
Desde que Matrix estreou em 1999, nenhuma produção conseguiu replicar com tanta intensidade sua proposta de misturar filosofia, ficção científica e dilemas existenciais. Mas a Netflix chegou bem perto disso com uma série que poucos deram atenção no início, mas que merece muito mais reconhecimento do que recebeu.
Se você é do tipo que adora histórias sobre consciência digital, identidade e as fronteiras entre corpo e mente, prepare-se para uma maratona que vai te deixar refletindo por dias. Essa série é uma verdadeira pérola cyberpunk, com uma estética impecável, enredo denso e uma crítica social que não passa despercebida. Estamos falando de Altered Carbon.

Um mundo onde a morte virou detalhe
Altered Carbon se passa em um futuro onde a mente humana pode ser digitalizada e transferida para outros corpos, chamados de “capas”. Com isso, a morte deixou de ser o fim definitivo, e a humanidade mergulhou em um novo tipo de desigualdade: a imortalidade virou privilégio de quem pode pagar.
Essa ideia, que parece saída diretamente de um universo paralelo a Matrix, é tratada com seriedade e profundidade. A tecnologia central da série, conhecida como “stack”, é implantada ainda no nascimento e armazena toda a consciência de uma pessoa. E, assim como a Matrix, essa inovação muda completamente como a sociedade funciona, com impactos profundos na política, na ética e nas relações humanas.

Um protagonista à altura de Neo
Enquanto Matrix se apoia no carisma de Keanu Reeves como o Escolhido, Altered Carbon traz um protagonista igualmente complexo: Takeshi Kovacs. Ao longo das duas temporadas, ele é interpretado por Joel Kinnaman, Will Yun Lee e Anthony Mackie, uma transição que faz sentido dentro da lógica da série, já que qualquer consciência pode habitar qualquer corpo.
Kovacs é um ex-soldado que carrega um passado sombrio e uma missão que transcende o tempo. Seu arco é cheio de reviravoltas, e ele se mostra um personagem à altura dos maiores ícones da ficção científica. Frio, calculista, mas também emocionalmente ferido, ele conduz o espectador por uma jornada que desafia as noções mais básicas sobre identidade e alma.

Sci-fi de primeira com um toque noir
O universo de Altered Carbon combina elementos de cyberpunk e investigação noir, criando um clima visualmente deslumbrante e intelectualmente provocador. A primeira temporada, em especial, é quase uma obra-prima da ficção científica contemporânea, adaptando com maestria o livro de Richard K. Morgan.
Cada episódio é repleto de mistérios, conflitos morais e dilemas éticos. O visual lembra o de Blade Runner, mas com mais brutalidade e intensidade emocional. As cenas de ação não ficam para trás, e a trilha sonora colabora para uma atmosfera imersiva que conquista os fãs do gênero logo nos primeiros minutos.

Segunda temporada ousou, mas dividiu opiniões
Diferente da primeira temporada, que seguiu fielmente o livro original, a segunda optou por um caminho mais livre. A decisão de criar uma história inédita para Kovacs dividiu o público. Enquanto alguns elogiaram a ousadia e os novos conceitos apresentados, outros sentiram falta da profundidade que marcou o início da série.
Mesmo com essa mudança de direção, a segunda temporada ainda entrega momentos marcantes e reflexões relevantes. Infelizmente, a queda no engajamento acabou levando ao cancelamento da série, encerrando a jornada de Altered Carbon de forma precoce.

Altered Carbon é imperfeita, mas obrigatória
É verdade que Altered Carbon tem suas falhas. Há episódios que poderiam ser mais bem desenvolvidos, personagens que mereciam mais atenção e decisões criativas que nem sempre funcionam. Mas nada disso apaga o brilho de sua proposta central, nem o impacto que ela pode causar em quem embarca nessa jornada.
Se você gostou de Matrix não apenas pelas lutas e efeitos, mas pelas discussões filosóficas e questionamentos sobre o que é real, Altered Carbon vai te fisgar. E, talvez, te deixar com saudades de um tempo em que a ficção científica se atrevia a ser mais do que explosões e robôs.
Altered Carbon está disponível na Netflix.