Os Simpsons sempre foram conhecidos por reinventar seu formato com certa liberdade. Ao longo de mais de três décadas no ar, a série passou por todo tipo de experiência, das mais tradicionais às mais experimentais. E, mesmo com a queda de impacto dos últimos anos, a produção segue explorando novas possibilidades narrativas, como mostra o especial Planeta Amarelo.
Disponível com exclusividade no Disney+, o episódio se destaca por uma decisão no mínimo curiosa: não trazer nenhum dos personagens da família principal em suas formas usuais.
Não se trata de um spin-off ou de uma história paralela em Springfield. Aqui, todos os personagens foram retrabalhados como criaturas do reino animal, em uma espécie de paródia da famosa série documental britânica Planeta Azul.
Narrativa assume tom de documentário natural
A proposta inusitada faz parte de uma tendência recente da 36ª temporada de brincar com o formato clássico da série. No lugar de uma narrativa linear tradicional, Planeta Amarelo apresenta um pseudo-documentário narrado por Declan Desmond, personagem recorrente dublado por Eric Idle.
A escolha desloca os espectadores do cômodo cotidiano dos Simpsons para um universo aquático, onde Homer aparece como uma baleia-beluga e Marge como um narval.
Outros personagens também ganham formas inesperadas. Lisa se torna uma ave, Bart é um lagarto, Krusty vira um caranguejo, e Ned Flanders, um babuíno. A transformação, além de divertida, reforça a proposta de ruptura com o usual.
A ousadia de deixar os Simpsons de fora
Embora incomum, a ausência da família principal em sua forma tradicional não é inédita. Ao longo da temporada, outros episódios como Desesperadamente Procurando Lisa e Mulheres de Shorts já haviam experimentado a diminuição do protagonismo dos membros da família.
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Ainda assim, Planeta Amarelo consegue entregar uma proposta ainda mais diferente, retirando qualquer interação entre humanos e colocando os personagens em um novo habitat simbólico.
Esse tipo de abordagem pode causar estranhamento, mas também mostra a disposição da equipe criativa de explorar novas linguagens. Apesar da história parecer apenas uma grande piada, há momentos de crítica ecológica e social inseridos na narrativa.
A paródia funciona não apenas como homenagem aos documentários da BBC, mas também como uma forma inusitada de discutir o impacto humano no planeta.
Narrador e estrutura ajudam a sustentar o especial
A presença de Declan Desmond como narrador ajuda a manter a coerência do especial. Sem ele em cena, o foco se mantém nos animais antropomorfizados, que vivem situações absurdas em um oceano altamente dramatizado. A ausência de personagens humanos também aumenta a liberdade visual, permitindo que a animação experimente novos cenários, cores e formas.
Ainda que a trama não busque aprofundar grandes questões filosóficas, há um tom satírico constante que preserva o DNA da série. No final, o episódio consegue equilibrar o humor característico com uma leve reflexão sobre o modo como a humanidade interfere na natureza.
Apesar de ser uma escolha arriscada, o especial Planeta Amarelo confirma que Os Simpsons ainda têm espaço para experimentar com sua própria linguagem. A decisão de não usar os personagens principais em suas formas tradicionais se mostrou eficaz dentro da proposta do episódio.
Planeta Amarelo já está disponível no Disney+.
