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Baseada em fatos reais, está série da HBO Max retrata um dos maiores escândalos policiais dos EUA

A série é do mesmo criador de The Wire

Baseada em fatos reais, está série da HBO Max retrata um dos maiores escândalos policiais dos EUA

Desde que The Wire se consolidou como referência em séries policiais, a expectativa por algo à altura se tornou constante entre os fãs do gênero. Roteiros bem estruturados, ambientação realista e personagens complexos passaram a ser pré-requisitos para qualquer produção que se arriscasse no mesmo território narrativo.

Em meio a essa busca por sucessores dignos, uma série surgiu discretamente e, ainda assim, com um peso que poucos títulos conseguiram alcançar.

Lançada sem grande alarde em 2022 pela HBO, a minissérie A Cidade É Nossa passou despercebida por muitos, mesmo carregando nomes de peso e uma abordagem potente sobre o sistema policial americano.

Assistir à produção hoje é como redescobrir um clássico que nunca teve seu merecido reconhecimento. A força da narrativa e a forma como ela se estrutura tornam a série um complemento natural – e, em alguns momentos, ainda mais incisivo – do universo criado em The Wire.

O sucessor espiritual de The Wire

A Cidade É Nossa nasceu das mentes de David Simon e George Pelecanos, os mesmos responsáveis por The Wire. Com apenas seis episódios, a minissérie acompanha a trajetória real de Wayne Jenkins, policial da força-tarefa de Baltimore que comandava um esquema de corrupção dentro da própria corporação.

Interpretado por Jon Bernthal, o personagem carrega a tensão da trama nas costas, em uma narrativa que alterna diferentes períodos da investigação para revelar, aos poucos, o nível de podridão escondido sob o uniforme.

O enredo não se limita aos eventos em si, mas escancara a relação conflituosa entre autoridade e violência na cidade de Baltimore. A série mergulha nos bastidores de um sistema corroído e questiona até que ponto os mecanismos de poder servem realmente à população.

Uma história real que pesa mais que a ficção

A minissérie é baseada no livro de Justin Fenton e aborda a operação que desmantelou o Gun Trace Task Force, unidade da polícia de Baltimore envolvida em extorsões, agressões, tráfico de drogas e falsificações de provas.

Os fatos ganharam ainda mais repercussão por acontecerem pouco depois dos protestos que se seguiram à morte de Freddie Gray, jovem negro morto sob custódia policial em 2015. Esses eventos, que abalaram os Estados Unidos, são pano de fundo para o retrato brutal da série.

Diferente de outras produções do gênero, aqui a realidade serve como principal motor narrativo. Cada episódio amplia a sensação de impotência diante de um sistema que favorece abusos e encobre crimes cometidos por aqueles que deveriam proteger. Ao mesmo tempo, o roteiro evita cair no didatismo, entregando uma trama envolvente, mas sempre conectada à gravidade dos fatos retratados.

Elenco afiado e atuações intensas

O destaque da série recai sobre Jon Bernthal, que entrega uma atuação visceral como Wayne Jenkins. Conhecido por seus papéis em produções como The Punisher e O Lobo de Wall Street, o ator encarna com precisão a contradição de um personagem que alterna charme manipulador e brutalidade.

Ao lado dele, David Corenswet – o novo Superman – surpreende ao viver o detetive David McDougall, papel que contrasta com sua imagem habitual e revela uma faceta mais dura de sua atuação.

Jamie Hector, famoso por interpretar Marlo Stanfield em The Wire, também está no elenco e interpreta Sean Suiter, outro personagem complexo e essencial para o desenvolvimento da trama.

Uma obra que merece ser redescoberta

Apesar da recepção positiva da crítica – com 93% de aprovação no Rotten Tomatoes – A Cidade É Nossa não teve o alcance que deveria. Talvez por ser uma minissérie, talvez pela temática densa, o fato é que muitos espectadores ainda não descobriram o potencial dessa história. No entanto, para quem se interessa por tramas policiais ancoradas na realidade, esse é um título essencial.

O formato compacto, com apenas seis episódios, permite que a narrativa seja ágil e objetiva, sem perder a complexidade dos personagens ou das situações retratadas. A série é, ao mesmo tempo, um estudo de caso, uma denúncia e uma peça de entretenimento de alta qualidade.

Mesmo que tenha passado despercebida em seu lançamento, A Cidade É Nossa tem tudo para se tornar um dos grandes títulos cult do catálogo da HBO Max.

 
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