
Logo nas primeiras cenas, Mistério em Cemetery Road apresenta um acidente misterioso que abala a rotina de uma vizinhança em Oxford. Sarah Trafford e o marido organizam uma festa, mas o clima leve termina abruptamente quando uma explosão em uma casa próxima muda tudo.
O desastre deixa apenas uma sobrevivente: uma menina que desperta a curiosidade e o instinto de proteção de Sarah. Ao tentar visitá-la no hospital, ela é impedida de se aproximar e acaba cruzando o caminho da investigadora Zoë Boehm. Juntas, as duas mergulham em uma trama de segredos e conspirações que desafiam o que é real e o que é manipulado.
A ambientação em uma cidade real, somada ao tom sombrio e aos mistérios bem construídos, faz muitos espectadores se perguntarem se o enredo foi inspirado em acontecimentos verídicos. A resposta, você descobre à seguir.
A origem do enredo
A série é baseada no livro Down Cemetery Road, publicado em 2003 pelo escritor britânico Mick Herron. A obra foi o primeiro volume de uma coleção que acompanha as investigações de Zoë Boehm, personagem que mais tarde se tornaria recorrente nas histórias do autor. Herron criou a trama enquanto trabalhava em uma revista de direito, preenchendo o tempo livre com anotações sobre personagens e ideias soltas, até que Sarah Trafford surgiu como o ponto de partida.
O autor decidiu ambientar a narrativa em Oxford, cidade onde morava na época, pois acreditava que o local combinava com o perfil da protagonista e com o tom introspectivo da história. A explosão que dá início à trama, por exemplo, nasceu de uma lembrança simples de sua juventude de uma lista de instruções de incêndio pendurada na porta do dormitório durante o período em que estudava. A partir dessa lembrança cotidiana, ele construiu um acontecimento devastador e simbólico, que se tornaria o centro da narrativa.
Um suspense criado para parecer real
A escolha por personagens comuns enfrentando situações extremas faz com que o público sinta que está diante de algo plausível. Herron sempre priorizou o desenvolvimento humano das suas figuras centrais, deixando que os conflitos psicológicos e as tensões cotidianas conduzissem a história. Essa abordagem, somada a um cenário reconhecível e a um ritmo quase documental, ajuda a criar a ilusão de realidade.
O realismo também está nas interpretações. A série foi desenvolvida por Morwenna Banks e conta com Emma Thompson e Ruth Wilson nos papéis principais. As atrizes moldaram suas personagens com base na naturalidade do cotidiano, explorando gestos e falas que poderiam pertencer a qualquer pessoa comum.
Thompson chegou a trabalhar junto da figurinista Annie Symons para criar um visual que transmitisse o passado rebelde de Zoë, optando por roupas gastas e um corte de cabelo desalinhado que reforçam o caráter autêntico da personagem.
A construção de um falso realismo
Embora nada do que se vê na tela tenha acontecido de fato, Mistério em Cemetery Road brinca com o conceito de “realidade fabricada”. O roteiro mistura segredos pessoais com elementos de espionagem e manipulação, transformando a história em um quebra-cabeça que espelha o caos e a desconfiança do mundo contemporâneo.
Essa fronteira entre o real e o inventado é o que torna a série tão envolvente. Herron, conhecido também pela saga Slow Horses, demonstra o mesmo talento em criar tramas que parecem possíveis, mas são inteiramente construídas dentro da ficção.
Mistério em Cemetery Road está disponível no AppleTV
