
Viver entre dois mundos pode destruir qualquer pessoa, principalmente quando a linha entre certo e errado começa a desaparecer. É nesse limbo que acompanhamos Amaia no longa Um Fantasma na Batalha, uma agente que dedica anos da vida a uma missão que exige sangue-frio e a capacidade de abrir mão da própria identidade.
A história se torna ainda mais impactante ao revelar que cada passo de Amaia não envolve apenas espionagem, mas escolhas que custam vidas. Seu papel dentro do grupo terrorista ETA não é apenas observar: ela participa de ações violentas, carrega segredos e precisa fingir lealdade a pessoas que confiam nela.
A infiltração que muda tudo
Amaia é apresentada como uma professora na França, mas sua verdadeira identidade é Amaya Mateos Gines, oficial da Guarda Civil espanhola infiltrada há uma década no ETA, organização separatista que luta pela independência do País Basco. O objetivo da missão é se aproximar de Begona Landaburu, uma das líderes do grupo, que também comanda uma escola. É lá que Amaia entra, ganha confiança e passa a integrar a estrutura estratégica do ETA.
Com o tempo, ela começa a atuar em ações violentas e fornecer informações ao governo utilizando códigos escondidos em sacos de lixo. A pressão aumenta à medida que ela presencia e participa de ataques que tiram vidas de figuras públicas e políticas. Quando tenta se afastar da missão após um confronto que quase termina em tragédia, percebe que já está envolvida demais para simplesmente sair.
Mesmo abalada, Amaia retorna à operação quando o ETA sofre prisões em massa e precisa fugir para a França. Nesse momento, a fuga faz parte do plano da própria Guarda Civil, que quer levar o grupo para território estrangeiro para facilitar sua captura. A protagonista assume a função de motorista e passa a transportar membros importantes para esconderijos secretos.
O risco cresce e a verdade se aproxima
Enquanto conduz os terroristas, Amaia memoriza os trajetos e descobre a localização de diversos refúgios. Ela consegue informações sobre a maior base do ETA, chamada Txernobel, e repassa tudo para seus superiores. Contudo, as constantes prisões levantam suspeitas dentro do grupo de que há um traidor.
Antes que descubram Amaia, outro espião é capturado e morto brutalmente diante dela. Mesmo assim, ela continua expondo os segredos do ETA, sabendo que sua vida está por um fio. A partir daí, o filme acelera rumo ao clímax, quando Anboto, uma das líderes, inicia uma investigação interna para descobrir quem está vazando informações.
Pouco antes de chegarem até a protagonista, sua rede de apoio tenta alertá-la usando um código previamente combinado: a música “Parole Parole” tocada no rádio significaria que sua identidade foi exposta. No entanto, o aviso é enviado mais cedo do que o previsto, criando confusão e deixando Amaia com pouco tempo para reagir.
A fuga decisiva e o peso do passado
Ao perceber que o aviso é real, Amaia tenta escapar antes que o mercenário enviado por Anboto chegue até ela. A cena se transforma em uma corrida desesperada por uma floresta, que simboliza a luta pela sobrevivência e pela liberdade. Enquanto corre, o filme intercala lembranças da sua jornada, reforçando tudo o que ela perdeu ao longo dos anos.
Quando finalmente chega à estrada e consegue respirar, entendemos que a maior parte do perigo já ficou para trás. O ETA tem poucos recursos para persegui-la e seu retorno à Espanha se torna possível. Apesar disso, o destino de Amaia permanece incerto: ela pode ser protegida pelas autoridades ou abandonada, dependendo da posição de seus superiores.
As consequências para o ETA
As informações fornecidas por Amaia resultam no enfraquecimento total da organização. A chamada “Operação Mayhem” expõe os esconderijos, desarticula a logística e leva à prisão de diversos membros importantes. O filme reforça que, mesmo sem mostrar a queda completa do ETA, o grupo entra em colapso irreversível.
Anboto e Dagoki, duas das principais lideranças, são presos quase simultaneamente. Essa captura acontece em paralelo à fuga de Amaia, conectando simbolicamente o fim do grupo ao fim de sua missão. Além de destruir a estrutura do ETA, a prisão de Anboto também encerra a perseguição pessoal contra a protagonista.
O destino de Sanchez e o dilema moral
Colonel Sanchez, responsável por coordenar a infiltração e mentor de Amaia, também enfrenta consequências. Ele é acusado de tortura após ter extraído informações de um líder do ETA no passado, o que teria levado ao suicídio do prisioneiro. Isso levanta a reflexão central do filme: até que ponto é aceitável usar violência em nome da justiça?
Mesmo tendo ajudado a desmantelar o ETA, o futuro de Sanchez é incerto. É possível que suas acusações sejam mantidas para mostrar que o Estado também deve ser responsabilizado por abusos. O filme termina sem revelar se ele será condenado, deixando esse debate em aberto.