
A história de Ed Gein, o assassino que inspirou alguns dos maiores filmes de terror da história, não pode ser contada sem mencionar sua mãe. Muito antes de os crimes virem à tona, Augusta Gein já exercia uma influência sombria sobre o filho, uma figura que moldou o homem que se tornaria conhecido como o “açougueiro de Plainfield”.
Nascida no fim do século XIX, Augusta cresceu em uma época marcada por moralismos religiosos e repressão. Ainda jovem, casou-se com George Gein e teve dois filhos: Henry e Edward. Foi após mudar-se com a família para uma fazenda isolada em Wisconsin que ela passou a controlar rigidamente todos os aspectos da vida doméstica e foi ali que o embrião da tragédia começou a se formar.
A mãe que dominava pela fé e pelo medo
Augusta era uma cristã devota que acreditava na punição divina como forma de purificação. Convencida de que a moral da sociedade estava corrompida, especialmente pelas mulheres “modernas”, ela criou os filhos sob uma doutrina de obediência e medo. Qualquer forma de prazer era pecado; o contato com o mundo exterior, uma ameaça.
De acordo com registros da época, ela advertia constantemente Henry e Ed sobre os “pecados das mulheres”, chegando a afirmar que um novo dilúvio viria para “lavar a impureza do mundo”. Essa visão extremista levou os meninos a crescerem isolados, sem amigos e sem contato com outras famílias.
Com o tempo, Ed desenvolveu uma devoção quase religiosa pela mãe. Ele a via como a única mulher pura e, paradoxalmente, também como o modelo de todas as outras que ele desprezava. Quando Augusta morreu, em 1945, o impacto psicológico foi devastador.
A morte que o filho nunca aceitou
Após perder o pai e o irmão, Ed se tornou o cuidador de Augusta durante sua velhice. A relação já era sufocante, mas se intensificou à medida que ela adoeceu. A segunda e fatal trombose cerebral ocorreu depois que Augusta presenciou um vizinho com uma mulher casada, uma cena que, segundo testemunhos, a encheu de fúria e vergonha.
Quando morreu, Ed transformou o quarto da mãe em um santuário intocado. A casa inteira era tomada por sujeira e restos humanos, mas aquele cômodo permanecia limpo, preservado como um templo.
O reflexo da mãe nas vítimas
Anos depois, os investigadores descobriram que Ed assassinou duas mulheres, Mary Hogan e Bernice Worden, ambas com traços físicos semelhantes aos de Augusta. Ele também confessou ter invadido cemitérios para desenterrar corpos de mulheres parecidas com ela. Usando partes dos cadáveres, confeccionava roupas e objetos, tentando literalmente “vestir” a figura materna.
Segundo especialistas, Gein acreditava que, ao recriar a aparência da mãe, poderia se tornar parte dela novamente. Essa tentativa de fusão entre devoção e loucura o levou a criar uma “pele” feita de fragmentos humanos, um ato macabro que simbolizava a impossibilidade de desapego.
Laurie Metcalf e a nova face de Augusta
Na série da Netflix, Augusta é interpretada por Laurie Metcalf, vencedora de quatro prêmios Emmy e indicada ao Oscar por Lady Bird. A atriz buscou retratar a complexidade da personagem, fugindo da caricatura da “mãe demoníaca”.
Em entrevista recente, Metcalf contou que trabalhou lado a lado com Charlie Hunnam, que vive Ed Gein, para explorar a dualidade dessa relação. “Queríamos mostrar que havia amor ali, mesmo que distorcido”, disse. “Era importante que o público entendesse que, para Ed, ela era tudo.”
A presença de Augusta além da morte
Mesmo sem aparecer em todas as cenas, Augusta domina a narrativa da série. Cada gesto de Ed, cada delírio e cada crime remetem à sombra da mãe, um espectro que nunca o abandonou. O roteiro de Ryan Murphy trata essa relação como o ponto de partida para entender não apenas Gein, mas a origem do medo que ele inspira.
Ao suavizar certos aspectos da crueldade de Augusta e dar espaço à complexidade emocional, Monstro: A História de Ed Gein revela mais sobre a mente humana do que sobre o terror em si. Afinal, antes de se tornar um assassino, Ed Gein foi apenas um filho moldado por uma mãe que confundiu devoção com domínio absoluto.