
Desde que chegou ao Prime Video, a franquia The Boys nunca escondeu sua vontade de satirizar os super-heróis mais famosos da cultura pop. Mas, entre piadas ácidas e críticas sociais, a série e seus derivados vêm encontrando espaço para recriar alguns dos confrontos mais marcantes do gênero com um olhar próprio.
A segunda temporada de Gen V dá um passo além ao posicionar dois personagens com poderes e visões de mundo opostos em rota de colisão. A semelhança com o duelo histórico entre Magneto e Professor Xavier, dos X-Men, não é coincidência e deve render um dos momentos mais tensos da série até aqui.

Cipher e Polarity como versões de Xavier e Magneto
Cipher e Polarity, novos destaques da temporada, personificam bem os arquétipos do mentor telepata e do adversário magnético. Enquanto Polarity lembra Magneto por seu controle sobre metais e sua raiva internalizada, Cipher se destaca por habilidades mentais que o colocam em vantagem estratégica constante, lembrando Xavier, mesmo que com intenções bem mais sombrias.
Ao contrário dos personagens da Marvel, que possuem uma história de amizade pregressa e objetivos em comum, Cipher e Polarity não compartilham esse vínculo. No entanto, a morte de Andre, filho de Polarity, e o comportamento insensível de Cipher após o ocorrido adicionam essa camada emocional que aproxima o conflito de algo mais pessoal e intenso.
Polarity, até então um herói com falhas, demonstra profundo ressentimento e deixa claro que pretende se vingar. Cipher, por sua vez, menospreza o luto do colega e segue manipulando os eventos ao seu redor com frieza.

A inversão de papéis e as apostas da temporada
O que torna o embate ainda mais interessante é a inversão de posições em relação ao modelo original. Aqui, o personagem com poder mental é o antagonista, enquanto o que manipula metais é o herói. Essa inversão traz uma nova perspectiva para o clássico duelo ideológico e deve render consequências diretas na reta final da temporada.
O cenário para essa disputa já está montado. Polarity permanece fora do cativeiro de Elmira e tem liberdade de ação, enquanto Cipher, apesar de parecer ter o controle da situação, pode subestimar o pai em luto. Essa dinâmica cria tensão suficiente para uma batalha que pode redefinir o equilíbrio de forças da série.
A comparação com Magneto e Xavier também destaca o caminho que Gen V está tomando: menos sátira, mais construção narrativa sólida. O confronto anunciado entre Cipher e Polarity se afasta do humor escrachado que marcou momentos como o deboche à teoria do Homem-Formiga e Thanos, e se aproxima de uma trama com peso dramático real.

A ausência de laços pessoais e o diferencial de Gen V
Apesar das semelhanças com o embate clássico da Marvel, a relação entre Cipher e Polarity carece da complexidade emocional que tornou Xavier e Magneto tão marcantes. A amizade transformada em rivalidade é um elemento-chave no caso dos mutantes. Já em Gen V, o conflito parte diretamente de um antagonismo construído por perda e manipulação.
Essa diferença, no entanto, pode jogar a favor da série. Ao evitar repetir fórmulas e buscar sua própria identidade, Gen V constrói um embate que, embora inspirado, se sustenta por méritos próprios. A intensidade e a brutalidade prometidas compensam a falta de uma conexão prévia entre os personagens.
No fim das contas, o embate entre Cipher e Polarity é uma reinvenção dentro das regras de um universo que, cada vez mais, amplia seus horizontes e se prepara para a guerra final anunciada em The Boys.