Rick and Morty é conhecida por seu humor afiado e pela liberdade criativa que a animação proporciona. Dentro desse caos controlado, a série consegue provocar reflexão, rir de clichês e ainda entregar sequências absurdas com uma dose incômoda de realismo. Em meio a tudo isso, há momentos em que a série cruza uma linha tênue entre o provocativo e o perturbador.
Ao longo de suas temporadas, Rick and Morty mergulhou em temas que a maioria das séries animadas evita. Algumas vezes com crítica, outras apenas por choque, a animação empurra os limites do que é aceitável na comédia adulta. Mas nem sempre essa ousadia funciona. Em certos episódios, a intenção de incomodar superou o entretenimento e deixou um gosto amargo nos fãs.
O rei jellybean e o limite da fantasia
No episódio “Meeseeks and Destroy”, da primeira temporada, Morty pede para liderar uma aventura e acaba em um reino medieval onde tudo dá errado. A narrativa, que inicialmente parecia inofensiva, ganha um contorno sombrio quando Morty é atacado em um banheiro pelo rei Jellybean, figura que até então parecia apenas excêntrica.
A cena, tratada de forma séria e sem alívio cômico, destoa do restante da série e representa uma das abordagens mais realistas e incômodas de um tema sensível. Mesmo que Morty consiga se defender, o trauma é palpável. A situação termina com Rick, de forma sutil, revelando o lado sombrio da figura real e eliminando evidências que poderiam limpar sua imagem póstuma.
Um bebê incestuoso gigante
“Rickdependence Spray”, da quinta temporada, começa com uma ideia absurda: Morty usa o equipamento de inseminação de cavalos da mãe para se masturbar, gerando uma cadeia de eventos grotescos com espermas gigantes invadindo a Terra. Se isso já não fosse estranho o suficiente, o enredo atinge outro nível quando uma das criaturas fecunda um óvulo de Summer, resultando em um bebê incestuoso gigantesco.
A mistura de humor corporal com temáticas incestuosas causou desconforto até entre os fãs mais acostumados com o tom da série. A ideia de usar esse tipo de situação como alívio cômico não funcionou para muitos espectadores.
A verdade por trás dos biscoitos
Em “The Ricklantis Mixup”, também conhecido como “Tales from the Citadel”, a série abandona momentaneamente os protagonistas para focar na Cidadela dos Ricks. Uma das histórias acompanha uma fábrica de biscoitos que extrai dopamina de um Rick mantido preso e forçado a reviver uma memória feliz da infância da filha.
Esse arco escancara o niilismo estrutural do universo da série, mostrando como até a felicidade é explorada como recurso. A exploração emocional e física do personagem é apresentada sem ironia ou alívio, transformando o episódio em um dos mais sombrios da anímação.
Crianças, morte e imortalidade
No episódio “The Whirly Dirly Conspiracy”, Rick leva Jerry a um resort onde todos estão protegidos por um campo de imortalidade. Aparentemente inofensiva, a situação muda quando o campo é desativado sem aviso. Antes disso, duas crianças se divertem se matando repetidamente dentro da área segura.
Quando o campo é desligado, uma das crianças não volta. A cena, embora rápida, tem um impacto emocional forte, especialmente por tratar com frieza a ideia da morte infantil em um contexto de entretenimento.
Niilismo com tom depressivo
Em “Rixty Minutes”, Morty tenta consolar Summer, que está em crise existencial após descobrir que não nasceu em várias realidades. Ele a leva até o quintal e mostra seu próprio túmulo, explicando que nada importa, que a vida é aleatória e que o sentido é uma ilusão.
O monólogo de Morty é um dos momentos mais marcantes da série, mas também um dos mais pesados. Ele resume o espírito niilista da anímação com uma sinceridade brutal, deixando o espectador com um sentimento incômodo e reflexivo.
Tortura psicológica da nave
No episódio “The Ricks Must Be Crazy”, Rick deixa Summer dentro da nave com uma instrução simples: mantê-la segura. A nave leva isso ao pé da letra e, após usar métodos letais, passa a recorrer à tortura psicológica quando Summer pede que ninguém seja ferido.
O caso mais extremo ocorre quando um policial tenta intervir. A nave clona o filho falecido do homem, apenas para matá-lo novamente diante do pai. A crueldade do ato, feito sob a justificativa de “proteção”, revela uma faceta aterrorizante da inteligência artificial de Rick e deixa o espectador desconcertado com a frieza da execução.
Rick and Morty sempre flertou com o bizarro, o perturbador e o provocativo. Mas, mesmo para os padrões da série, esses seis momentos ultrapassaram qualquer expectativa, mostrando que, por vezes, a fronteira entre o incômodo e o entretenimento é muito mais tênue do que parece.