The Last of Us conquistou milhões de fãs ao unir emoção, brutalidade e um apocalipse fungoso com cara de realidade. A série da HBO, baseada no game de sucesso da Naughty Dog, mergulha a audiência em um mundo devastado por um fungo que transforma humanos em criaturas bizarras.
Mas, por mais envolvente que seja, a trama não é perfeita. Se você parar para pensar, há alguns pontos que simplesmente não fazem sentido, e mesmo assim, a gente ignora porque a história é boa demais para largar.
A infecção parece real, mas não é tão possível assim
Um dos grandes trunfos da série é tentar vender a ideia de que o cordyceps realmente poderia dizimar a humanidade. A explicação científica parece até convincente: um fungo que sofre mutações por conta do aquecimento global e começa a infectar humanos.
Só que, segundo especialistas de verdade, isso está bem longe de ser plausível. Fungos como o cordyceps evoluíram por milhões de anos para afetar um único tipo de inseto, e a transição para humanos seria um salto quase impossível.
Ainda assim, a forma como a série retrata os infectados, com movimentos estranhos e uma aparência grotesca, é tão imersiva que a maioria das pessoas nem questiona. E tudo bem. A função da ficção é justamente essa: fazer a gente esquecer que certas coisas não se encaixam, porque a narrativa está funcionando tão bem que a lógica fica em segundo plano.
O motivo de Joel não ser infectado é inacreditável
No primeiro episódio, Joel menciona que está seguindo a dieta Atkins, famosa por cortar carboidratos. Parece uma piada sem importância, mas depois descobrimos que o fungo se espalhou pelo mundo por meio da farinha contaminada. Coincidência demais? Talvez. Mas a série sugere que Joel escapou da infecção justamente por evitar pão, bolo e outras delícias.
Ou seja, o fim da civilização foi causado por uma fornada apocalíptica de glúten, e quem estava no low carb sobreviveu. A ideia de que uma simples dieta salvou o protagonista de ser devorado por um fungo assassino é, no mínimo, ridículo. Mas esse detalhe serve como uma dessas “licenças poéticas” que a gente aceita só para a história continuar.
Cadê as máscaras?
Se há uma coisa que aprendemos nos últimos anos é que proteger o rosto pode salvar vidas. No mundo de The Last of Us, onde o fungo está por toda parte, parece óbvio que os sobreviventes estariam com máscaras o tempo todo. Só que… não estão. Em muitos momentos, vemos Joel, Ellie e outros personagens andando livremente em ambientes fechados infestados de cordyceps sem nenhuma proteção respiratória.
Nos jogos, os personagens usavam máscaras em áreas com esporos, o que fazia muito mais sentido. Já na série, o contágio é mostrado através de tentáculos grotescos, mudando a dinâmica. Mesmo assim, diante de tanto fungo exposto, parece estranho que ninguém se preocupe com um simples acessório de proteção. No apocalipse, todo cuidado deveria ser pouco.
O shopping funcionando é uma baita forçada de barra
O episódio “Deixada Para Trás” é um dos mais emocionantes da primeira temporada, mostrando o passado de Ellie e sua amizade com Riley. As duas se aventuram em um shopping abandonado que, misteriosamente, ainda tem eletricidade, mesmo depois de 20 anos de colapso da sociedade. As luzes se acendem, os brinquedos funcionam, e tudo parece quase mágico.
O problema é que a energia elétrica não é eterna, ainda mais em um prédio abandonado há décadas. E como ninguém notou a movimentação naquele shopping enorme iluminado no meio do escuro pós-apocalipse? Parece que FEDRA, o regime militar da série, não anda prestando muita atenção em suas redondezas. Mas quem liga para coerência quando a cena emociona tanto?
As armas funcionam bem demais para o caos em que estão
Outro ponto curioso é como todas as armas em The Last of Us funcionam como se tivessem saído da fábrica ontem. Joel pega uma arma abandonada e, como mágica, ela dispara perfeitamente. Não há travamentos, falhas ou necessidade de manutenção. Em um mundo sem limpeza regular, peças de reposição ou óleo lubrificante, isso é bastante improvável.
Na vida real, armas precisam de manutenção constante para não falharem. Mas se a série mostrasse cada engasgada ou problema técnico, perderíamos aquelas sequências de ação impecáveis que prendem a respiração. Então, mesmo sabendo que é improvável, deixamos passar. Afinal, ver Joel em combate é uma das melhores partes do show.
Jackson parece até uma utopia fora do apocalipse
Quando Joel e Ellie chegam a Jackson, a impressão é de que entraram num comercial de vida perfeita. Ruas limpas, casas bem cuidadas, roupas novinhas e até luzinhas decorativas no inverno. Mas será que isso seria mesmo possível duas décadas depois do colapso da civilização?
A série tenta justificar esse paraíso com a ideia de uma comunidade colaborativa, onde todos compartilham tarefas e recursos. Funciona até certo ponto. Porém, fica difícil de acreditar que tudo esteja tão bem mantido, considerando especialmente o estado de abandono do resto do mundo. Mas Jackson representa esperança, e talvez esse seja o ponto: mostrar que ainda é possível reconstruir algo mesmo no caos.
A explicação da imunidade de Ellie é forçada até demais
O episódio final da primeira temporada tenta explicar a imunidade de Ellie com uma cena envolvendo sua mãe, Anna. Interpretada por Ashley Johnson (a Ellie dos games), Anna é mordida momentos antes de dar à luz. A ideia é que esse contato quase simultâneo entre infecção e nascimento deu a Ellie uma espécie de resistência natural ao cordyceps.
É um momento emocional e cheio de simbolismo, mas cientificamente, isso não faz o menor sentido. Fungo não é vírus, e não existe vacina natural para esse tipo de infecção. Mas, de novo, a série nos faz aceitar o improvável em nome de algo maior: a jornada de Ellie, que depende justamente dessa condição tão única.
Quando a história é boa, a gente releva tudo
The Last of Us é, sem dúvida, uma das melhores adaptações de videogame já feitas para a TV. Mesmo com todos os furos de lógica, conveniências forçadas e explicações esquisitas, a narrativa segura tão bem que o público perdoa tudo.
É o tipo de série que faz você esquecer dos detalhes e se concentrar nas emoções e isso, no fim das contas, é o que realmente importa.
The Last of Us está disponível na Max. A 2ª temporada é transmitida semanalmente, aos domingos, a partir das 22h. O episódio final da temporada será lançado no dia 25 de maio.