A linha entre o absurdo e o real sempre foi o terreno onde Big Mouth se destacou. Com uma linguagem escancarada e zero pudores para tratar da puberdade, a animação da Netflix acompanhou por oito temporadas um grupo de adolescentes em sua jornada pelo caos do crescimento.
Agora, com o fim oficial da série, os personagens se despedem de Bridgeton Middle, mas também de suas versões mais jovens, fechando o ciclo com uma reflexão sobre o que significa crescer.
O último episódio, chamado The Great Unknown, deixa claro desde o título que o foco é o futuro. O colégio onde tudo começou está prestes a ser demolido, e os protagonistas se reúnem pela última vez no espaço que os moldou, se tornando um rito de encerramento.
Os dilemas do fim da adolescência
Missy relembra sua transformação de menina nerd para jovem decidida, em meio a um novo romance e a aceitação de seus pais. Jessi, por outro lado, continua lidando com expectativas familiares enquanto tenta controlar o uso de maconha e enfrenta a pressão de um estágio promissor. Jay e Lola aparentam estar estáveis, criando juntos Featuring Ludacris, mas o medo de dizer “eu te amo” ainda ronda o casal.
Matthew, que conheceu Dewayne online, se encontra dividido entre o desejo e a insegurança de iniciar uma vida sexual, e mesmo que a dinâmica entre ele, Jay e Lola pareça bizarra, ela é resolvida com sinceridade e um toque de absurdismo típico da série. Lola, inclusive, termina com Jay no fim do episódio, fechando seu arco da forma mais coerente com sua personalidade.
Andrew, sempre obcecado por sexo, passa por uma virada importante ao perceber que seus pensamentos não são mais guiados apenas por esse impulso. Ele reflete sobre suas atitudes e chega a conclusões inesperadas para quem acompanhou seu desenvolvimento desde o início.
A luz que leva ao futuro
A imagem mais marcante do final é o surgimento de uma luz branca que vai tomando conta da escola. Aos poucos, os personagens entendem que aquele brilho representa seus futuros. Mesmo com medo, um a um atravessam a luz e desaparecem, deixando o passado para trás.
Steve, sempre carente, teme não ter com quem conviver depois dali, mas Nick o lembra que eles ainda estarão juntos, de alguma forma. Cada personagem revela o que espera do futuro: Matthew quer explorar sua sexualidade com Dewayne, Lola deseja estar sozinha, e assim todos se despedem da adolescência.
Nick, que finalmente passa pela puberdade, ganha Maury como novo monstro hormonal. O detalhe é que Maury, anteriormente ligado a Andrew, está tentando lidar com a despedida de seu cliente favorito.
Quando Andrew descobre que sua puberdade acabou e que seu corpo não passará mais por transformações, os dois compartilham um momento emotivo e hilário, como é característico da série.
Um final digno, mas cheio de ausências
Nem todos os personagens retornam para a despedida. Montel, filho de Maury e Connie, é completamente ignorado. Mesmo os personagens de Human Resources aparecem de forma discreta, com exceção de um momento coletivo em que observam os jovens atravessarem a luz.
Devon também não participa do último episódio, reflexo da morte de seu dublador Jak Knight em 2022. Ainda assim, é lembrado numa breve cena em que Missy o vê e comenta sua saudade. Personagens como Elijah, Caitlin e Delilah também não têm desfechos definidos.
No fim, Big Mouth encerra sua provocando desconforto para gerar conversa, assim como foi durante sua trajetória. A série entrega encerramentos que fazem sentido dentro da proposta da animação e a luz branca que engole os personagens simboliza a aceitação de que crescer é inevitável e assustador, mas também libertador.
Ao final, Big Mouth reafirma sua mensagem central, lembrando que todos enfrentamos nossos monstros internos, mas o importante é seguir em frente, mesmo sem saber exatamente o que vem depois.