House of Guinness chegou à Netflix com a proposta de dramatizar a trajetória da família responsável por um dos nomes mais conhecidos do mundo das bebidas. Com tom grandioso e estilo de drama familiar, a série vem sendo comparada a sucessos como Peaky Blinders. No entanto, para quem conhece de perto a história real dos Guinness, a produção está longe de retratar os fatos com fidelidade.
Molly Guinness, trineta de Sir Benjamin Guinness, escreveu para o jornal The Times apontando erros e exageros da adaptação. Ao lado de seu primo Sachin, que tem profundo conhecimento sobre a genealogia da família, ela notou inconsistências já nos primeiros episódios.
Segundo relatou, um dos momentos mais evidentes foi a caracterização equivocada de Edward Cecil Guinness, retratado sem bigode e mais alto que o irmão, o que em nada corresponde à realidade.
Retratos distorcidos dos personagens
Entre os pontos mais polêmicos para Molly está a invenção da vida amorosa de Arthur, mostrada como uma série de aventuras que nunca aconteceram. A descendente ressalta que, apesar de gerarem humor na série, essas situações não têm base em registros históricos.
Outra crítica contundente é a forma como Edward e Arthur foram transformados em figuras caricatas, descritas por ela como “patifes e bobos”. Molly argumenta que, ao contrário do que se vê na tela, seus antepassados eram pessoas respeitáveis, envolvidas em ações de caridade e conhecidas pela generosidade. Excentricidades existiam, mas não no tom pejorativo que o roteiro sugere.
Benjamin e Anne em versões irreconhecíveis
A série também mexe significativamente com a imagem de Benjamin Guinness. Na ficção, ele é retratado como um pai falho, que deixava inquilinos passarem fome. Molly contesta essa versão, defendendo que Benjamin era um homem atencioso, marcado por seu espírito filantrópico e dedicação à família.
A personagem de Anne, única filha do patriarca, também ganhou uma roupagem inventada. Em House of Guinness, ela é retratada como alguém envolvida em romances secretos. Já na realidade, de acordo com Molly, Anne estava mais voltada a atividades religiosas e à organização de grupos de leitura da Bíblia.
Entre realidade e licença poética
Apesar das críticas, Molly reconhece que a série acerta na habilidade da família em promover grandes festas. Ainda assim, ela ironiza a forma como isso foi mostrado, lembrando que as celebrações reais estavam longe dos excessos apresentados, como as ordens dadas a empregados para limpar discretamente em torno de casais comprometidos em situações embaraçosas.
Essas diferenças evidenciam a distância entre o enredo da Netflix e a memória histórica dos Guinness. Para Molly, a produção aposta em clichês sobre famílias ricas, preferindo o espetáculo ao registro fiel de quem foram seus ancestrais