Entender o final de Tenet pode parecer impossível após uma primeira exibição. Christopher Nolan não entrega respostas fáceis, e a construção do filme parece desenhada para gerar confusão e debates. O espectador precisa se render à experiência e confiar no quebra-cabeça que se desenrola diante dos seus olhos.
Tenet exige uma entrega completa, pois é um filme que opera fora das regras convencionais da narrativa linear, invertendo causa e efeito, presente e futuro, protagonista e mentor. E é exatamente nesse caos ordenado que reside o sentido do seu desfecho.
A batalha final e a mecânica da inversão
No clímax, acompanhamos uma operação militar dividida entre duas equipes: uma seguindo a linha do tempo normal, outra invertida. A missão conjunta, conhecida como movimento de pinça temporal, permite que cada lado antecipe os movimentos do inimigo.
A meta é impedir que Sator enterre o algoritmo sob uma explosão, o que resultaria na inversão total do tempo e, consequentemente, no fim da humanidade.
Neil, interpretado por Robert Pattinson, surge como o elo entre os dois fluxos temporais. Em um gesto decisivo, ele se sacrifica para garantir que o algoritmo não seja ativado. Seu papel revela que toda a trama é, na verdade, parte de um gigantesco pincer. O protagonista não está apenas seguindo ordens, ele é o criador da missão.
O verdadeiro significado do protagonista
O personagem vivido por John David Washington nunca recebe um nome. Ele se apresenta como “O Protagonista”, um título que vai além da função narrativa. Ao longo do filme, descobrimos que é ele quem funda a organização Tenet no futuro e recruta Neil no passado. O ciclo é fechado com sua decisão de proteger Kat, mesmo sem saber ainda toda a sua importância para o plano.
Essa descoberta altera completamente a compreensão da história. O protagonista está, simultaneamente, vivendo os eventos e orquestrando-os de um ponto futuro. O tempo deixa de ser uma linha reta para se tornar um tabuleiro onde passado, presente e futuro se dobram sobre si mesmos.
O paradoxo do avô e a impossibilidade da mudança
Ao longo do filme, é sugerido que o futuro deseja destruir o passado para evitar os danos ambientais causados pela humanidade. O plano envolve o uso do algoritmo para reverter o fluxo do tempo, apagando o que veio antes.
Isso levanta a questão central do paradoxo do avô: é possível alterar o passado sem invalidar o presente que tornou a viagem no tempo possível?
Neil responde com a frase recorrente: “o que aconteceu, aconteceu”. Mesmo com acesso ao futuro, ele aceita seu destino, consciente de que já faz parte do que já ocorreu.
O algoritmo, a cientista e a origem da ameaça
O algoritmo é a chave de toda a trama. Desenvolvido por uma cientista no futuro, ele é capaz de inverter a entropia do mundo. Arrependida de sua criação, a cientista fragmenta a fórmula em nove partes, escondidas ao longo do tempo. Sator, o vilão interpretado por Kenneth Branagh, descobre os locais dessas partes e tenta reuni-las com a ajuda de informações e recursos enviados do futuro.
Seu plano, para além de destruir o mundo, também é garantir que isso aconteça no momento de sua morte, como uma forma de vingança definitiva. O futuro, por sua vez, deseja reverter o colapso ambiental causado pelo presente. No meio disso tudo, o protagonista e sua equipe tentam manter o equilíbrio.
O simbolismo do Sator Square e o ciclo do tempo
Vários nomes e elementos do filme são retirados do Sator Square, um palíndromo latino que pode ser lido de todos os lados. Tenet é, por si só, um palíndromo. O filme se inicia com uma missão na ópera em Kiev e termina com a confirmação de que aquela ação era parte de um plano muito maior, iniciado e encerrado pelo protagonista.
Esse simbolismo é refletido também nos gestos dos personagens, na repetição de eventos sob diferentes perspectivas e na estrutura espelhada da narrativa. Cada parte do Sator Square representa um personagem ou local fundamental: Sator, Arepo, Rotas, Opera e Tenet. Tudo é cíclico.
O final é sobre livre-arbítrio ou destino?
A grande questão de Tenet é se o futuro pode ser moldado ou se ele é apenas uma consequência inevitável do passado. Para Nolan, a resposta não é clara. Ele propõe uma reflexão: mesmo sabendo que o futuro já está escrito, nossas escolhas ainda importam? Neil acredita que sim, e seu sacrifício é a prova disso. Já o protagonista acredita que o conhecimento parcial é sua maior arma.
No fim, Tenet não responde de forma definitiva. Ele propõe uma filosofia: controlar o tempo é entender que a história não é imutável, mas também não é completamente livre. É nesse entrelaçamento de paradoxos, escolhas e repetições que reside o verdadeiro significado do filme.
Tenet está disponível na Netflix.