
O Poder e a Lei conquistou espaço entre os dramas jurídicos mais assistidos da Netflix ao combinar personagens carismáticos com casos envolventes. A produção se apoia nos livros de Michael Connelly, que são reconhecidos por sua precisão em retratar o funcionamento da justiça, além da experiência de seus showrunners, incluindo Ted Humphrey, ex-advogado. Esse histórico criou a expectativa de uma série fiel à realidade dos tribunais.
Apesar de frequentemente apresentar conceitos jurídicos de maneira clara, a adaptação tem insistido em um erro que incomoda parte do público mais atento. Ao longo das temporadas, a condução das provas dentro dos julgamentos tem ignorado pontos essenciais das regras de evidência, distanciando a série de sua base literária.

O problema das regras de evidência
Na prática, o juiz define o que pode ou não ser admitido como prova e pode ouvir testemunhos fora da presença do júri para tomar essa decisão. Além disso, relatos de terceiros, o chamado hearsay, geralmente não são aceitos. Esses pontos a série costuma respeitar.
O problema surge quando novas provas ou testemunhas são introduzidas de surpresa durante os julgamentos. Na realidade, tanto acusação quanto defesa precisam compartilhar todas as evidências com antecedência, permitindo que cada lado prepare seus argumentos. Essa falha repetida cria momentos dramáticos, mas rompe com a credibilidade da narrativa.

A importância em A Lei da Inocência
Esse detalhe ganha ainda mais relevância na quarta temporada, que adaptará o livro A Lei da Inocência. Na trama, Mickey Haller é acusado de assassinato e precisa usar todo o conhecimento jurídico para se defender. Nesse contexto, as regras de evidência são centrais para o desenvolvimento da história.
Ignorar essas normas seria incoerente, já que a luta do protagonista depende justamente de encontrar falhas e brechas legais em como as provas são apresentadas. Além disso, a nova promotora, Dana Berg, conhecida como “Death Row Dana”, é caracterizada por seu estilo agressivo, mas também será obrigada a lidar com os limites impostos pela lei.

Realismo x entretenimento
É comum que séries de tribunal abram mão da precisão para manter o ritmo dramático. Entretanto, quando a própria obra se destaca pela promessa de realismo, como é o caso de O Poder e a Lei, essa liberdade criativa pode se transformar em fragilidade.
A quarta temporada precisará equilibrar esses dois lados: manter a intensidade que cativa o público, mas sem abandonar completamente a lógica do sistema jurídico. Essa mudança não apenas reforçaria a autenticidade da adaptação, como também ampliaria a tensão, já que Mickey terá de lidar com regras rígidas em seu julgamento mais importante.

Expectativas para os novos episódios
Com a confirmação de que A Lei da Inocência servirá como base, há uma oportunidade clara de corrigir esse erro recorrente. A fidelidade às regras de evidência pode transformar os embates entre Mickey e Dana em duelos ainda mais envolventes, mostrando a complexidade real dos tribunais.
Se a produção souber explorar esse aspecto, a quarta temporada não só dará mais consistência à narrativa, como também entregará momentos de maior impacto emocional e dramático, sem depender de soluções artificiais. Afinal, para Mickey Haller, cada detalhe legal pode ser a diferença entre a liberdade e a condenação.
O Poder e a Lei está disponível na Netflix.