Em uma série que já passou dos 780 episódios, seria normal pensar que não há mais espaço para surpresas. Mas Os Simpsons segue mostrando que ainda sabe como mexer com a cabeça dos fãs. Na 36ª temporada, mais precisamente no episódio 17, um personagem que está na série há mais de três décadas foi completamente reescrito, e isso pode ter passado despercebido até pelos mais atentos.
Se você acompanha a série desde os tempos do auge, vai se lembrar daquele adolescente desajeitado com voz esganiçada, sempre trabalhando em algum emprego aleatório em Springfield. Pois é, esse mesmo personagem, que por muito tempo foi chamado apenas de Squeaky Voiced Teen (O garoto da voz fina), agora tem um novo nome, nova família e até uma nova voz. Isso mesmo: Os Simpsons mudaram tudo nele, como se 34 anos de história não fossem nada.
De figurante azarado a personagem com vida própria
Durante anos, o personagem foi uma piada recorrente. Sempre aparecendo como atendente em lojas, lanchonetes ou cinemas, ele era conhecido por sua voz fina e por estar constantemente envolvido em alguma desgraça. Nada parecia dar certo para ele. Mas isso mudou drasticamente no episódio 17 da 36ª temporada de Os Simpsons.
Logo na cena de abertura, ele ganha destaque ao ser convocado para testemunhar contra Homer, graças ao seu emprego atual em uma loja de ferramentas. Pela primeira vez, vemos mais da vida pessoal do rapaz, e com isso, uma sequência de mudanças começa a ser revelada. Não se trata apenas de um episódio qualquer: é uma espécie de “reinício” do personagem, uma nova construção que substitui tudo o que já foi estabelecido sobre ele.
Jeremy não existe mais: conheça Andrew Teen
Talvez a maior surpresa do episódio seja a revelação de que o personagem, anteriormente identificado como Jeremy Freedman, agora atende pelo nome de Andrew Teen. E não para por aí: ele também é chamado de “Mr. Teen” durante a história, como se seu novo nome fosse algo completamente estabelecido.
Essa não é uma mudança qualquer. A série dá literalmente a ele uma nova família, completamente diferente da mãe já mostrada em episódios antigos, aquela que, inclusive, o havia deserdado. Em vez disso, agora ele mora com pais suburbanos que nunca foram vistos antes na série. Um apagão completo no histórico anterior, como se os roteiristas tivessem decidido criar um novo personagem a partir de um velho conhecido.
A transformação vai além do nome: ele agora tem voz firme e até uma namorada
A reviravolta não para na mudança de identidade. Em um dos momentos mais simbólicos do episódio, Andrew finalmente tem sua voz “quebrada”, ou seja, sua marca registrada, aquela voz esganiçada que o definia desde sempre, finalmente some. É quase como se ele tivesse finalmente crescido.
Mais do que isso, o azarado de sempre termina o episódio com uma namorada, algo inédito para ele na série. Toda essa virada acontece em paralelo à jornada de Homer, que passa o episódio tentando criar um legado e termina descobrindo que, sem querer, mudou a vida de outro personagem para melhor. O resultado é uma cena surpreendente, que dá ao Squeaky Voiced Teen uma dignidade que ele nunca teve antes.
O legado de Homer e o efeito colateral em Andrew
Enquanto Andrew tentava se declarar para uma garota e se via forçado a testemunhar contra Homer, o protagonista da série estava envolvido em sua própria crise existencial. Preocupado por não deixar um legado, Homer cria com o Vovô um novo esporte chamado “Noodleball”, jogado em piscinas vazias. A invenção quase vira uma febre entre os idosos, mas os dois acabam se ferindo e destruindo o sonho.
Mas em meio ao caos e ao fracasso do seu plano de fama, Homer muda, sem perceber, a vida de Andrew. E é aí que entra um dos maiores trunfos narrativos do episódio: ao contrário de outros personagens que acabam esquecidos ou destruídos por interações com a família Simpson, Andrew sai vitorioso. É uma inversão de expectativa que poucos poderiam prever.
Retcons ousados, mas que funcionam surpreendentemente bem
Quem acompanha Os Simpsons sabe que a série nunca se preocupou muito com a continuidade. Datas de nascimento mudam, passados são esquecidos e até eventos apocalípticos somem de um episódio para o outro. Mas dessa vez, os roteiristas usaram essa liberdade criativa para algo construtivo.
Sim, o que fizeram com Andrew é tecnicamente um retcon, e dos grandes. Eles apagaram tudo o que havia sido estabelecido antes para criar algo novo. Mas surpreendentemente, isso funcionou. Pela primeira vez, um personagem secundário historicamente azarado ganha não só uma história, mas também um desfecho feliz. É quase como se Os Simpsons tivessem decidido recompensar o garoto por todos esses anos de sofrimento silencioso.
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