Para Sempre, a nova série de romance da Netflix, retrata a trajetória de Justin e Keisha, dois jovens que se reencontram por acaso na reta final do ensino médio e iniciam um relacionamento intenso. Apesar do enredo original ambientado em 2018, a inspiração para a história vem de um clássico da literatura jovem adulta dos anos 70.
Criada por Mara Brock Akil, Para Sempre é uma releitura moderna do livro “Forever…”, escrito por Judy Blume e publicado em 1975. Na obra original, acompanhamos Katherine e Michael, um casal de adolescentes explorando o amor, o sexo e a pressão da transição para a vida adulta.
O livro causou controvérsia ao tratar com franqueza o desejo sexual adolescente, tornando-se um dos títulos mais censurados nos Estados Unidos. Ainda assim, conquistou gerações de leitores e se consolidou como referência na representação de experiências juvenis.
Foi justamente essa abordagem honesta que marcou Mara Brock Akil, que leu a obra ainda na infância e levou suas lições para sua própria trajetória como roteirista.
Uma adaptação com identidade própria
Embora baseada no livro de Blume, a série não se limita a traduzir a trama para os dias atuais. Akil fez mudanças significativas ao ambientar a história em Los Angeles, trocar os nomes dos protagonistas e incorporar temáticas mais contemporâneas.
Keisha e Justin vivem dilemas que vão além da descoberta do amor: ela enfrenta as consequências de um vídeo íntimo vazado pelo ex-namorado; ele lida com o TDAH e a pressão para entrar em uma universidade de elite.
Esses elementos conferem mais profundidade e realismo aos personagens, ao mesmo tempo em que mantêm o espírito do livro original. A história ainda gira em torno do amor jovem e das primeiras vezes, mas agora com um olhar mais plural.
Parte dessa autenticidade vem das experiências pessoais da própria criadora. Akil usou elementos de sua vivência e de sua família para compor o universo da série. Justin, por exemplo, teve trechos de sua personalidade inspirados em Yasin, filho da roteirista, que inclusive colaborou com a trilha sonora da produção.
Judy Blume e Mara Brock Akil
Apesar das diferenças temporais, a ponte entre a obra de Judy Blume e a adaptação de Mara Brock Akil é sustentada pela mesma intenção de tratar o amadurecimento com respeito e verdade. Akil reconhece a influência direta da autora em seu estilo como roteirista, e a própria Blume demonstrou entusiasmo com a série.
Blume, por sua vez, se disse grata pela nova versão da história. Para ela, ver sua obra sendo adaptada com novos contornos culturais e sociais é prova de que a temática ainda reflete mesmo nas novas gerações.
Uma ficção moldada por verdades pessoais
No fim das contas, a história de Para Sempre mistura literatura, memórias e experiências para construir algo novo. Akil conseguiu transformar um livro polêmico dos anos 70 em uma série atual, sensível e representativa.
Ao fazer isso, deu aos personagens novas camadas, sem perder o foco no amor adolescente que pode ser transformador, mesmo quando não dura para sempre.