O sexto episódio de Demolidor: Renascido deixa claro que o cargo de prefeito não garante a Wilson Fisk o mesmo tipo de controle que ele exercia como Rei do Crime. Embora agora ocupe um posto oficial dentro da lei, sua atuação segue limitada por amarras burocráticas, interesses políticos e pelas figuras que realmente movem os fios do poder em Nova York.
Desde que assumiu o mandato, Fisk tenta convencer os eleitores de que sua intenção é mudar a cidade para melhor. Enquanto Matt Murdock enfrenta a luta interna entre ser advogado ou vigilante, Fisk também passa por uma transformação, tentando se desvencilhar de seu passado criminoso para se tornar um líder “legítimo”.
No entanto, sua posição como prefeito é menos poderosa do que parece – e do que ele esperava. Diferente de sua atuação clandestina, agora ele é obrigado a negociar com vereadores, atender aos processos da administração pública e ouvir aliados – além, é claro, de cumprir uma longa agenda de compromissos sociais tediosos.
A elite é quem dita as regras
O sexto episódio deixa essa dinâmica clara, ao colocar Fisk em um jantar com os grandes nomes da elite nova-iorquina. A ocasião, segundo sua esposa Vanessa, não serve exatamente para arrecadar fundos, mas sim para firmar alianças. Os doadores querem garantir que Fisk jogue conforme suas regras, e deixam claro que, se ele contrariar seus interesses, perderá o cargo.
Apesar de contar com o apoio de figuras como Daniel Blake, o prefeito se vê cada vez mais encurralado por um sistema em que dinheiro fala mais alto do que votos. Agora, quem o ajudou a chegar ao poder exige retorno.
Essa dinâmica revela uma das principais críticas da série: o real poder de decisão não está nas mãos de cargos eletivos, mas nas de quem financia e manipula o tabuleiro. Essa ideia é apresentada de formas diferentes, tanto nos jogos políticos de Fisk quanto na fé de Murdock no sistema.
Quem realmente está no controle?
A estrutura da série mostra como Fisk e Matt vivem trajetórias paralelas. Ambos tentam abandonar seus antigos papéis, mas são puxados de volta por forças que parecem inevitáveis. Fisk tenta ser um líder institucional, mas não tem paciência para o jogo político tradicional. Seu instinto ainda é agir com violência e impor respeito pela força.
Matt, por outro lado, precisa provar a para si que a justiça funciona por meios tradicionais, mesmo que isso signifique se afastar como herói. Ainda que cultivem diferentes crenças e estejam em lados opostos do jogo, os dois se frutram pelo mesmo motivo: um sistema quebrado.
A cidade continua sendo uma engrenagem dominada por interesses privados, onde qualquer tentativa de mudança precisa primeiro passar pelo crivo dos verdadeiros donos do jogo. Por isso, Born Again não só resgata a complexidade dos quadrinhos, mas também a atualiza com uma reflexão sobre poder, corrupção e a ilusão de controle.