Desde 1979, os fãs de Alien aprenderam a enxergar os Xenomorfos como a encarnação máxima do terror espacial. Ao longo de décadas, essa criatura se tornou um inimigo implacável da humanidade, sempre retratada como a força hostil. Por isso, qualquer mudança nessa fórmula inevitavelmente chama atenção (e pode causar estranhamento).
Com Alien: Earth, a franquia encontrou um espaço para se renovar, mas também para desafiar a tradição. A série, que já vinha expandindo a mitologia criada por Ridley Scott ao apresentar novas espécies alienígenas e mergulhar mais fundo em disputas corporativas, foi ainda mais longe. No sétimo episódio, os Xenomorfos assumem um papel que jamais tiveram nas telas: o de aliados.
Um Xenomorfo lutando ao lado dos heróis
Desde os primeiros episódios Wendy mostrou ser capaz de se comunicar com os Xenomorfos, e, no episódio 7, esse “dom” ganha novos contornos. Utilizando uma linguagem feita de estalos e sons guturais, a protagonista é capaz de dar comandos básicos, como “seguir” ou “se esconder”, transformando a criatura em uma arma contra os verdadeiros vilões da história.
A cena que acompanha o Xenomorfo atacando soldados no meio da floresta subverte as expectativas e apresenta um novo lado dos aliens mais famosos da cultura pop. O terror dá lugar a um sentimento de estranheza ao assistir, pela primeira vez, a brutalidade deles se voltar contra antagonistas humanos sob o comando de uma híbrida sintética.
A explicação por trás do vínculo
Apesar de ser bem controvérso para quem acompanhou os filmes, a habilidade de Wendy não surgiu do nada. Como híbrida sintética, ela guarda semelhanças com Eloise, personagem dos quadrinhos da Dark Horse, que também possuía conexão genética com os Xenomorfos. Nos quadrinhos, ela chegou a comandar uma “ninhada” própria, algo que Alien: Earth pode estar adaptando em uma nova versão.
Esse paralelo reforça a ideia de que Wendy não apenas entende os Xenomorfos, mas compartilha de uma empatia que a coloca em uma posição única. Ao contrário de outros humanos, ela não vê os alienígenas apenas como monstros, e isso pode alterar a forma como a franquia trabalha a relação entre humanos e criaturas no futuro.
Além disso, a virada no episódio 7 pavimenta o caminho para o grande embate do último episódio da temporada. O Xenomorfo ligado a Wendy parece fiel a ela por ter sido criado sob sua influência desde o nascimento. Já o recém-nascido de Arthur Sylvia não carrega essa lealdade e tende a se tornar uma ameaça direta à protagonista, equilibrando as coisas.
Esse confronto entre dois Xenomorfos é algo nunca explorado de forma central nos filmes e cria expectativa para um desfecho grandioso, mesmo após a decisão ousada de criar uma versão que obedece a comandos e se torna uma arma. Alien: Earth parece preparado para entregar uma batalha que pode desafiar ainda mais a mitologia da franquia.
Alien: Earth e o risco
A decisão de reposicionar o Xenomorfo mostra a coragem da série em explorar territórios narrativos inéditos, mas, até o final da temporada, não há como saber se foi uma boa escolha. Colocar os Aliens mais temidos do universo cinematográfico nessa posição, pode enfraquecer a mitologia de Ridley Scott e ir contra tudo que a série havia construído até então.
Alien: Earth se apresentou como uma obra disruptiva, com intenção de expandir a narrativa dos filmes, mas decisões tão ousadas podem comprometer toda a qualidade que a série apresentou em seus 6 episódios anteriores.
Essa dinâmica e suas consequências podem se tornar a escolha que vai definir se a ideia da série é um sucesso ou fracasso. A qualidade é inegável, e o tom adotado por Ridley Scott no filme original se fez presente desde o começo da produção, que passava o recado de ser uma grande homenagem. Agora, todo bom trabalho pode ser apagado por um final controverso.
Alien: Earth está disponível no Disney+.