
Quando a DC Studios decidiu dar início a um novo universo compartilhado, era difícil imaginar que uma das peças-chave nessa transição seria um herói desajustado, irreverente e emocionalmente bagunçado.
Mas é exatamente esse o papel que Pacificador assume na segunda temporada de sua série. O personagem de John Cena retorna como elo entre o que sobrou do antigo DCEU e os novos caminhos traçados por James Gunn.
A nova temporada, no entanto, não se limita a servir de ponte. Em vez de focar na costura cronológica entre franquias, ela mergulha de cabeça em sua própria narrativa, abraçando o caos, o desconforto e a sensibilidade que tornaram a série um sucesso inesperado.

Um universo paralelo, mas muito pessoal
Diferente de Superman, que abriu os trabalhos no cinema, Pacificador retorna sem nem mastigar contextos. A série pressupõe que o público esteja familiarizado com a primeira temporada — e talvez até com O Esquadrão Suicida —, mas constrói seu novo arco a partir das emoções acumuladas por seus personagens, principalmente Chris Smith.
Após o assassinato de Rick Flag Jr., que ainda pesa sobre sua consciência, Pacificador precisa lidar com o surgimento de Rick Flag Sr., agora comandante da A.R.G.U.S. A chegada do pai do homem que ele matou coloca uma camada tensa ao drama, enquanto o multiverso entra em cena.
Nesse novo plano de realidade, Chris encontra versões alternativas de sua família e aliados e é nesse reflexo distorcido que ele enxerga a chance de ser o herói que sempre fingiu ser e, quem sabe, alguém melhor.

Estranheza como linguagem
Se a primeira temporada equilibrava ação e sátira, a nova leva de episódios mergulha de vez no bizarro. A violência é mais explícita, o humor mais ácido e os temas adultos mais centrais.
Sexo, culpa, frustração e identidade são tratados sem filtros, às vezes com escracho, às vezes com dor. A série continua sendo imprópria para menores e agora parece até mais confortável assim.
Mesmo que não carregue nos ombros a responsabilidade de explicar tudo, a segunda temporada de Pacificador acaba dizendo muito sobre o tom que James Gunn quer para o DCU: livre, adulto, contraditório e emocional.
Entre as adições ao elenco estão Langston Fleury, Sasha Bordeaux e Red St. John, nomes que trazem ameaças, sarcasmo e novas dinâmicas. Enquanto isso, personagens como Vigilante e Emilia Harcourt têm menos destaque, funcionando mais como alívio cômico ou apoio de bastidor.
Seja como elo, catarse ou caos, Pacificador entrega mais do que o esperado. E, ao que tudo indica, ainda guarda algumas surpresas para o final.