
A primeira temporada de Delírio, série colombiana da Netflix, termina de forma intensa, reunindo os principais personagens e selando o destino de Agustina Londoño após um longo período de colapso emocional.
Com uma narrativa fragmentada e cercada de camadas, a série apresenta o desfecho de conflitos que envolvem traumas familiares, escolhas amorosas e a luta da protagonista por autonomia e paz.
Ao longo dos episódios, a história alterna entre diferentes momentos da vida de Agustina. No presente, acompanhamos Aguilar, seu marido, enfrentando o peso de cuidar de alguém que parece ter se perdido dentro da própria mente.
No passado, somos apresentados à origem das feridas emocionais da protagonista, que crescem entre repressões familiares e relações marcadas por abandono.
Um colapso que ecoa gerações
O último episódio retoma a noite em que Agustina desaparece de casa e é encontrada em um hotel, em estado de confusão extrema. A partir desse momento, a série revela que o episódio foi desencadeado por uma visita ao aniversário da mãe, Eugenia. Lá, confrontada com velhas feridas, ela inicia um processo de ruptura definitiva com a imagem idealizada de sua família.
Durante a festa, Agustina se vê novamente silenciada, julgada pela aparência e pelas escolhas. A presença de Midas — ex-amante e peça-chave de seu passado — a leva a um momento de fuga temporária, mas o reencontro com o irmão Joaco e a tensão no discurso em homenagem à mãe fazem com que ela exponha publicamente os segredos familiares que sempre foram mantidos sob o tapete.
Entre as revelações, estão a exclusão do irmão Bichi por ser gay, o affair de Eugenia com o marido da irmã e o aborto forçado imposto a Agustina no passado. A protagonista então sofre um surto, convencida de que todos estão contra ela, e foge. Esse evento marca o ápice de seu estado mental deteriorado, evidenciando que seu sofrimento tem raízes profundas.
O peso do passado e a escolha pelo presente
A crise de Agustina não é um evento isolado. A série também revela a história de seu avô Nicolás, pianista sensível que sofria com distúrbios mentais e terminou sua vida no mesmo lago que a neta considera um refúgio. Essa linha narrativa paralela reforça a ideia de que a saúde mental é um tema recorrente na família e ajuda a entender o estigma imposto por Eugenia às gerações seguintes.
Já Midas, que reaparece em meio ao caos, é confrontado com a responsabilidade por parte das dores de Agustina. Em uma conversa no hotel, ele admite ter negligenciado seu estado emocional e afirma que estava mais preocupado em vencer socialmente do que em cuidar dela. Ao final, ele opta por se afastar, aceitando a impossibilidade de retomar o passado.
Agustina, por sua vez, escolhe não procurá-lo. Recuperada e mais lúcida, ela pede que Aguilar o visite caso queira entender o que ocorreu naquela noite. O gesto evidencia que ela prefere o vínculo sincero e comprometido com Aguilar à instabilidade emocional que marcou sua relação com Midas.
Reconciliação e recomeço
Nos momentos finais, Agustina e Aguilar decidem derrubar a fita que dividia os cômodos da casa, abrindo espaço para uma convivência renovada. Ela o convida para um encontro, sugerindo que leve seu molde de impressão digital, objeto que havia sido plastificado logo no início da história, em um gesto de afeto.
A escolha desse objeto como símbolo reforça a ideia de permanência. A digital representa a essência de Aguilar, aquilo que nunca muda, mesmo diante das transformações externas. É com esse entendimento que Agustina parece finalmente aceitar a constância do companheiro como pilar de apoio em sua recuperação.
Durante esse reencontro, a protagonista narra reflexões que resumem sua trajetória. Ela entende que relacionamentos não se constroem na tentativa de apagar o que está quebrado, mas sim na aceitação das rachaduras.
Agustina, agora ciente de seus limites e feridas, escolhe seguir ao lado de alguém que esteve presente nos momentos mais difíceis, sem apagar o passado, mas também sem permitir que ele continue ditando sua vida.