
Poucas histórias conseguem capturar tão bem o peso da culpa e a busca pela redenção quanto aquelas ambientadas em tempos de caos político. Em um período em que o poder se confundia com fé e a sobrevivência era um jogo de alianças instáveis, surge Nero, nova minissérie francesa da Netflix que revisita os séculos passados sob uma lente sombria e realista.
Ambientada em 1504, no sul da França, a trama apresenta um cenário em que o império da religião e a sede de domínio moldam o destino dos homens. Nesse contexto brutal, acompanhamos um assassino traído por seu próprio mestre, forçado a enfrentar seus inimigos e os fantasmas do passado.

Um anti-herói movido pela culpa
Nero, interpretado por Pio Marmaï, é apresentado como um homem endurecido pelas batalhas e marcado por escolhas que o afastaram da própria humanidade. Quando descobre que sua filha, Perla, está viva, ele inicia uma missão que o coloca novamente no centro de um conflito que ele acreditava ter deixado para trás.
O reencontro entre pai e filha é o fio condutor da série, mas o roteiro vai além de um drama familiar. A narrativa explora as contradições de um assassino que precisa aprender a cuidar enquanto luta para não ser consumido pelo passado.

Trama histórica com ritmo de ação moderna
A série, criada por Jean-Patrick Benes, Allan Mauduit, Martin Douaire e Nicolas Digard, combina o rigor estético dos dramas históricos com a agilidade dos thrillers contemporâneos. Ao longo de oito episódios, a produção alterna sequências de ação intensas com momentos de introspecção, equilibrando emoção e tensão sem perder o ritmo narrativo.
O contexto político e religioso da França do século XVI ganha força ao ser usado como pano de fundo para disputas de poder, conspirações e perseguições que lembram o clima sombrio de produções como The Witcher e Bárbaros. Ainda assim, Nero mantém identidade própria ao se concentrar nas relações humanas em meio à barbárie.

Um espetáculo visual de época
Gravada em locações reais na França, Itália e Espanha, a série utiliza castelos, vilarejos e fortalezas medievais autênticas para reforçar a imersão histórica. O uso de luz natural e cenários rústicos cria uma atmosfera crua, em que o real e o simbólico se misturam.
A direção de Allan Mauduit (nos quatro primeiros episódios) e Ludovic Colbeau-Justin (nos últimos) confere unidade visual à produção e destaca a transformação do protagonista ao longo da jornada.
Além de Pio Marmaï, o elenco reúne nomes como Alice Isaaz, Olivier Gourmet e Louis-Do de Lencquesaing, que interpretam figuras ambíguas, cada um com suas próprias motivações e segredos.
Mais do que uma narrativa sobre assassinatos e vingança, Nero reflete sobre a impossibilidade de escapar do passado. O protagonista tenta resgatar a filha enquanto encara o preço de suas escolhas, cercado por inimigos e pela própria consciência. É um retrato de um homem dividido entre o instinto e a redenção, onde cada decisão pode custar o pouco de humanidade que ainda lhe resta.
Nero já está disponível na Netflix.