Atenção! Este artigo contém SPOILERS da temporada 4 de Love, Death + Robots.
A quarta temporada de Love, Death & Robots chegou com tudo na Netflix, misturando ficção científica, crítica social, espiritualidade e uma dose generosa de caos criativo.
Com dez episódios independentes, alguns filosóficos, outros cômicos, mas todos carregados de simbolismo, a série deixou muitos fãs coçando a cabeça e se perguntando: o que isso tudo realmente quis dizer?
Can’t Stop
No primeiro episódio, vemos uma apresentação dos Red Hot Chili Peppers, mas com um detalhe curioso: todos estão retratados como marionetes. À primeira vista, pode parecer só uma escolha estética excêntrica. Mas por trás da animação estilizada dirigida por David Fincher, existe uma reflexão poderosa: quando a música toma conta, até os artistas viram instrumentos do som.
A performance transforma músicos e plateia em peças de um mesmo espetáculo, todos dominados por um impulso coletivo, a força invisível da arte. A escolha por “Can’t Stop” como música tema dialoga perfeitamente com essa ideia: não dá para parar o que já nos moveu por dentro.
Minicontratos imediatos
Esse episódio parece uma brincadeira com invasões alienígenas, mas entrega uma lição amarga sobre o nosso lugar no universo. A humanidade, tão convencida de sua importância, responde com agressividade a um contato pacífico, e acaba se autodestruindo com a própria sede de poder.
A cereja do bolo? No final, a Terra é engolida por um buraco negro criado pela própria tecnologia humana. O título pode até soar cômico, mas a mensagem é clara: nosso ego pode nos tornar minúsculos diante do que realmente importa.
Spider Rose
Mais sombrio e introspectivo, Spider Rose mergulha fundo no luto e na obsessão por vingança. Lydia, agora chamada Spider Rose, vive isolada após perder o amor de sua vida. Ela encontra em Nosey, um bicho alienígena, uma chance de sentir algo novamente, mas já é tarde demais.
O desfecho, em que ela se entrega para ser consumida por Nosey, é uma metáfora poderosa: às vezes, a dor é tão profunda que devora tudo, até o que restava da nossa humanidade.
Os Caras do 400
Imagine gangues com superpoderes que se odeiam unindo forças para enfrentar monstros gigantes. Parece um cenário de videogame, mas o episódio 400 Boys é um grito de esperança em meio ao caos. Quando a sobrevivência entra em jogo, antigos rivais deixam o passado de lado e se unem.
A união é fortalecida pelo amor e pela perda. A morte de Croak desperta a força de Slash, que encontra motivação para liderar. No fim, o episódio nos mostra que o verdadeiro poder nasce da conexão humana, mesmo nas ruínas de um mundo em chamas.
A outra coisa grande
Com um tom mais cômico, esse episódio faz uma crítica afiada ao nosso apego por tecnologias que não entendemos. Entre robôs esquisitos e gatos duvidosos, vemos a humanidade literalmente trancada em sua própria armadilha, sem saber como escapar.
A tragédia aqui nasce do excesso de confiança: os humanos entregam suas vidas a uma inteligência artificial com intenções ocultas, sem nem ler o manual. O resultado? Fim da linha. É um lembrete hilário e assustador de como a comodidade pode ser o nosso fim.
Gólgota
Gólgota é um soco no estômago. Um padre encontra uma raça alienígena que acredita que os golfinhos são criaturas sagradas. Ao descobrir como tratamos essas espécies na Terra, os alienígenas decidem nos punir.
A metáfora é direta: falhamos como guardiões do planeta. O episódio se apoia em referências religiosas, mostrando a humanidade como o próprio carrasco de um “messias animal”. Forte, simbólico e impossível de ignorar.
O grito do Tiranossauro
Numa arena distópica, um gladiador e um tiranossauro são forçados a entreter uma elite sedenta por sangue. Mas, juntos, eles viram o jogo. É claro que essa união representa o poder das classes oprimidas contra os exploradores.
O episódio escancara como os poderosos mantêm os fracos divididos para evitar que se unam. Mas quando isso acontece, mesmo que por um instante, os donos do poder sentem o gosto da sua própria crueldade. E quem com sangue entretém, com sangue se envenena.
Como Zere entendeu a religião
Durante uma missão de guerra sobrenatural, Zeke, um ateu convicto, precisa enfrentar um demônio que só pode ser ferido por um símbolo sagrado. No fim, o que salva sua vida é um crucifixo. Coincidência? Nem tanto.
O episódio é uma jornada de fé, mostrando que às vezes é preciso enfrentar o próprio inferno pessoal para encontrar sentido na crença. Não se trata apenas de religião, mas de redenção e da força que encontramos quando tudo parece perdido.
Dispositivos inteligentes, donos idiotas
Aqui, a crítica é mais bem-humorada: aparelhos inteligentes usados por pessoas nem tão inteligentes assim. É o retrato de uma geração que transforma tudo em tecnologia, até o papel higiênico, sem pensar se aquilo é útil ou apenas desnecessário.
Não há moral profunda, mas há um alerta sutil: às vezes estamos tão preocupados em ter “smart” tudo que esquecemos de ser espertos nós mesmos.
Pois ele se move sorrateiramente
O último episódio fecha a temporada com uma fábula inesperada. Um gato chamado Jeoffrey enfrenta o próprio Satanás para proteger seu dono, um poeta à beira da loucura. Enquanto o mundo desmorona, o felino salva o dia.
É uma ode aos gatos? Sim. Mas também uma homenagem à conexão entre humanos e seus bichos de estimação. Jeoffrey não só protege o poeta fisicamente, mas o ajuda a manter a sanidade, provando que o amor verdadeiro, mesmo vindo de um gato, pode ser o antídoto contra a escuridão.
A 4ª temporada de Love, Death & Robots está disponível na Netflix.