Aparentemente só mais um drama policial da Netflix, O Jogo da Viúva é baseado em um caso tão bizarro quanto perturbador. A produção espanhola, disponível no catálogo da plataforma, mergulha numa história de traição, manipulação e assassinato que, por mais inacreditável que pareça, realmente aconteceu. Mas por que esse caso chocou tanto a Espanha? E o que torna essa história tão desconcertante?
Prepare-se para conhecer todos os detalhes do crime que inspirou a série. Do assassinato de um marido exemplar até a teia de mentiras tecida por sua esposa, a verdade por trás do jogo é ainda mais perversa que a ficção.
Um assassinato calculado que parecia impossível de prever
Antonio Navarro Cerdán era um engenheiro de 36 anos, descrito como um homem simples e trabalhador. Em 2016, ele se casou com María Jesús Moreno, conhecida como Maje, e os dois se mudaram para Valência em busca de estabilidade profissional. Ela era enfermeira supervisora em um hospital católico, e ele trabalhava em uma empresa de conservação de estradas.
Mas em 16 de agosto de 2017, a vida de Antonio terminou de forma brutal. Seu corpo foi encontrado em uma garagem, com diversas facadas no peito. Nada havia sido roubado. A cena indicava que o crime era pessoal, passional, e muito, muito planejado.
Uma viúva acima de qualquer suspeita
A princípio, Maje fez o papel da esposa devastada. Enviou mensagens para o marido ao longo do dia, demonstrando preocupação, e se mostrou chocada ao saber do assassinato. Mas havia algo que os investigadores não conseguiam ignorar: o comportamento da viúva era estranho demais.
A polícia passou a investigar discretamente, e as suspeitas aumentaram. O homicídio não parecia ter motivação financeira imediata, e Maje insistia em um discurso de vítima submissa, o que soava estranho para quem a conhecia bem.
Amantes, mentiras e uma armadilha perfeita
Aos poucos, a vida secreta de Maje veio à tona. Ela mantinha vários casos extraconjugais, inclusive antes de se casar com Antonio. Para seduzir os amantes, contava que era vítima de um casamento abusivo. Inventava que o marido a proibia de sair, que a humilhava e até a agredia.
Foi assim que ela manipulou Salvador “Salva” Lapiedra, um enfermeiro muito mais velho que ela, emocionalmente vulnerável e completamente apaixonado. Maje usou esse vínculo para convencê-lo a cometer o crime. Ela lhe entregou a chave da garagem e orientou como ele deveria agir. Salva atacou Antonio com uma faca de cozinha, tirando-lhe a vida e, ingenuamente, acreditando estar libertando a mulher amada.
A polícia não tinha provas, mas tinha um pressentimento
Durante meses, a polícia acompanhou Maje sem encontrar provas concretas. Até que, em novembro de 2017, uma escuta telefônica mudou tudo. Salva ligou para Maje para confrontá-la sobre um novo amante. Ela desconversou, sugerindo que se encontrassem pessoalmente, desconfiada de que os telefones estavam grampeados.
Ela estava certa. Agentes da polícia seguiram os dois até um café e, pela primeira vez, viram com os próprios olhos que aquele homem era mais do que um conhecido. O próximo passo foi coletar provas, e Maje, sem saber, cometeu o erro fatal.
Um encontro revelador e a queda dos culpados
Em janeiro de 2018, Maje e Salva se encontraram novamente e voltaram a falar do crime. No diálogo, mencionaram a chave do estacionamento, detalhe suficiente para implicá-los diretamente. Um policial disfarçado, presente no local, gravou tudo.
Ambos foram presos no mesmo dia. Durante o interrogatório, Salva tentou assumir sozinho a culpa. Disse que Maje não tinha envolvimento, tentando protegê-la até o fim. Mas os investigadores sabiam que estavam lidando com algo maior, e mais perverso.
Cartas na prisão e a virada de consciência
Na prisão, os dois trocavam cartas apaixonadas. Maje alimentava a ilusão de que ainda havia algo entre eles, mantendo Salva sob controle emocional. Mas o encanto se quebrou quando ele soube, pela imprensa, que ela estava tendo outros casos, inclusive com presidiários.
A gota d’água veio com um pedido da filha de Salva, que implorou para o pai contar a verdade. Em novembro de 2018, ele confessou: Maje o manipulou emocionalmente para matar o próprio marido. Segundo ele, o medo de perdê-la era tão grande que preferiu cometer um assassinato a vê-la ir embora.
O julgamento, a condenação e um novo escândalo
O julgamento aconteceu em outubro de 2020. Com mais de 50 testemunhas e provas contundentes, o veredito foi unânime: Maje e Salva foram condenados por homicídio doloso. Ela pegou 22 anos, ele, 17.
Mas a história não acabou aí. Durante a pena, Maje se envolveu com outro preso, David M. R., condenado por assassinato em 2008. Em 2023, ela deu à luz um filho dele. Hoje, ela cumpre pena na Unidade de Mães da prisão de Fontcalent e, segundo informações, criou distância de David e decidiu criar a criança sozinha.
O Jogo da Viúva está disponível na Netflix.