
Lidar com o passado é um dos maiores desafios dentro do sistema de justiça, e é justamente nesse espaço entre o que foi esquecido e o que nunca foi resolvido que se instala Ballard, nova série do Prime Video.
Ambientada no mesmo universo de Bosch, a produção surge como um elo direto entre duas das obras mais marcantes de Michael Connelly nas telas.
Com dez episódios já disponíveis, a trama acompanha a detetive Renée Ballard assumindo a divisão de casos arquivados. Aos poucos, o que começa como um procedural criminal toma proporções maiores.
Ao mesmo tempo em que dialoga com o universo de Bosch, Ballard também se aproxima de O Poder e a Lei, série da Netflix que acompanha o advogado Mickey Haller.
Não por acaso, ambos os personagens são criações de Connelly, e compartilham não apenas o cenário de Los Angeles, mas também uma visão crítica sobre as instituições e quem opera dentro delas.

Dois heróis quebrados por dentro do sistema
Tanto Ballard quanto Haller são profissionais competentes, admirados e experientes, mas que enfrentam a rejeição dos próprios ambientes onde atuam.
Enquanto Haller lida com o estigma da dependência química e com os desafios de manter a sobriedade, Ballard carrega o trauma de um abuso sexual cometido por um colega de trabalho.
A escolha de colocá-los em funções que confrontam diretamente o sistema reforça o contraste entre a competência dos protagonistas e a rigidez das estruturas que os cercam.
Além disso, ambos transitam entre a legalidade e a moralidade, buscando respostas em territórios nos quais a justiça formal muitas vezes falha.
Ballard, por exemplo, retoma investigações antigas com poucos recursos e nenhuma prioridade da polícia. Mesmo assim, lidera uma equipe de voluntários que, ao longo da primeira temporada, desmantela redes criminosas, confronta figuras influentes e revela erros graves cometidos por oficiais em serviço.

Uma série que amplia o universo de Connelly
Mesmo funcionando como uma obra independente, Ballard se beneficia do legado de Bosch, trazendo de volta o personagem Harry Bosch em participações pontuais e decisivas.
Ao contrapor as abordagens dos dois detetives, a série sugere uma transição de gerações, onde a experiência se alia à disposição para confrontar os limites do sistema.
Com personagens densos, temáticas relevantes e uma narrativa que valoriza os detalhes, Ballard reforça a tendência das plataformas de streaming em investir em universos compartilhados.
A semelhança com O Poder e a Lei não é apenas estética, mas estruturante, e revela como as obras de Connelly têm fôlego para atravessar diferentes formatos e abordagens.
Para quem já acompanha Bosch ou O Poder e a Lei, a nova série do Prime Video é um prato cheio. Mas mesmo para quem chega agora, Ballard oferece uma porta de entrada instigante para um universo onde a verdade está quase sempre escondida nas entrelinhas.