O segundo episódio de It: Bem-vindos a Derry expande o escopo da série e mergulha em um território completamente inesperado. Se no capítulo anterior o público ainda tateava a atmosfera de terror psicológico e as origens do mal, agora a trama se revela mais ambiciosa, com o envolvimento das Forças Armadas em uma missão secreta que transforma a série em algo além do simples prelúdio de It: A Coisa.
O terror ainda está lá, denso, psicológico e muitas vezes sufocante, mas agora dividido com uma trama que envolve o Exército americano e uma busca por algo enterrado nas profundezas da cidade. O resultado é uma mistura de mistério sobrenatural e thriller político, ambientada em uma Derry dividida entre o medo e a manipulação.

As Forças Armadas e o mistério do subterrâneo
Diferente da estreia, que se concentrava em apresentar o clima e os personagens, The Thing in the Dark começa a conectar as peças e mostrar o quanto esse prelúdio pode ser muito mais do que parecia. Há uma sensação de que estamos vendo a cidade despertar e, junto dela, o mal que estava adormecido.
A grande revelação acontece quando o General Shaw conta que as Forças Armadas procuram uma “arma” escondida sob Derry. O objeto misterioso parece ter ligação com a entidade que conhecemos como Pennywise, pois, segundo ele, é capaz de causar tanto medo a ponto de fazer um homem tirar a própria vida.
O arco militar se sobressai como o grande diferencial deste capítulo. A Operação Precept, conduzida por Hallorann e supervisionada pelo General, sugere que o governo americano tenta controlar a criatura como arma de guerra, uma ideia que, aqui, expande o conceito de medo como instrumento político.
O mistério se intensifica quando Hallorann e sua equipe encontram um Cadillac preto, cercado por esqueletos, nas galerias subterrâneas da cidade. A cena é uma das mais inquietantes até agora, não só pela atmosfera, mas pela ligação com o Tiroteio da Gangue Bradley, um evento macabro citado em It: A Coisa.
A sequência reacende a sensação de que Derry é um cemitério vivo de segredos e que o mal, ali, está sempre à espreita. A teoria de que a “arma” buscada pelo governo é a própria criatura responsável pelos horrores da cidade adiciona uma camada política, adicionando à série uma trama estratégica e política para além do horror.
Além disso, Dick Hallorann, o personagem que também aparece em O Iluminado, agora é revelado como figura central da narrativa. Interpretado por Chris Chalk, ele usa suas habilidades psíquicas (o famoso shine), para ajudar as Forças Armadas na busca pela entidade. Essa ligação direta com outra obra de King cria um dos momentos mais satisfatórios da série até agora, estabelecendo o universo compartilhado.

A estrutura de horror e nostalgia
A forma com que a série é conduzida remete bastante a Stranger Things. Crianças, segredos, monstros, um amigo desaparecido e o peso da memória coletiva, tudo está lá, mas com o tom sombrio e claustrofóbico que distingue o universo de King.
Um exemplo disso é a cena mais intensa do episódio, quando A Coisa assume a aparência da mãe falecida de Ronnie, manipulando a criança com crueldade. Embora o palhaço ainda não apareça em sua forma clássica, esse é um lembrete de que a entidade se alimenta do medo em qualquer forma.
O equilíbrio entre nostalgia e terror é eficiente. As cenas são construídas com ritmo lento, mas recompensador, deixando espaço para que o mistério se acumule e o medo cresça aos poucos.

Uma série para além do prelúdio
A trama política traz uma camada mais profunda que dá sentido ao “arco dos adultos” e faz com que a série não gaste todo seu potencial em apenas uma narrativa de terror. As preocupações referentes a Guerra Fria acrescentam uma sensação de realidade, dando dimensão para a história.
O segundo episódio confirma que Bem-vindos a Derry não pretende ser uma simples repetição dos filmes e nem uma cópia de algo que já vimos, mas uma reconstrução do mito de Pennywise.
A escolha de explorar o lado militar e as conexões com outras obras de King reforça a ambição da série, que parece mirar em um crescimento gradativo ao longo das semanas.
Nota: 7,5/10

