynthia, sua esposa. O coma prolongado corrói a família: Cynthia se desdobra entre luto antecipado e responsabilidades, enquanto o filho Zach convive com a ausência de uma figura paterna ainda viva.
Nesse cenário, Georgia e Cynthia, antes rivais, encontram um terreno inesperado para alguma empatia. A corretora admite à nova “amiga” que desejaria libertar o marido daquele sofrimento interminável, mas não sabe como lidar com a culpa que sente.
Quando Georgia entra no quarto de Tom e o sufoca com o travesseiro, não há ódio em seus olhos, e sim lágrimas. O ato, porém, serve a mais de um propósito. De um lado, funciona como misericórdia – um último favor à mulher que a protegeu de Gil. De outro, garante vantagem numa disputa de poder que começou na primeira temporada.
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Georgia enxerga o gesto como retribuição: Cynthia dificultou o retorno de Gil à cidade e, assim, salvou a família Miller de novas agressões. Em seu código pessoal, favores extremos pedem pagamentos igualmente extremos.
Diferente dos envenenamentos anteriores, o assassinato de Tom não mira autopreservação imediata nem protege Ginny ou Austin. É um raro instante em que Georgia age por empatia (ainda que distorcida), e não por medo.
Consequências imediatas
A morte silenciosa parecia perfeita até que investigações posteriores ligam Georgia à cena. A prisão no casamento e o subsequente julgamento colocam toda a máscara em xeque. O ato de compaixão vira munição para promotores que pintam Georgia como predadora serial.
Para escapar, ela conta com a astúcia de Ginny, que manipula Cynthia e coloca Gil no centro da culpa. Mesmo assim, a comunidade passa a encarar Georgia com desconfiança, minando o refúgio que ela acreditava ter construído em Wellsbury.
Agora, o assassinato de Tom Fuller terá consequências. Cynthia, agora ciente de que foi enganada, pode buscar vingança. Ginny carrega o peso de ter sujado as mãos para salvar a mãe. E Georgia, mesmo livre, enfrenta o desafio de provar a si mesma que é capaz de abandonar a violência.
Com os pais abusivos à espreita e uma nova gravidez em jogo, qualquer deslize pode reacender o ciclo. A questão não é apenas por que Georgia matou Tom, mas se conseguirá viver sem repetir o padrão, e qual preço a família pagará caso ela falhe.
