No limite entre o certo e o errado, algumas histórias não são feitas para consolar. Elas provocam, desafiam e expõem a fragilidade de quem é empurrado aos extremos. Marcada, série sul-africana que chegou recentemente à Netflix, é uma dessas histórias.
Protagonizada por Lerato Mvelase, a trama parte de um drama familiar e se transforma em um quebra-cabeça de crimes, alianças e traições, conduzido por uma mulher que não queria se perder, mas não viu outra saída.
O que leva uma ex-policial a roubar seu próprio local de trabalho?
Babalwa, a protagonista, trabalha como segurança de transporte de valores na empresa Iron Watch. Quando sua filha Palesa é diagnosticada com um tumor cerebral, a vida se torna uma corrida contra o tempo e a falta de dinheiro.
O valor para a cirurgia ultrapassa 1 milhão de rands, e nenhum dos pedidos de ajuda à igreja, amigos ou ao chefe tem resultado.
Sem alternativas, ela se une a Zweli, um criminoso local, para planejar um assalto ao próprio carro-forte que deveria proteger. O golpe, porém, sai do controle.
Zweli se antecipa, realiza o assalto com outro grupo e o dinheiro acaba nas mãos erradas. Baba G, o articulador do plano, se recusa a aceitar o dinheiro roubado fora do combinado e é morto por um dos integrantes.
A falha inicial, em vez de deter Babalwa, a impulsiona a planejar um novo golpe. Com apoio de Zweli, ela decide atacar diretamente a base da empresa, mirando o cofre central da Iron Watch. Para isso, ela recruta uma equipe improvável: membros da própria igreja.
A missão quase impossível
Enquanto a tensão aumenta, a série detalha o preparo do novo assalto, que depende de falhas na energia e de habilidades de cada membro do grupo. Comunicadoras, ex-atores, técnicos em eletricidade e parceiros de fé são convocados para executar tarefas específicas.
A operação, marcada por imprevistos, é levada até o fim. Ponto de virada da temporada, a invasão ao cofre é o clímax de uma jornada em que Babalwa cruza fronteiras que antes pareciam intransponíveis.
Para abrir o último compartimento do cofre, ela obriga Zerakaiah, seu chefe, a cooperar. Nesse momento, os papeis se invertem e ela, que combatia a corrupção, agora se encontra do outro lado.
A fuga com o dinheiro levanta uma nova dúvida: a cirurgia de Palesa aconteceu? A resposta nunca é dada. O final da série evita fechar a história com soluções fáceis, deixando o desfecho em aberto.
Uma nova Babalwa
Antes mesmo de contar o dinheiro, Babalwa enfrenta um último obstáculo. Zerakaiah a flagra com Zweli e, ao ameaçar chamar a polícia, é morto por ela. É o momento em que não há mais volta, onde ela rompe com a legalidade e com a versão de si mesma que tentou preservar.
O enterro do corpo simboliza o silêncio pós-tempestade, a culminação de uma trajetória marcada por dor, impotência e escolhas impossíveis. A ex-policial agora é procurada, mas também é livre das amarras que a impediam de lutar por quem ama.
Constable Modise, que sempre suspeitou de Babalwa, também tem um papel decisivo. Após ser sabotado por ela e perder o emprego, busca vingança se aliando a Razor, o criminoso mais imprevisível da trama.
No confronto final, Zweli mata Razor e Babalwa confronta Modise. Ela admite que se transformou em algo que nunca pensou ser, mas também afirma que foi empurrada até ali por um sistema cruel.
Marcada está disponível na Netflix.