Velozes e Furiosos 11 está sendo vendido como o retorno às raízes de uma das franquias mais exageradas e adoradas do cinema de ação. Com Vin Diesel prometendo uma história mais “pé no chão”, focada nas ruas, muitos fãs ficaram animados com a ideia de rever corridas clandestinas, rachas noturnos e disputas de moral entre irmãos de volante.
Mas há uma peça nesse motor que pode travar tudo: Dominic Toretto. Sim, o personagem principal, que se tornou o rosto da saga, pode ser o maior estorvo para que o último capítulo da franquia funcione como prometido. Afinal, como criar uma história de rua com um protagonista que já beirou o nível de super-herói?
A promessa de Vin Diesel entra em conflito a realidade da franquia
Quando Vin Diesel deu a entender que Velozes e Furiosos 11 traria o tom das origens da saga, muita gente se animou. Afinal, desde o sucesso do primeiro filme em 2001, a franquia foi se distanciando cada vez mais das ruas de Los Angeles para se aproximar do impossível. De perseguições em tanques na Sibéria até carros sendo lançados no espaço, a série abraçou o absurdo com orgulho.
Só que agora, com a promessa de um desfecho mais íntimo, o desafio é grande. Como entregar uma história baseada em rachas e drama de rua se os últimos filmes transformaram Dominic Toretto em uma espécie de Capitão América de regata? É aí que a engrenagem trava, porque a própria presença de Toretto, do jeito que ele se tornou, é incompatível com a proposta de um filme “de volta às raízes”.
Toretto virou uma lenda invencível e isso destrói a tensão
Nos primeiros filmes, Dom era humano. Forte, sim, determinado, claro, mas ainda sujeito aos riscos de viver perigosamente. Com o tempo, no entanto, a franquia foi blindando o personagem de uma forma absurda. Ele já pulou de arranha-céus, enfrentou explosões de frente, quebrou concreto com os punhos e saiu ileso. Nenhum osso quebrado, nenhum arranhão.
Esse tipo de invulnerabilidade funciona bem em histórias grandiosas, quase cartunescas, como os últimos capítulos da franquia. Mas quando a proposta é voltar ao “nível da rua”, ter um personagem que parece imortal simplesmente destrói qualquer senso de perigo. Como sentir tensão em uma corrida ou em um confronto com rivais em Velozes e Furiosos 11 se sabemos que Toretto vai sair tranquilo, sem nem suar?
Além da força, Dom perdeu sua complexidade emocional
E não é só fisicamente que o personagem mudou. O Toretto dos primeiros filmes era um homem complexo, com um passado sombrio e uma moral flexível. Um anti-herói com alma, que podia ser perigoso ou protetor dependendo da situação. Só que a partir do quarto filme, esse lado cinzento foi desaparecendo. Dom virou um símbolo de moralidade, sempre certo, sempre honrado, sempre no controle.
Esse novo Dom, mais “limpo” e previsível, pode até funcionar em histórias que exigem um líder imbatível. Mas para Velozes e Furiosos 11, que quer explorar dilemas de rua, disputas pessoais e escolhas morais complicadas, ele não encaixa.
O futuro da franquia depende de um risco: abandonar a fórmula
Encerrar uma saga tão longa e lucrativa como Velozes e Furiosos não é tarefa fácil. Ainda mais quando os últimos filmes acostumaram o público a explosões, acrobacias e cenas de ação de outro mundo. Mas talvez o que realmente marque o fim da franquia com grandeza não seja a ação em si, mas a coragem de mudar.
Voltar às origens é, paradoxalmente, o movimento mais ousado que Velozes e Furiosos 11 pode fazer. Mas para isso, terá que abrir mão da invencibilidade de Toretto. Mostrar que até os maiores heróis precisam descer do pedestal para lembrar quem são de verdade. Se a saga fizer isso, o público não só vai entender, como vai agradecer.