
No universo da ficção científica, cenas de destruição planetária são comuns. Muitas vezes, porém, esses eventos servem apenas para ampliar o espetáculo visual, sem que o público tenha tempo ou contexto para sentir o impacto da tragédia.
A nova temporada de Fundação, do Apple TV+, subverte essa lógica e entrega um exemplo raro de como transformar uma catástrofe “vazia” em elemento central da narrativa.

Destruíção de Kalgan
Durante o quinto episódio da 3ª temporada, intitulado Onde os Tiranos Passam a Eternidade, intrigas e manipulações levam à formação de um bloqueio militar em Kalgan, em meio à queda iminente do Império. Mas o plano, criado para conter a ameaça do Mulo, acaba gerando consequências irreversíveis.
Irmão Dawn, convencido a agir por Gaal Dornick, cumpre sua parte no plano, mas sem perceber que está se tornando uma peça de um jogo muito maior. O impacto é devastador e, em um único movimento, o Mulo aniquila o planeta e toda a frota ao redor, alterando de forma decisiva o equilíbrio de poder na galáxia.
O episódio coloca o destino de um planeta inteiro nas mãos de decisões políticas e jogos de poder, e surpreende com suas escolhas narrativas à partir dos desdobramentos dessa catástrofe.

O efeito das consequências
A diferença em relação a outros exemplos do gênero, como a destruição de Alderaan em Star Wars, está no modo como a série trata o acontecimento. Em vez de seguir adiante como se fosse apenas um obstáculo momentâneo, Fundação se detém nas consequências.
O episódio mostra o impacto direto da catástrofe na vida de personagens secundários, como a família de um conselheiro envolvido na votação que autorizou o bloqueio. A partir desse núcleo, o público acompanha a reação de luto, raiva e desespero, enquanto as implicações políticas e morais se acumulam.
Outro acontcimento que também contribui para esse peso dramático é a revelação de que Gaal, ciente das possíveis consequências, planejou os eventos para fortalecer a posição da Fundação contra o Mulo. Essa escolha ambígua expõe o lado mais sombrio da personagem e questiona até que ponto o “fim justifica os meios”.

Por que Fundação sai na frente
Ao optar por não encerrar a sequência, a série cria a oportunidade de se prolongar nos desdobramentos, mostrando como a notícia se espalha, como líderes políticos reagem e de que forma civis tentam lidar com a perda, evitando, assim, o constante esvaziamento de roteiro presente nessas situações.
Explorando a destruição de Kalgan e suas consequências, Fundação consegue adicionar o peso necessário para tornar esse acontecimento um problema verdadeiro e não apenas um recurso de roteiro. A série, dessa forma, corrige um problema recorrente de Star Wars e de outras franquias do gênero.
Aqui, cada etapa, desde o planejamento até a reação final, é explorada em detalhes, reforçando o peso do momento e transformando-o em um marco narrativo. Em vez de encerrar com a explosão, o episódio se aprofunda nos dilemas internos dos envolvidos, trazendo uma profundidade maior para o roteiro e as ações dos personagens.
Esse, além de tudo, é um exemplo perfeito de escolha narrativa que torna Fundação a melhor série de ficção-científica da atualidade.
Fundação está disponível no AppleTv+.